O Ministério Público Federal identificou “indícios robustos” de superfaturamento nas obras da Adutora do São Francisco, em Sergipe. O empreendimento já consumiu R$ 200 milhões, a maior parte liberada pela União por meio de convênio com o governo sergipano. O dinheiro foi parar na conta da Construtora Gautama, de Zuleido Veras, alvo da Operação Navalha.
O maior volume de repasses ocorreu em 2004: o governo João Alves Filho (DEM) liberou cerca de R$ 100 milhões para a Gautama. “Essa obra é escandalosa”, afirmou o procurador da República Paulo Gustavo Guedes Fontes. “São muitos os indícios de irregularidades.”
A adutora é uma das obras incluídas pela Polícia Federal no suposto esquema. A PF prendeu João Alves Neto, filho do ex-governador. Ele teria recebido R$ 330 mil de Zuleido.
A Gautama foi contratada pela Companhia de Saneamento de Sergipe, que deu a obra por terminada em dezembro. Notas fiscais descobertas pelo Ministério Público revelam que a companhia pagou 82% a mais pela tubulação. Cada peça - um metro de comprimento por um de diâmetro - custou R$ 1.728,07 ao governo, mas R$ 951,35 à Gautama. Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) aponta sobrepreço de R$ 6,26 milhões apenas na compra de tubos.
O procurador demonstrou indignação com a possibilidade de Zuleido ser solto. “Corrupção tem de dar cadeia. E rápido. Justiça tardia é justiça falha”, disse. “Se há provas robustas, se o crime é grave, o réu tem que permanecer preso, mesmo estando o processo em curso. Do contrário vai destruir provas, ameaçar pessoas, chantagear, enfim, tornar mais difícil e incerta a punição. E quanto maior seu poderio econômico, mais nociva ao processo será sua permanência em liberdade.”
“A Gautama criou uma máquina de corrupção que se estendia por todo o País”, afirmou. “O TCU está repleto de processos contra a empresa, mas não conseguiu domar a fera. Em Sergipe, as obras de uma adutora, eivadas de irregularidades, já custaram R$ 200 milhões. As provas obtidas na Operação Navalha são estarrecedoras. Se soltarmos Zuleido, vai parecer que o Brasil não tem direito, não tem Justiça, não tem jeito.”
Fonte: O Estado de S.Paulo - 24 MAI 07