Sexta, 26 Abril 2024

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Em determinada época da minha vida, passei a ver Console quase diariamente, sempre com um sorriso e uma alegre fisionomia! O escritório dele era no mesmo prédio em que funciona a minha empresa de assessoria aduaneira e logística.


O maravilhoso transatlântico italiano Eugenio C (depois Eugenio Costa),
um dos navios mais querido dos brasileiros, entrou e saiu de Santos várias
vezes conduzido por Console. Foto: J. C. Rossini. Coleção do autor.

Além desses encontros diários, eu o via constantemente nos conhecidos restaurantes Paulista e Florença – ele saboreava todos os tipos de pratos, sem restrição, ou seja, comia de tudo, mesmo aos 88 anos de idade!

Em 24 de janeiro de 2012, Console trabalhou normalmente. Eu o vi do outro lado da calçada da Rua General Câmara, nas proximidades da Praça Ruy Barbosa, e acenei para ele, sequer me passou pela cabeça que seria a última vez que o veria com vida!

José Console entrou para a Praticagem em fevereiro de 1956, manobrou milhares de navios, de todos os tipos, de passageiros (nos anos dourados), de cruzeiros, cargueiros, belonaves, rebocadores de alto-mar e principalmente os supertanques que utilizam o Terminal Marítimo Almirante Barroso, na cidade portuária de São Sebastião.


Em 52 anos de praticagem, o prático Console manobrou milhares de
navios de todos os tipos, inclusive porta-contêineres. Foto: do autor.

Foi colega de profissão de práticos que deixaram, como ele, os nomes gravados no Porto de Santos. Entre eles, recordo de alguns como os já falecidos Gerson da Costa Fonseca, Aquiles Tacão, Edmar Boto de Mello, Teophilo Quirino, Alberto Carlos Praça,Salvador Godiho, Affonso Godinho, Frederico  Souza Bento Jr, Dino Caltabiano, Frederico S. Bento, José Domingos Silveira, Carlos Stein, Waldir da Costa Silva, Francisco Luiz de Oliveira, Celso Ferreira da Silva,Edio Portugal Marinho, Waldyr C. da Silva, Mario de Azevedo e o seu irmão Milton Console.

Entre os que os que estão na ativa ou aposentados: Fábio Mello Fontes (presidente da Praticagem) João Acioly Nogueira, Antonio Lopes, André Poyart, Pedro Pholio, Carlos Soffiat, Paulo Gonçalves Esteves, Antonio Robles Rodriguez, Cláudio Paulino, Moacyr Antonio Moreira Bezerra, Paulo Sérgio M. Barbosa e o prático mais idoso do Brasil, Raul Marinho de Mesquita (aposentado), que reside em Águas de São Pedro/SP.

Peço desculpas pela omissão de alguns nomes – a lista é longa!


Os restos do petroleiro Alina P, recebendo trabalho de
rescaldo, após terríveis explosões que o levou a pique em
dezembro/1991. Foto: Sinistros Marítimos - Costa do Estado
de São Paulo, 1900-1999, de autoria de José Carlos Rossini.

Isso sem esquecer da nova geração de práticos. Muitos foram seus praticantes.

Os práticos a bordo, em algumas ocasiões, passam por momentos difíceis, como um cabo de reboque ou de amarração que parte durante as manobras de atracação ou desatracação. Ou quando o motor ou turbina de um navio apaga, no momento exato em que se precisa dar máquinas adiante ou atrás. E até momentos de pânico, como passou José Console em uma oportunidade.

Nas palavras de Console:

“Estar a bordo de um navio por ocasião de um desastre de grandes proporções não é experiência agradável, sobretudo quando se trata de preservar vidas, como ocorreu quando desatraquei o petroleiro Alina P do píer 3 do terminal de São Sebastião, no dia 30 de dezembro de 1991.”


Fechando com chave de ouro, o inesquecível e competente prático José
Console, aos 83 anos, subindo na escada de quebra peito para bordo de
um dos milhares de navios que orientou durante sua longa carreira de
prático dos prtos de Santos e São Sebastião. Foto: L. Frangetto.
Acervo: Fábio Mello Fontes

“O destino era conduzir o navio até a Barra Sul e lá fundeá-lo. No momento de largar a âncora, ocorreu forte explosão no paiol de amarra, seguida de várias outras explosões, que provocaram violento incêndio.”

“Todos correram para a popa, único lugar seguro, e de lá se jogaram para o mar. Apesar de manchas de óleo no mar e do princípio de pânico, a lancha da Praticagem que estava nas proximidades conseguiu resgatar a mim e os tripulantes do navio – só um tripulante desapareceu devido às explosões. Cinco minutos depois, o navio o navio foi a pique.”

Esse é um dos inúmeros epsiódios do grande prático, em mais de 55.000 manobras e 52 anos de vida profissional. Console atuou até 2008, quando se aposentou.

Segundo Fábio Fontes, Console foi um excelente prático, competente, atencioso e ético.

Em homenagem e em memória a José Console, a bandeira da Praticagem ficou hasteada a meio mastro – mastro que pertenceu ao navio-escola Benjamin Constant – Marinha do Brasil, do Século XIX.

Finalizo com a frase do comandante Wanderley Duck, ao saber do passamento do comandante Console:

“Que ele agora esteja navegando em um mar de luz e paz”.

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