Beija-lhe a fronte a verde cordilheira,
Ora embuçada na hibernal neblina,
Ora envolta na pompa peregrina
Da caliptra de luz que o sol peneira.
O Cruzeiro do Sul rútilo, impera
É o manto seu que muito rei quisera...
Oh! Salve Enguaguassú, por quem desperto.
A lira nesta cântico sem brilho,
Gleba, onde a pátria encontra em cada filho
Num peito amigo um coração aberto!
Militão Júnior
No dia 26 de janeiro, a Cidade de Santos, que é agraciada com maior porto da América Latina e com belas praias, além de possuir o maior jardim do mundo a beira-mar, completou mais um aniversário da sua longa e feliz existência. Como não poderia deixar de ser, a coluna Recordar do PortoGente homenageia os 463 anos da fundação da Vila de Santos e dos 170 de elevação a cidade.
Cartão postal da Praça Mauá, local onde está situado o Marco Zero
da Cidade. Nele, é visto o Paço Municipal na época da sua inauguração,
em 1939, ano em que foi comemorado o centenário da elevação da
Cidade. Acervo: Laire J. Giraud.
* Santos e Havaí: Ondas no século 21
Para celebrarmos o acontecimento, esta coluna convida os leitores e amigos para um agradável passeio no tempo e no espaço da Cidade.
Para que isso aconteça vamos utilizar imagens de cartões-postais, por serem o retrato fiel do Município. É importante ressaltar que os postais eram, inicialmente, impressos apenas com gravuras. Com o desenvolvimento do processo de impressão e com o aperfeiçoamento das técnicas fotográficas, passaram, a partir de 1891, a exibir imagens de fotógrafos, muitos do quais ficaram famosos. Os primeiros postais com vistas de cidades brasileiras foram impressos na Europa.
Vista do Centro de Santos, fotografado do Monte Serrat. A imagem
é de 1929, quando ainda não existia o prédio da Prefeitura. À direita, é
vista a antiga Alfândega do Porto de Santos e à esquerda, além da
Bolsa do Café, é visto o prédio da Western Telegraph, que possuia os
relógios na sua torre que eram uma referência. Acervo: Laire J. Giraud
Antes deste passeio, não podemos nos esquecer de Brás Cubas, fundador da Vila de Santos e da Santa Casa de Misericórdia de Todos os Santos, no povoado do Enguaguassú.
Não se sabe ao certo a data da fundação, mas acredita-se que foi entre 1540 e 1546. A elevação a cidade foi em 26 de janeiro de 1839. A nossa história recebe um novo marco a partir dessa data, quando Venâncio José Lisboa assinou os termos da Lei Provincial nº 122, pela qual a Vila de Santos passou a Cidade.
A belíssima estação da São Paulo Railway, no Valongo, no estilo
britânico, por volta de 1926. Acervo: Laire J. Giraud
Muitos desconhecem que Santos poderia ter sido batizada com outros nomes, como Bonifácia, Cidade de Bonifácio e Andradina. Mas Santos foi o nome mantido por considerarem tradicional. Certamente, o nome faz jus à Cidade. Não poderia ser outro. Alguém já imaginou Santos com o nome de Bonifácia?
* Cartas indicam que transporte marítimo já era freqüente no séc. XVI
* Carta de 1548 já previa epidemias na Baixada Santista
Entretanto, o desenvolvimento econômico e social de Santos, não teria sido o mesmo sem o cultivo do café e o aparecimento em meados do século XIX, da estrada de ferro São Paulo Railway (SPR). Foi a primeira obra de grande envergadura da então Província de São Paulo, executada entre 1860 e 1867.
Não podemos esquecer, também, da legendária Companhia Docas de Santos (CDS), que a partir de 1892 construiu o primeiro trecho do cais organizado, dando fim aos arcaicos trapiches e pontes. Tudo isso somado aos navios a vapor, permitiu uma grande movimentação de bens agrícolas, principalmente do café em direção ao mercado internacional. Tudo isso coincidiu com o grande ciclo da imigração, fazendo da Cidade o grande portal do desenvolvimento.
A antiga Santa Casa de Santos, desativada em 1945, ficava na
Avenida São Francisco com a Praça dos Andradas. No lado esquerdo
do postal é onde hoje está o Túnel Rubens Ferreira Martins. O postal
é do final dos anos 1930. Acervo: Laire J. Giraud
Esse nosso agradável passeio pela Santos antiga tem início na área do Marco Zero (Praça Mauá), do Valongo e do Porto, segue pelo Centro Histórico, passando por diversos locais onde é conservado vestígios de um passado glorioso, que estende até os dias de hoje. Como é natural, esse nosso passeio vai terminar na Praia do Gonzaga, exatamente na região dos hotéis.
Infelizmente, algumas das coisas que vamos ver não existem mais, pois foram demolidas em nome da ganância e da especulação imobiliária. Como exemplos, temos os hotéis Internacional, Palace e Parque Balneário e o prédio da Western Telegraph, entre outros. Entretanto, muitas coisas foram preservadas das mãos destruidoras dos especuladores. Dentre elas, o Teatro Coliseu e o Teatro Guarany, duas das sete maravilhas de Santos.
A imagem do Largo do Rosário, atual Praça Rui Barbosa,
mostra o antigo prédio dos Correios (ainda existente), além de
bondes elétricos e movidos a tração animal. À esquerda da bela
edificação é a Rua General Câmara e à direita a Rua do Rosário,
atual Av. João Pessoa - 1912. Acervo:Laire J. Giraud
Recentemente, foi lançada a magistral obra da jornalista Taís Assunção Pereira, “Theatro Guarany: O Renascer de Um Palco”. O livro tem belas ilustrações e conta tudo do famoso teatro, desde seu projeto e sua triste decadência, até chegar à reinauguração. Um verdadeiro presente para Santos. Maravilha!
Este artigo é uma homenagem à Cidade, aos seus moradores e admiradores.
Parabéns Santos. Você tem muito para comemorar!
A Rua XV de Novembro, "a Wall Street santista", na época reduto do comércio exterior, na qual ficavam grande número de bancos,
agências marítimas, firmas exporadoras de café, telégrafos
internacionais, consulados, escritórios de corretores de café, a
Associação Comercial de Santos e o majestoso prédio da Bolsa do Café. Postal de 1919. Acervo: Laire J. Giraud
O cartão postal fala por si. O ouro paulista é escoado através do
Porto de Santos. Postal de 1909. Acervo: Laire J. Giraud
A imagem mostra a praia do Gonzaga, mais precisamente na área da hotelaria santista. Da esquerda para a direita, vemos a sede do antigo
Clube XV, os Hotéis Avenida Palace, dos Bandeirantes, Belvedere,
Atlântico e Parque Balneário. Na areia da praia, são vistos detalhes interessantes de banhistas e até de uma câmera de fotógrafo
lambe-lambe -1928. Acervo: Laire J. Giraud
Vista da orla da praia com poucas edificações, onde aparecem no posto
de salvamento duas sereias da época - 1950. Acervo: Laire J. Giraud