O segundo ato do ano contra o aumento das tarifas do transporte público foi impedido de sair da Praça do Ciclista; pelo menos sete pessoas ficaram feridas, segundo socorristas. Confira vídeo e imagens
Por Helô D’Angelo - Revista Fórum
Nesta terça (12), mais um ato convocado pelo Movimento Passe Livre (MPL) foi duramente reprimido pela Polícia Militar. Até o fechamento desta nota, a manifestação seguia acontecendo de forma dividida, com focos na Praça Roosevelt e no centro. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, foram 2 mil pessoas nas ruas neste ato – o MPL ainda não havia divulgado a sua contagem.
Durante a concentração na Praça do Ciclista (próximo ao cruzamento da Avenida Paulista com a Rua da Consolação), a partir das 17h, os participantes foram chegando e se organizando de forma pacífica: coletivos estudantis, grupos políticos e alunos secundaristas – que participaram das ocupações das escolas no ano passado.
A polícia, porém, se organizou em forma de cordão, cercando o local e deixando apenas um acesso liberado, pela Rua da Consolação. A PM e a Rota também barravam as ruas transversais à Consolação e barricavam os metrôs, revistando todos que saíam deles. Nessa configuração, os manifestantes seriam obrigados a realizar o ato apenas na Consolação.
“Se houver confronto, não tem para onde fugir, a polícia fechou todos os acessos”, argumentou uma das participantes, que preferiu o anonimato. A organização do ato, então, estendeu a faixa de abertura da passeata em frente ao acesso à avenida Rebouças, mostrando que eles pretendiam seguir até o Largo da Batata. Neste momento, um estudante secundarista foi preso pela polícia por suposto porte de arma – uma corrente de prender bicicletas. A tensão era grande.
Os manifestantes, então, sentaram-se e começaram o jogral. As frases: “Não vamos parar até a última catraca”, “sem violência”, “pela liberdade de ir e vir”.
A repressão começou por volta das 19h30, quando os participantes do ato se levantaram e tentaram passar pelo cordão policial, com as palavras “Deixa passar a revolta popular”. Sem conseguir vencer o bloqueio, os manifestantes decidiram seguir pela rua da Consolação, como havia sido combinado. A PM, no entanto, começou a lançar bombas de efeito moral e gás lacrimogênio contra a população, que se dispersou momentaneamente. De acordo com o MPL, mais de setenta pessoas foram presas neste momento.
Uma das manifestantes que estava na linha de frente conta que “os policiais ficaram com o orgulho ferido e foram para cima da gente. Uma bomba dessas poderia abrir a barriga de alguém”. Alguns PMs reclamavam que o MPL não estava mantendo o trajeto combinado. “Nós vamos seguir a Constituição”, disse um deles. Vitor Santos, porta-voz do movimento, respondeu: “Nós temos a liberdade de ir e vir”. As bombas também atingiram a imprensa, ferindo pelo menos um câmera e um repórter.
Além deles, ao menos setes pessoas ficaram feridas na Consolação, de acordo com informações do Grupo de Apoio ao Protesto Popular (GAPP). Um dos feridos, um morador de rua chamado Marcos, disse que estava tentando socorrer um jovem espancado pela polícia. “Me disseram para eu sair de lá sair, e, quando eu estava saindo, jogaram uma bomba no meu pé. Não faço nada, só cato latinhas”, conta. Um outro manifestante, o metroviário Heber Veloso, levou um golpe de cassetete na cabeça. “Só consegui sair vivo porque me arrastaram de lá. Me bateram de graça”.
O ato, então, se dividiu, mas não parou. Mesmo entre os estalos das bombas, às 20h ainda era possível ouvir a Fanfarra do M.A.L. tocando enquanto descia a Consolação. Segundo manifestantes, parte foi para a República e parte foi para a Praça Roosevelt – nos dois lugares, a repressão continuou, firme e violenta. Em frente à prefeitura, os policiais realizaram o “caldeirão de Hamburgo”, uma tática internacionalmente proibida que consiste em cercar os manifestantes e prender todos. Quando a maior movimentação acabou na Paulista, por volta das 21h, a PM se retirou sob uma torrente de insultos e de aplausos irônicos.
Segundo o MPL, as manifestações não vão parar . O objetivo é evitar o aumento da tarifa dos transportes públicos de R$3,50 para R$3,80. De acordo com o movimento, o próximo ato, que acontece no dia 14, terá duas concentrações – uma no Largo da Batata e a outra no Theatro Municipal. “Vamos todos fortalecer essa luta pulverizando ações pela cidade. Some-se a essa luta. Feche uma via ou um terminal. Fortaleça os atos, mas lembre que a luta tem que acontecer em todos os espaços da cidade.”
Confira as fotos do ato desta terça-feira:
- “Lute como uma garota” nos cartazes das alunas secundaristas que apoiavam o ato: “Estamos com os trabalhadores”
- O irmão Agostinho, da Comunidade Vozes dos Pobres, em protesto: “Nós temos o direito de nos manifestarmos, embora esse direitosempre seja visto como subversivo”
- “Estamos todos juntos nessa luta”, dizem os integrantes do Coletivo Pedras e Poemas do curso de Direito da PUC-SP