Pobre Brasil, artigo assinado pelo diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, e publicado em O Estado de São Paulo, em 5 de maio último, é uma chuva de meias verdades que não dá para ser levada a sério. Mesmo usando esse tipo de declaração por suas convicções equivocadas ou interesseiras, na medida que tem parte de realidade, a meia verdade engana mais que a mentira.
Processo de privatização da Eletrobras é conduzido por Moreira Franco,
ministro citado em delações premiadas. Foto: José Cruz/ Agência Brasil.
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Pobre brasil
O texto carece de referencial e de um sistema de coordenadas para lhe localizar na conjuntura e contexto brasileiros. O estado moderno fiscalizador e regulador que Pires apregoa já existe no País. Há pouco tempo, diretores da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Anta) foram denunciados de atuarem de forma abusiva e pessoal em decisões estratégicas. Opinião mais abalizada que a do diretor da CBIE sobre regulação tem o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) que disse haver indícios de uma "ação de mafiosos" dentro da agência.
Ao falar que a Lava Jato mostrou que os verdadeiros proprietários da Eletrobras sempre foram os políticos e os sindicatos, omitiu que a corrupção a que ele se refere é um triunvirato, do qual também fazem parte empresários-investidores criminosos, como bem demonstrou Marcelo Odebrecht. Enquanto se observar a lâmpada no teto de dentro do trem em movimento, de fato ela está sem movimento para ele. Por isso, suas teses são muito desorientadas e planas, em um mundo global.
Por óbvio o Brasil deve ter uma visão multilateral, suficiente e madura para bem acolher capitais privados interessados em investir principalmente em infraestrutura. Afinal, estamos falando de um País que esta semana foi demonstrar nos Estados Unidos aviões movidos à energia elétrica e, portanto, não se ilude com discursos simplistas, como o do diretor do CBIE.
Defender a privatização do setor energético nacional conduzido pelo ministro Moreira Franco, citado nas delações premiadas dos executivos da Odebrecht, é falta de referência e consideração com a inteligência da sociedade brasileira. É subestimar muito a capacidade de reflexão, até de um gato angorá.
Ante este cenário, é bem provável que Paulo Francis se vivo e ao ler o artigo do diretor da CBIE, voltaria a dizer sua célebre frase que o Brasil optou por ser pobre.