O mecânico Marcos André Oliveira Araújo morreu, no último dia 22, após sofrer um acidente a bordo do navio de longo curso Castle Island, no Porto de Vila do Conde (PA). Araújo, que chefiava a casa de máquinas da embarcação, foi arremessado nas águas do Rio Pará. Ele estava sem colete de proteção e utilizava apenas botas próprias para a função. O corpo do trabalhador de 30 anos foi achado somente no último sábado (24), mais de 40 horas após a ocorrência. Um outro trabalhador também foi arremessado ao rio e teve uma perna fraturada. Ao contrário de Araújo, ele utilizava o colete de proteção individual na hora do acidente, equipamento que o ajudou a sobreviver.
Em maio de 2006, a antiga diretoria da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) e o Ministério Público do Trabalho (MPT) firmaram um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com objetivo de inibir o tráfego de caminhões em péssimo estado de conservação pela região portuária de Santos, um problema grave que poderia causar, até mesmo, graves acidentes.
Os acessos rodoviários aos terminais situados no bairro da Alemoa, na entrada da cidade de Santos, não são adequados para o trânsito intenso de caminhões, especialmente para os que movimentam produtos perigosos. O alerta é do químico e especialista em gerenciamento de riscos, Ricardo Serpa, que prevê dificuldades para o atendimento em caso de acidentes na região. “Há um problema gravíssimo de rotas. Pela falta de acesso, se acontece uma explosão, um incêndio, o bombeiro não vai conseguir chegar. Um dia vamos ter algo mais grave”. Para Serpa, que é diretor-executivo do escritório Brasil da Itsemap – empresa de consultoria da área de segurança e gerenciamento de riscos – as fiscalizações nos veículos que transportam produtos perigosos têm que ser ampliadas para evitar acidentes em áreas urbanas.
Mas não são apenas as infrações nos equipamentos que preocupam. O responsável pelo serviço de inspeção enfatiza o grande número de motoristas que trabalham com extensas cargas horárias, gerando desgaste e possíveis falhas no trânsito. “Os transportadores têm horário a cumprir e isso acaba gerando condições inseguras. Como o tempo é curto, muitos apressam o processo”. Ele indica, ainda, a necessidade de reciclagem e treinamentos constantes para um perfeito funcionamento entre homem e máquina.
O perigo ronda as estradas paulistas. 30% das carretas e caminhões que transportam cargas perigosas pelo estado apresentam algum tipo de irregularidade. A informação é do Instituto de Pesos e Medidas (Ipem), órgão responsável por inspecionar se as características dos veículos, tanques e demais equipamentos que armazenam cargas perigosas estão de acordo com a regulamentação do Inmetro, o Instituto Nacional de Metodologia, Normalização e Qualidade Industrial. Na última semana, PortoGente já denunciou a utilização de rótulos de risco incorretos nos veículos, o que atrapalha no atendimento em caso de acidente.De acordo com o responsável pelo serviço de inspeção e capacitação de veículos no transporte de produtos perigosos do Ipem, Valdir Volpi, o sistema Anchieta-Imigrantes, que dá acesso ao Porto de Santos, é um dos locais onde a fiscalização é maior. A razão é o grande número de carretas com cargas perigosas que circulam pela região. “Realizamos fiscalizações sistemáticas em todo o estado. Mensalmente são oito fiscalizações, no mínimo”.