Quarta, 05 Fevereiro 2025

O avanço da criminalidade e da violência está provocando um efeito profundo no mercado de trabalho. Empregos ligados direta e indiretamente à segurança foram os que mais cresceram nas duas últimas décadas nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro no setor formal, segundo levantamento do economista Márcio Pochmann, com base na Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho.

Em São Paulo, este conjunto de ocupações saiu de 3% do total em 1985 - ou 95,6 mil postos de trabalho - para 8,8% em 2005 - 446 mil. O salto foi de 366,5%, muito maior do que o crescimento de 59,6% do total de empregos formais. No caso do Rio, os empregos formais direta ou indiretamente ligados à segurança saltaram de 67,8 mil em 1985, ou 3,5% da ocupação total, para 245,2 mil em 2005, ou 10%. O aumento foi de 270%, enquanto a ampliação total dos empregos com carteira assinada foi de 30,6%.

Para Pochmann, que é professor da Universidade de Campinas, “os números das ocupações ligadas à segurança são a ponta do iceberg”. Ele observa que os dados da Rais não englobam nem o mercado informal de segurança nem o crime propriamente dito, que fazem parte do que chama de “sociedade crescentemente armada”. O aumento das profissões ligadas à segurança contrasta, nota Pochmann, com a evolução de outras ocupações, como a de professores. De 1985 a 2005, o aumento foi de apenas 38,2% em São Paulo, e de 39,3% no Rio. Em algumas profissões, como a de bancário, a Rais registra quedas de, respectivamente, 72,8% e 60,6% em São Paulo e no Rio.

A maior parte das ocupações ligadas à segurança incluídas pelo economista no levantamento estão diretamente vinculadas ao combate e à prevenção do crime, como policiais, vigias e seguranças. Mas ele também acrescentou profissões que têm forte relação com a segurança, como a de especialistas no assunto, inspetores de riscos patrimoniais, contratados de seguradoras e porteiros. Neste último caso, pelo fato de mais pessoas estarem morando em apartamentos e pela tendência de os condomínios manterem empregados 24 horas por dia controlando a entrada e saídas de pessoas.

O empresário Cristiano Lobo da Silva, dono da Guepardo, empresa de segurança de Niterói, é um exemplo de empreendedor atraído recentemente para o mercado de segurança. Ele fundou a Guepardo em 2004 e hoje tem cem seguranças, que ganham em média R$ 780 por mês. A empresa oferece segurança a condomínios, construtoras, hospitais e restaurantes.

Lobo da Silva orgulha-se de ter 99% dos seus seguranças com ensino médio completo, o que, segundo ele, é incomum no setor. O empresário diz que não falta demanda para seus serviços e que a oferta de mão-de-obra também é abundante. “É um absurdo o que eu recebo de currículos hoje, mas de cada cem não dá para aproveitar mais que dez”, observa.

No Rio, é comum encontrar candidatos à profissão de vigia e segurança na Avenida Paulo de Frontin, que fica debaixo de viaduto de mesmo nome no Rio Comprido, zona norte. Diversas empresas de segurança privada têm sedes na avenida, como a Juiz de Fora, na qual o jovem que se identificou apenas como Roberto tentou encontrar uma vaga na quarta-feira. “É uma área onde as oportunidades crescem muito”, afirma ele, que tem 22 anos, ensino médio completo e curso de vigilante de 20 dias, no qual aprendeu a manejar armas e a “ter postura e identificar suspeitos”, segundo suas palavras.

CURSOS RÁPIDOS

Os cursos de vigilante são em geral brevíssimos, durando de duas a três semanas. Luiz Ricardo da Rocha Viana, de 31 anos, outro candidato que circulava pela Avenida Paulo de Frontin na manhã de quarta-feira, pagou R$ 520 por um curso de três semanas e tem expectativa de ganhar salário de R$ 800 na nova profissão. Antes, foi montador de kit gás e auxiliar de escritório. “O clima de violência está aumentando a necessidade de seguranças”, diz, admitindo que é uma opção perigosa, mas que gosta da “adrenalina”.

Fonte: O Estado de S.Paulo - 09 ABR 07

Curta, comente e compartilhe!
Pin It
0
0
0
s2sdefault
powered by social2s

topo oms2

Deixe sua opinião! Comente!