Sábado, 20 Abril 2024

Os acessos rodoviários aos terminais situados no bairro da Alemoa, na entrada da cidade de Santos, não são adequados para o trânsito intenso de caminhões, especialmente para os que movimentam produtos perigosos. O alerta é do químico e especialista em gerenciamento de riscos, Ricardo Serpa, que prevê dificuldades para o atendimento em caso de acidentes na região. “Há um problema gravíssimo de rotas. Pela falta de acesso, se acontece uma explosão, um incêndio, o bombeiro não vai conseguir chegar. Um dia vamos ter algo mais grave”. Para Serpa, que é diretor-executivo do escritório Brasil da Itsemap – empresa de consultoria da área de segurança e gerenciamento de riscos – as fiscalizações nos veículos que transportam produtos perigosos têm que ser ampliadas para evitar acidentes em áreas urbanas.

 

A grande fonte das falhas de segurança nas estradas brasileiras, segundo ele, reside na matriz de transportes do País. Mesmo com melhoras na infra-estrutura dos modais ferroviário e hidroviário, 62% das cargas ainda são movimentadas nas rodovias. Países como Rússia, Canadá e Austrália têm essa matriz elaborada de forma mais racional, com pelo menos 40% de participação das ferrovias.

 

Serpa acredita que o Brasil precisa rever os modais utilizados. “E não é só isso. A condição da frota e dos equipamentos para transporte são fatores determinantes para evitar acidentes. Especialmente no transporte local, como pode ser visto no Porto de Santos, há veículos sem a menor condição de circular. Isso precisa ser fiscalizado. O grupo de trabalhos que organiza as ações no estado (de São Paulo), liderado pela dra. Regina Elsa, faz um ótimo trabalho, mas é muito esporádico. Precisamos acelerar os trabalhos, ainda está muito tímido”.

 

A normalização do setor de transporte de produtos perigosos no Brasil funciona de acordo com as resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU). Portanto, a legislação está à altura dos países mais desenvolvidos. Mas as verificações para inspecionar o cumprimento das leis ainda engatinham. O Instituto de Pesos e medidas (Ipem), órgão responsável por inspecionar veículos, tanques e demais equipamentos, por exemplo, realiza cerca de oito inspeções por mês nas estradas paulistas. Para Serpa, é preciso jogar mais pesado. “Para fazer cumprir regras, é preciso multar pesado os responsáveis. Temos que lembrar que o expedidor é co-responsável. É preciso também apertar o contratante para que eles pressionem os transportadores e todos fiquem cientes de suas responsabilidades”.

Com o conhecimento de quem lida com projetos de grandes multinacionais e leciona cursos de especialização em universidades, Serpa avalia que, de modo geral, as grandes empresas já têm consciência da necessidade de elaborar estudos de análise e planos de emergência. “Eles sabem que a imagem da empresa custa mais do que qualquer investimento”.

 

Contudo, o especialista indica que segmentos menores ainda apresentam graves situações de risco. “Isso acontece até porque há dificuldade de enxergar isso como investimento. Uma pequena fábrica de gelo, tipo de empresa comum na Baixada Santista, trabalha com um tanque de amônia (produto corrosivo) para alimentar a câmara de refrigeração. O proprietário pode não estar preocupado com isso, apenas em sobreviver, o que é compreensível. Mas ele tem lá funcionários manipulando gás tóxico e risco de acidentes”.

 

A amônia, inclusive, é uma das cargas apontadas por Serpa como de maior perigo das que circulam em grande quantidade Brasil afora. A categoria dos corrosivos, que pertencem ao grupo de risco número 8 (veja classificação completa), preocupa ainda pela grande circulação de soda cáustica e de derivados de cloro. Os combustíveis, devido à grande demanda nacional, também causam alerta. Substâncias inflamáveis em estado líquido, explica Serpa, podem causar um fenômeno intitulado flash. O flash é a queima rápida do produto. Quem e o que estiver na área do acidente será consumido na queima, ou seja, quem estiver envolvido ou próximo ao local em que o flash foi gerado não escapará ileso.

 

De acordo com o químico, ao se misturar com o oxigênio, basta uma simples faísca para o combustível ignizar. “Na hora em que isso acontece, há duas situações possíveis: pode explodir ou gerar o flash. Em áreas abertas, onde o vapor não estará confinado, a presença de uma fonte de ignição é gravíssima. A queima vai consumir rapidamente o vapor. No caso do flash, o perigo é para quem está perto. É um efeito agudo”.

 

Questionado sobre ações essenciais para diminuir os riscos apresentados pela circulação de produtos perigosos, Serpa listou uma série de atitudes, incluindo a redução dos acidentes de trânsito em geral. “O acidente de trânsito envolve todo o tipo de veículo, inclusive os que transportam essa carga”. Rotas para o acesso rápido aos locais do acidentes, ausentes no bairro da Alemoa, também são consideradas imprescindíveis pelo especialista. “Imagine uma ocorrência grave como um vazamento, um incêndio. Temos que estar preparados para medidas rápidas de evacuação”.

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