Posta à prova com as dificuldades para o comércio internacional criadas pelos Estados Unidos desde janeiro, a criatividade do empresariado nos dois lados do Atlântico está “a todo o vapor”. Dois portos de águas profundas, nos pontos mais favoráveis dos respectivos países, aceleraram o preparo de nova opção logística para o transporte marítimo entre América do Sul e Europa: Sines, no Sul de Portugal, e Suape, no Nordeste brasileiro.
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Lembrando: há uma promessa no ar de que, agora no dia 20/12, sai enfim (será?) o acordo entre Comunidade Europeia e Mercosul, aguardado há mais de 25 anos. O leitor saberá juntar os dois temas e imaginar o cenário que podemos ter em breve. Aliás, fique o registro: Sines também conversa ativamente com outros portos brasileiros, de Santa Catarina ao Ceará e além... – e também da África, da Ásia e da própria Europa, entre outros...
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Da mesma forma que Suape, o Porto de Sines é de águas profundas (podendo receber navios de até 350 mil toneladas) e “líder nacional na quantidade de mercadorias movimentadas”, sendo também “o porto português que mais contentores movimenta” (1,9 milhão de TEUs em 2024, ocupando a 14ª posição no Top 15 dos maiores portos de contêineres da União Europeia).
Criado em 1978 (outra coincidência: mesmo ano que o pernambucano), na região do Alentejo (no distrito de Setubal, a 160 km da capital Lisboa), livre de pressões de expansão urbana (mesma vantagem de Suape), Sines tem garantida assim por longo prazo a sua capacidade de expansão. E conta com plano de expansão rodoferroviária.
Da mesma forma que sua contraparte brasileira, inclui na sua retaguarda uma Zona Industrial e Logística com mais de 2.000 hectares que já funciona como uma plataforma logística de âmbito internacional, “com capacidade para receber os grandes atores dos setores marítimo-portuário, industrial e logístico”.
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Do mesmo modo que Suape, Sines também partilha “características que facilitam esta aproximação. Zonas industriais extensas, infraestruturas modernas e um papel crescente em setores emergentes associados à energia e à sustentabilidade” (leia-se, por exemplo: hidrogênio verde, apelidado de ‘combustível do futuro’, e outras fontes renováveis).
Frisando: “do mesmo modo que Suape”..., pois, como declaram ambas as autoridades portuárias, “esta afinidade operacional tem sido um dos argumentos principais para o estreitar da relação”.
Já em visita anterior ao porto luso, três anos atrás, os representantes de Suape destacavam semelhanças como a localização estratégica, o espaço para futuras expansões e os planos para o setor energético: “Os dois operam granéis, têm projetos de instalação de usinas de hidrogênio verde e pretendem digitalizar seus processos”.
E acrescentam: “Sines tem vindo a afirmar-se como plataforma de redistribuição para múltiplos mercados europeus. A integração de Suape neste circuito poderá potenciar novas rotas comerciais e dar maior fluidez ao escoamento de produtos brasileiros”. Recado dado...
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... e recado anotado: empresários brasileiros já estão atentos para o potencial da parceria na exportação de frutas – uma das vocações de Suape desde seu início –, que poderá transformar o litoral pernambucano num ‘hub’ logístico e industrial de recepção, processamento e distribuição desses produtos (manga, melancia, uva, mamão), valendo-se da proximidade marítima com Sines, que significa menor tempo de travessia marítima, algo muito importante para o mercado de frutas frescas.
A Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (ABTRA) lembra que, em abril de 2024, o Porto de Sines firmou um protocolo com a Abrafrutas – que representa cerca de 80% das exportações brasileiras de frutas frescas –, pensando naquele ‘hub’ pernambucano, que poderia “abastecer, de forma mais direta e eficiente, os mercados da Península Ibérica, norte da África e outros destinos da União Europeia”.
Detalhe: a interlândia de Suape, neste caso, se estenderia ao Vale do São Francisco, cujas frutas hoje são escoadas por outros portos nordestinos.
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Durante a Intermodal South Amrica 2025, realizada em São Paulo, o porto de Sines foi promovido oficialmente como ‘gateway’ europeu para cargas brasileiras, reforçando seu posicionamento como elo estratégico no comércio transatlântico”, citou a ABTRA.
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Claro, as conversações começaram recentemente (em julho de 2022), mas os participantes estão bem otimistas: a iniciativa poderá “consolidar Sines como principal interface atlântica da União Europeia e reforçar a presença econômica do Brasil no espaço europeu”, como citou o luso Portal do Mar.
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Foto: divulgação/Porto de Sines








