Quinta, 21 Novembro 2024

O turismo brasileiro se apoia no desenvolvimento de eixos integrados, que reúnem várias cidades com uma única vocação: assim temos o Circuito das Águas no estado de São Paulo, a Rota dos Vinhos, diversos roteiros litorâneos, passeios pelas montanhas e outros roteiros existentes numa infinidade de regiões cobertas pela malha rodoviária.

Para integrar essas diversas localidades brasileiras, onde o acesso por via aérea é mais complicada ou inexistente, a responsabilidade única e exclusivamente fica a cargo do turismo rodoviário, aquele realizado por ônibus e micro-ônibus. Esse modal é o meio de transporte com preços mais acessíveis e que nos fazem chegar a lugares mais remotos e com uma diversidade de opções de lazer e cultura. Também é o meio de transporte preferido por grupos, muitas vezes em excursões de turismo.

Acontece que no Brasil, operar esse tipo de transporte acarreta inúmeras complicações tanto para a transportadora turística como para o passageiro. Em primeiro lugar, porque lidamos não só com o lazer das pessoas, mas com vidas humanas. E essas requerem um maior cuidado na operação, seja na questão segurança, no quesito conforto ou no atendimento personalizado.

Outro fator importante é a condição estrutural das estradas, a maior parte da malha viária brasileira está em péssimas condições. Se houvesse mais investimento em nossas rodovias, muitas vezes em completo estado de abandono, certamente haveria um crescimento exponencial do turismo regional, com exceção ao Estado de São Paulo, cuja malha viária é excelente, ao menos nos principais eixos. A falta de planejamento urbano também é mais um dado que incomoda a quem viaja. Muitas cidades querem ser contempladas pelos benefícios do turismo, mas não se atentam para a infraestrutura necessária para receber o turista que chega em grupos.

Muitos municípios não têm locais adequados para embarques e desembarques nos pontos turísticos, a sinalização é precária, não possuem estacionamentos próprios para os ônibus de turismo e, acreditem, não planejam sequer a altura do portal para que os veículos mais altos adentrem na cidade. Outros como São Paulo, por exemplo, criam restrições tais, como horários de circulação e a instalação de equipamentos caríssimos, que simplesmente impossibilitam o acesso do turismo rodoviário eventual.

A clandestinidade também é outro item agravante. Como não existe um número suficiente de agentes de fiscalização para controlar a ação dos irregulares, proliferam em todo País as rodoviárias alternativas e empresas fraudulentas, que vendem serviços turísticos a preço de banana e lesam o consumidor, porque não entregam o que prometem e ainda comprometem a qualidade do turismo rodoviário como um todo.

A legislação aplicada ao setor é muito mais pautada por exigências que visam impedir, de forma passiva, o transporte regular clandestino do que incentivar ou simplesmente atender a evolução do mercado turístico.

A fiscalização dos clandestinos é pequena. A falta de fiscais faz com que o Estado, de uma maneira geral, tenha que se valer, para essa função, das polícias militares e rodoviários, cujos agentes foram preparados apenas para a repressão à criminalidade e que não têm o tato adequado para lidar com o turista. Não raramente, adentram nos ônibus de turismo usando armamento pesado, acordando passageiros em plena madrugada para exigir documentos e para revistar bagagens. Conclusão: todos os anos os setores de turismo investem milhões de reais para atrair turistas e, com frequência, eles acabam perdendo horas preciosas de passeio em operações de fiscalização nas estradas, provocando medo e má impressão. Todas essas dificuldades acabam por afugentar investimentos preciosos para o turismo rodoviário, tanto da iniciativa privada quanto do poder público.

A tendência para o desenvolvimento do turismo rodoviário no País passa pela ampliação e pela garantia de manutenção da malha rodoviária, pelo aumento da infraestrutura nas localidades para receber os veículos turísticos. Também requer mais comprometimento dos setores públicos nas soluções dos problemas de fiscalização e legislação, além de apoio aos transportes considerados prioritários para a promoção das rotas turísticas nacionais e pela criação de incentivos aos investidores para a melhoria do transporte rodoviário. A Copa do Mundo é em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Teremos tempo para ajeitar tudo até lá?

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