Acompanhar o noticiário econômico em tempos de pandemia é uma atividade estressante. A intensa assiduidade às novidades jornalísticas foi, inclusive, desincentivada por conta de seu potencial em aumentar a ansiedade, em fala do ministro da Saúde recentemente defenestrado.
Porém, a questão sobre o dia seguinte (e sobre o presente também!) é inevitável. Já se delineiam políticas de auxílio social, postas em prática. Mais recentemente, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES) declarou que um pacote de ajuda a grandes empresas pode atingir até dez setores da economia nacional.
Medidas de alívio são necessárias no presente momento, mas a promessa de investimento produtivo nunca foi tão valiosa. Os projetos de infraestrutura no Brasil podem ser um estímulo importante. Há 70 projetos de investimento em transportes do Ministério da Infraestrutura previstos para serem implantados, movimentando investimentos de aproximadamente R$ 30 bilhões nos próximos três anos e geração de 1 milhão de empregos. As obras já têm projetos executivos e licenciamento ambiental, mas aguardam liberação de recursos.
Foto: Porto de Galinhas/PE - Arquivo Portogente
Também há a possibilidade de explorar vias de imenso potencial. Por exemplo, empresários do ramo de jogos já visitaram o Brasil prospectando essas possibilidades e fazem pressão política para a liberação. O negócio pode trazer benefícios econômicos, caso seja bem implantado. Um exemplo familiar é Portugal, com seu famoso Casino Estoril – operado pela ESC Online. Em 2019, a receita com cassinos territoriais por lá foi de € 319,3 milhões.
A precariedade de infraestrutura é um obstáculo fundamental tanto para a logística quanto para o turismo no Brasil. Desses dois setores, o último é sub explorado, apesar do grande potencial atrativo natural e cultural do País.
De acordo com estimativa da FGV Projetos, o PIB do setor hoteleiro brasileiro deve cair de 39% em 2020, para R$ 165,5 bilhões. O mesmo órgão estima recuperação sensível em 2021, para R$259,4 bilhões – patamar ainda abaixo dos R$270,8 bilhões registrados em 2019.
A questão é delicada porque a indústria do turismo traz em si o setor hoteleiro, e está atrelada a outras áreas da economia, como a da infraestrutura rodoviária e aeroportuária, e do entretenimento. É uma questão complexa, em que a perda em uma ponta causa consequências na outra, num círculo vicioso.
A projeção leva em conta a queda de renda do brasileiro prevista para durante e depois da pandemia. Uma boa influência sobre esse aspecto seria um incentivo ao crédito tanto para o setor quanto para os consumidores.
No entanto, outros aspectos necessários de se endereçar são a construção de infraestrutura e a atração de turistas estrangeiros.
A questão dos vistos
A flexibilização dos vistos para norte-americanos, canadenses, japoneses e australianos, tomada a partir de 2017, trouxe benefícios para a indústria do turismo nacional. Em fins de 2017, os vistos passaram a ser tirados eletronicamente e isso gerou crescimento de 40% nos pedidos de visto para o país.
Em março de 2019, o Presidente aprovou um decreto do Ministério do Turismo isentando essas nacionalidades de visto turístico. A Polícia Federal registrou um aumento de 16% na entrada de turistas norte-americanos, australianos e canadenses no segundo semestre do mesmo ano.
Complexos hoteleiros e turismo ecológico
Alguns eventos culturais e recreativos atraem turistas para destinos brasileiros. O Carnaval no Rio de Janeiro e na Bahia são os mais conhecidos. O Festival Folclórico de Parintins é outra atração turística menor, mas marcante do país.
No entanto, essas festas têm a desvantagem da sazonalidade para aquecer o ramo turístico. Nesse contexto, ofertas permanentes de espetáculos e entretenimento atreladas à hospedagem são alternativas para atrair clientela.
O principal exemplo de opções perenes de entretenimento são os complexos hoteleiros com cassinos. As iniciativas de lei pela regulamentação dos jogos de azar em território nacional existem e tramitam no Congresso Nacional. Citamos o exemplo de Portugal e temos também o Uruguai, outro país em que os cassinos geram uma bela arrecadação: US$204,3 milhões – nada mal para o porte populacional e geográfico do país.
Além dos complexos hoteleiros com entretenimento, a alternativa do turismo ecológico é profundamente rica num país como o Brasil. Apesar de não comportar empreendimentos de tão grande porte, devido ao impacto ambiental, esse tipo de negócio tem como vantagem estimular a preservação e a atividade comercial e econômica locais.
O turismo de observação de onças é uma especialização curiosa desse segmento: esse exemplo do turismo de contemplação da biodiversidade é comum no Centro-Oeste do país desde os anos 2000. Estima-se que apenas essa modalidade de turismo movimente cerca de R$25 milhões por temporada, entre junho e outubro.
Os dados mais recentes de viajantes estrangeiros ingressando no país, compilados na Demanda Turística Internacional, registram 6,6 milhões de chegadas internacionais no país inteiro. Comparativamente, a cidade de Barcelona sozinha recebeu 12 milhões de turistas em 2019. Um incremento de publicidade e uma visão mais ambiciosa podem fazer a diferença num momento de reestruturação.