Em maio de 2006, a antiga diretoria da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) e o Ministério Público do Trabalho (MPT) firmaram um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com objetivo de inibir o tráfego de caminhões em péssimo estado de conservação pela região portuária de Santos, um problema grave que poderia causar, até mesmo, graves acidentes.
Os acessos rodoviários aos terminais situados no bairro da Alemoa, na entrada da cidade de Santos, não são adequados para o trânsito intenso de caminhões, especialmente para os que movimentam produtos perigosos. O alerta é do químico e especialista em gerenciamento de riscos, Ricardo Serpa, que prevê dificuldades para o atendimento em caso de acidentes na região. “Há um problema gravíssimo de rotas. Pela falta de acesso, se acontece uma explosão, um incêndio, o bombeiro não vai conseguir chegar. Um dia vamos ter algo mais grave”. Para Serpa, que é diretor-executivo do escritório Brasil da Itsemap – empresa de consultoria da área de segurança e gerenciamento de riscos – as fiscalizações nos veículos que transportam produtos perigosos têm que ser ampliadas para evitar acidentes em áreas urbanas.
Mas não são apenas as infrações nos equipamentos que preocupam. O responsável pelo serviço de inspeção enfatiza o grande número de motoristas que trabalham com extensas cargas horárias, gerando desgaste e possíveis falhas no trânsito. “Os transportadores têm horário a cumprir e isso acaba gerando condições inseguras. Como o tempo é curto, muitos apressam o processo”. Ele indica, ainda, a necessidade de reciclagem e treinamentos constantes para um perfeito funcionamento entre homem e máquina.
O perigo ronda as estradas paulistas. 30% das carretas e caminhões que transportam cargas perigosas pelo estado apresentam algum tipo de irregularidade. A informação é do Instituto de Pesos e Medidas (Ipem), órgão responsável por inspecionar se as características dos veículos, tanques e demais equipamentos que armazenam cargas perigosas estão de acordo com a regulamentação do Inmetro, o Instituto Nacional de Metodologia, Normalização e Qualidade Industrial. Na última semana, PortoGente já denunciou a utilização de rótulos de risco incorretos nos veículos, o que atrapalha no atendimento em caso de acidente.De acordo com o responsável pelo serviço de inspeção e capacitação de veículos no transporte de produtos perigosos do Ipem, Valdir Volpi, o sistema Anchieta-Imigrantes, que dá acesso ao Porto de Santos, é um dos locais onde a fiscalização é maior. A razão é o grande número de carretas com cargas perigosas que circulam pela região. “Realizamos fiscalizações sistemáticas em todo o estado. Mensalmente são oito fiscalizações, no mínimo”.
O acidente que matou cinco pessoas e envolveu uma carreta que transportava álcool e um ônibus municipal de Cubatão, no último dia 10, evidencia o risco ao qual a população está exposta com o transporte de produtos perigosos. Mais de cem mil caminhões que movimentam esse tipo de carga circulam em todo o País. De acordo com o comandante do 2º Subgrupamento de Bombeiros de Cubatão, Guarujá e Bertioga, capitão Sandro Correia Coimbra Magosso, o caminhão que explodiu na pista Sul da Rodovia Anchieta estava com o rótulo de risco incorreto – apontava que o veículo carregava gasolina quando, na verdade, transportava álcool. O primeiro sargento da PM, Marcio Antônio Vaz de Oliveira, confirma a informação e diz que a Polícia Militar Rodoviária se depara com constantes desconhecimentos e irregularidades durante as fiscalizações que realiza nas estradas. Questionado sobre o que teria acontecido se a carreta carregasse um produto de altíssima periculosidade como o óxido de etileno, alvo de reportagem de Portogente, ele afirma que as conseqüências “poderiam ter sido muito piores, de proporções catastróficas”.Embora somente 350 dos 70 mil acidentes ocorridos no estado de São Paulo, entre janeiro e agosto deste ano, tenham a participação de veículos que carregavam cargas perigosas, é consenso entre as autoridades consultadas pela reportagem que um único acidente é capaz de gerar uma tragédia. “Já tivemos um acidente em Juquiá (litoral sul paulista) no qual 56 pessoas se contaminaram. Só que a comunidade do local não era maior do que 90 pessoas. A proporção é muito grande. Imagina se o tombo acontecesse na região metropolitana de São Paulo, por exemplo”, destaca Vaz de Oliveira.