Domingo, 24 Novembro 2024

Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)

Não bastassem a alta carga tributária, os elevados encargos trabalhistas, os juros elevados, o baixo nível de investimento, o alto custo da energia, a desastrosa política de comércio exterior e a falta de investimentos em infraestrutura que caracterizaram os últimos 15 anos, mais um fator aparece para tirar a competitividade da economia: o crescimento acelerado dos níveis de roubo de cargas. Nas rodovias do Estado de São Paulo, por exemplo, o roubo de cargas, especialmente de alimentos, bebidas, eletrodomésticos e remédios, cresceu de forma assustadora, registrando seguidas altas desde abril de 2016.

Segundo dados da Secretaria estadual de Segurança Pública, de janeiro a junho deste ano, foram registrados 5.417 crimes dessa natureza, um número 23% superior ao do mesmo período de 2016. No País, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), os ocorrências de roubo de carga subiram 86% nos últimos seis anos, deixando um rastro de prejuízos avaliados em mais de R$ 6 bilhões desde 2011.

Como se sabe, os números de roubo de carga estão diretamente ligados aos desafios do comércio mundial e constituem um dos maiores fatores que elevam os custos logísticos no País, pois não basta computar apenas as perdas, mas a vulnerabilidade do transporte que acaba por aumentar sobremaneira o seguro. Além disso, a violência nas estradas acaba por provocar prejuízos para toda a população, pois as empresas são obrigadas a aumentar o preço dos seus produtos para compensar as perdas e os gastos com a proteção de seus caminhões e motoristas.

A falta de infraestrutura adequada para a armazenagem da safra brasileira de grãos também contribui para o aumento da criminalidade nas estradas, pois, sem armazéns em número suficiente, os produtores são obrigados a despachar a um só tempo toda a sua safra, o que acaba por congestionar portos e rodovias. Ou seja, a colheita de grãos acaba ficando armazenada em caminhões estacionados à beira das estradas. Tudo isso acaba por tumultuar o tráfego nas rodovias, prejudicando também as atividades das demais empresas que dependem do comércio internacional.

Para piorar, desde pelo menos 2013, as autoridades estaduais e municipais vêm discutindo ações efetivas de combate à criminalidade e violência nas rodovias, mas até agora poucas ações práticas saíram do papel, sendo notórios não só a fragilidade do policiamento nas estradas como os poucos resultados obtidos no combate à receptação das mercadorias roubadas. Afinal, se os criminosos não tivessem tanta facilidade para “desovar” o produto do roubo, não haveria tanta violência nas rodovias.

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