Terça, 16 Dezembro 2025

Opinião | Carlos Magano

Engenheiro Civil, ex-funcionário de carreira e ex-diretor de operação do Porto de Santos

Carlos Magano

O Porto de Santos e a Geopolítica Velada

A revogação das sanções da Lei Global Magnitsky impostas pelo governo Trump ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, parece ser um evento de política externa distante do cais do Porto de Santos. No entanto, em um complexo logístico que é o espelho da economia brasileira, essa decisão ressoa, simbolicamente, no debate mais quente do setor: o leilão do STS-10 (Tecon Santos 10).

A conexão entre a diplomacia em Washington, o Supremo Tribunal brasileiro e o maior arrendamento portuário do país é, essencialmente, uma leitura sobre risco e concorrência.

A estratégia dos irmãos Batista: blindagem global e oportunidade local

A JBS, controlada pela J&F dos irmãos Batista, surge como um potencial player decisivo no leilão do STS-10. Não por acaso.

A proximidade com Trump

Os Batista buscam há anos blindagem política e comercial nos Estados Unidos após escândalos de corrupção. O bom trânsito com o ex-presidente Donald Trump não garante um terminal, mas minimiza o risco de sanções e investigações que poderiam comprometer a capacidade financeira de um investimento estimado em R$ 5 bilhões. Em um setor intensivo em capital como o portuário, a saúde financeira global é a base de qualquer lance competitivo.

O leilão bifásico (STS-10)

A grande oportunidade para a JBS está na decisão técnica do TCU e da ANTAQ. O modelo aprovado para o leilão do STS-10 veda a participação de empresas já controladoras de terminais de contêineres no Porto de Santos, como Maersk/MSC e CMA CGM, com o objetivo explícito de quebrar o oligopólio que domina mais de 80% do mercado santista.

Ao restringir os incumbentes, a regra abre espaço para novos players — como a JBS Terminais — que, em condições normais, teriam enorme dificuldade de competir com os grandes grupos logísticos globais já instalados. Nesse contexto, a JBS desponta como favorita não por lobby político, mas por aderir ao critério de maior concorrência definido pelo órgão regulador brasileiro.

O fim da sanção: um sinal de estabilidade para o setor

A retirada da sanção Magnitsky não altera diretamente a planilha de custos do porto, mas seu significado político é altamente relevante para a logística e para os investimentos em infraestrutura.

A Lei Magnitsky, que pune indivíduos por corrupção e violação de direitos humanos, carrega um risco de contaminação reputacional, tornando potencialmente “tóxicos” para o sistema financeiro global setores ou empresas associadas, ainda que de forma indireta, aos sancionados.

A revogação do ato diplomático sinaliza um desanuviamento geopolítico. Elimina um ponto de instabilidade que poderia respingar, mesmo remotamente, em grandes projetos de infraestrutura dependentes de bancos e seguradoras internacionais. Trata-se de um endosso implícito à resiliência institucional brasileira e de um fator que contribui para um ambiente de negócios mais previsível — exatamente o que investidores portuários buscam.

O leilão do STS-10 não é apenas uma disputa técnica ou regulatória: é um divisor de águas para o futuro da concorrência no Porto de Santos. A regra bifásica, ao impedir a participação dos gigantes já instalados, abre espaço para novos players e, sobretudo, para a JBS — que desponta como o campeão nacional capaz de investir com a celeridade exigida pelo mercado.

Caso esse modelo não prevaleça, a derrota não será apenas da JBS, mas também do próprio governo federal, que aposta em grandes investimentos como instrumento de política econômica, especialmente em um contexto eleitoral.

O Porto de Santos precisa de investimento robusto e rápido. Desde que essa premissa seja atendida, o modelo do leilão torna-se secundário.

Carlos Magano
Engenheiro Civil, ex-funcionário de carreira e ex-diretor de operação do Porto de Santos

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