Sábado, 23 Novembro 2024

  Ilustração: Betto Cordeiro

Quarenta e cinco acidentes envolvendo veículos que transportavam mercadorias perigosas aconteceram no último ano nas estradas que dão acesso ao Porto de Santos e ao pólo industrial de Cubatão. Embora a média seja inferior a quatro ocorrências por mês, a fiscalização e a ação em casos de acidentes requerem muita cautela e organização para evitar mortes e danos ao meio ambiente. A tragédia com o vôo 3054 da TAM, embora envolvesse um modal diferenciado, demonstrou como um único acidente pode deixar centenas de famílias enlutadas. O marcante episódio evidenciou, ainda, inúmeras falhas operacionais até então pouco debatidas em âmbito nacional. No setor terrestre, embora nenhuma grande tragédia tenha sido registrada nos últimos anos, é fundamental que todos estejam atentos para não agir quando a “fechadura já estiver arrombada”.

 

Em casos de acidentes com cargas perigosas por via terrestre, há um processo estabelecido pela Defesa Civil para reduzir o impacto ambiental e evitar que a população sofra com as conseqüências das substâncias perigosas. A primeira corporação acionada é o Corpo de Bombeiros. De acordo com o comandante do 2º Subgrupamento de Bombeiros de Cubatão, Guarujá e Bertioga, capitão Sandro Correia Coimbra Magosso, a primeira atitude a ser tomada, assim que a equipe dos bombeiros chega ao local do acidente, é coletar a maior quantidade possível de informações, identificando o produto antes de agir. No caso do óxido de etileno (C2H4O), gás incolor altamente inflamável alvo de reportagem do PortoGente e que representa grau 4 de inflamabilidade (risco máximo), o trabalho necessita ser preciso e qualificado.

Conforme a ficha de informação da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), é necessário evitar contato com o produto e manter as pessoas afastadas da área da ocorrência em caso de vazamento. A ficha orienta a ação dos bombeiros e dos demais órgãos envolvidos nas ações pós-acidentes. O documento indica que em caso de vazamento de óxido de etileno, o procedimento deve ser “isolar e remover o material derramado; desligar as fontes de ignição; ficar contra o vento e usar neblina d’água para baixar o vapor”. Em seguida, é imprescindível depositar o produto em área aberta, evaporando-o ou queimando-o por ignição. A Cetesb, classificada pelo capitão Magosso como presença fundamental para reduzir a possibilidade de danos ao meio ambiente, deve acompanhar o processo por meio de um especialista encarregado.

 

Para que a ação tenha sucesso, Magosso destaca que é essencial a realização de vários treinamentos diários da corporação. “O bombeiro precisa estar familiarizado com a roupa, que em muitas ocasiões pode ser claustrofóbica”. Em atendimentos envolvendo o óxido de etileno, os profissionais utilizam luvas, botas e roupas de borracha butílica ou polietileno clorado, além de máscara de respiração autônoma. Esses e outros equipamentos especiais dificultam visão e mobilidade dos bombeiros, exigindo alto grau de perícia na atividade.

 

Causas
Dormir ao volante, negligência dos motoristas e deficiência no sistema de freios são apontadas por Magosso como as principais causas de acidentes no sistema viário que dá acesso à Baixada Santista. As faixas de descida da Rodovia Ancheita (SP-150) são consideradas os principais pontos de risco segundo o capitão. Ele ressalta até casos de caminhoneiros da mesma empresa que apostaram um racha e ocasionaram um acidente de grande proporção com produtos perigosos. O capitão enfatiza que os condutores desse tipo de veículo precisam de uma habilitação específica para a movimentação de produtos perigosos (Mopp). “Precisa ter um treinamento específico, o condutor com conhecimento do que está transportando”. 
 Foto: Cetesb
Devido à variedade e à grande quantidade de produtos perigosos movimentados na estradas do País, Magosso evidencia a dificuldade inicial de conhecer detalhadamente cada substância e, por conseqüência, como atuar de acordo com a composição química do produto. Dessa forma, o Corpo de Bombeiros trabalha com a classificação dos produtos perigosos, agindo de acordo com as características de cada um dos nove grandes blocos em que são classificados (como explosivos e corrosivos, entre outros). “Isso nos dá uma linha geral de procedimento. A partir daí, agimos para salvar as pessoas envolvidas ou no local de acidente e para controlar o vazamento, nessa ordem”. No caso do óxido de etileno, o controle exige ação rápida, pois o vapor é mais pesado do que o ar e pode se deslocar a grandes distâncias, afetando a qualidade do ar das comunidades próximas.

O capitão Magosso afirma também que incêndios envolvendo caminhões são “muito comuns” e por isso é preciso estar sempre atento para “qualquer produto que cause risco à vida ou ao meio ambiente”, como o óxido de etileno. A substância, além de representar altíssimo risco de inflamabilidade, ainda é razão de altos riscos de reatividade, de acordo com dados da Cetesb.

 

A complexa legislação do setor, para Magosso, é o fator que dá o tom de prevenção para os acidentes com produtos perigosos. Ele aponta que os 45 acidentes de 2006 em Guarujá e Cubatão já é um número menor do que os 67 de 2005 ou mesmo as 74 ocorrências de 2004. “A legislação atribui as responsabilidades de cada um. Ela é a prevenção”. Sendo assim, é importante cada órgão realizar a sua parte e atuar, entre si, em harmonia. No entanto, é bom não esquecer da responsabilidade dos embarcadores e dos transportadores, que muitas vezes utilizam equipamentos e veículos sem condições de atividade e ceifam vidas pelas estradas brasileiras.

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