Sábado, 04 Mai 2024

Volto hoje à literatura produzida entre Santos, São Vicente e Cubatão. Agora em fevereiro, no dia 25, tivemos no Sesc Santos o lançamento de quatro títulos: “Olho por olho”, de Regina Alonso, “Hi-Kretos”, de Paulo de Toledo, “A morte de Herberto Helder e outros poemas”, de Marcelo Ariel, e “O amor é lindo”, de Ademir Demarchi.

Todos os quatro foram publicados pela Sereia Ca(n)tadora, selo concebido por Demarchi que adota os métodos artesanais de produção das editoras cartoneras e catadoras, usando papel reciclado para os miolos dos livros e papelão catado nas ruas para as capas, concebidas individualmente. Toda essa logística literária, digamos assim, torna cada exemplar um objeto único.

Somando os quatro livros, foram mais de 80 exemplares confeccionados. A eles no Sesc se juntou “O novo em folha”, de Márcio Barreto, já lançado em janeiro, de mesmo espírito, mas de capas mais sofisticadas e seriadas. Em toda a América Latina, hoje já são quase vinte selos cartoneros, sobre os quais já escrevi no Porto Literário, além de edições também já confeccionadas nos Estados Unidos e na Alemanha (onde Marcelo Ariel foi publicado na língua de Goethe e Kafka, ver aqui).

Vale destacar que fiz parte do projeto por ter criado os logotipos dos livros de Regina e Ariel e impresso os miolos dos dois. Mas registro eu mesmo o caso porque as editorias de Cultura na região não deram muita importância ao assunto além de uma nota. Que o leitor julgue a importância do projeto.

De Regina Alonso destaco o poema “Olho por olho”, que dá título à obra, uma descrição violenta e certeira de uma caçada:

O olho do pássaro fixo,
pedra vermelha na plumagem branca.

Peito enfunado
bico aberto
olho inerte

asas abertas
voo
olho imóvel

luz que arrasta água oceânica
visão de peixe
pouso
olho flecha
fisga

olho por olho!

A poesia de Toledo, por sua vez, é plástica ou visual:

Já bastante discutido neste espaço, Ariel traz um canto que dá título ao livro, além das seções de “sobras”, parcerias e traduções. Sua obra é apresentada pela poeta Beatriz Bajo. Demarchi, que também já critiquei aqui, mantém sua precisão de poema curto como em:
 

*
quem ama não pensa
obseca
*

O lançamento do Sereia Ca(n)tadora (que mora na Ilha de Urubuqueçaba) aconteceu em novembro, na Pinacoteca de Santos, com o título “Voo de identidade”, do poeta peruano Oscar Limache, em edição bilíngue traduzida por mim. Em novos artigos, falarei mais dos livros.

Referências
Regina Alonso. Olho por olho. Santos/São Vicente: Sereia Ca(n)tadora, 2011.

Paulo de Toledo. Hi-Kretos. Santos/São Vicente: Sereia Ca(n)tadora, 2011.

Marcelo Ariel. A morte de Herberto Helder e outros poemas. Santos/São Vicente: Sereia Ca(n)tadora, 2011.

Ademir Demarchi. O amor é lindo. Santos/São Vicente: Sereia Ca(n)tadora, 2011.

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