O papel da pesquisa científica e da comunidade do conhecimento na promoção do desenvolvimento sustentável foi o tema de uma videoconferência realizada pelo economista e analista político norte-americano Jeffrey Sachs, no dia 3 de maio último, durante a 8ª Reunião Anual do Global Research Council (GRC). “Necessitamos de ciência para tornar evidente quais são as restrições ambientais e as soluções necessárias. Se a ciência for completamente perdida, não iremos sequer saber que o planeta está se aquecendo, não entenderemos a climatologia e as dimensões do desafio, e não teremos ideia de como mapear o caminho para a segurança”, enfatizou durante o evento.
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Na apresentação por videoconferência, Sachs definiu desenvolvimento sustentável como desenvolvimento econômico com justiça social e sustentabilidade ambiental. Segundo ele, essa tríade forneceu o quadro de referência para o Acordo de Paris, formulado no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima em 2015, e subscrito por todos os países-membros da ONU no ano seguinte. “A razão pela qual o desenvolvimento sustentável tornou-se referencial para a ONU é a crise. E a crise decorre de que a economia mundial não atende a objetivos econômicos, sociais e ambientais de maneira holística. Em vez disso, a economia mundial tornou-se eficaz em produzir crescimento econômico, mas é ineficaz em produzir justiça social e desastrosamente contrária à sustentabilidade ambiental”, disse.
O resultado, segundo o analista, é que o sistema econômico mundial cresce, mas cresce desigual e insustentavelmente. Para Sachs, isso requer uma mudança nas políticas públicas, mas também uma mudança nas tecnologias, que precisa ser guiada pelas ciências básicas. E integrar essas três áreas – ciências básicas, engenharias e ciências políticas –, de modo a poder responder às grandes questões da atualidade, constituiria um enorme desafio para o que ele chamou de “comunidade do conhecimento”. A esta caberia liderar o processo, uma vez que os governos estariam intelectualmente despreparados e politicamente desinteressados em enfrentar problemas tão graves como o das mudanças climáticas globais.
De acordo com Sachs, mesmo o melhor cenário vislumbrado no Acordo de Paris, de um aquecimento global menor do que 1,5º C, seria muito perigoso. E não impediria o derretimento das calotas polares. O analista insistiu na necessidade de uma “descarbonização” total do setor energético, com a redução a zero das emissões até meados do século. “Então, precisamos dos engenheiros para nos dizer como isso pode ser feito. De fato, os caminhos para a descarbonização profunda estão atualmente sendo elaborados por engenheiros especialistas”, afirmou.
Na visão de Sachs, a descarbonização profunda constitui o primeiro e o mais premente tópico de uma lista de seis desafios que apresentou na videoconferência. Os demais são, pela ordem: o uso sustentável da terra e a produção de alimentos, preservando os últimos bolsões de biodiversidade do planeta, como a floresta amazônica; saúde e bem-estar, com o controle de doenças transmissíveis e não transmissíveis; educação; urbanização sustentável, considerando que cerca de 2,5 bilhões de pessoas serão incorporadas às cidades nas próximas décadas, compondo com os habitantes urbanos atuais e seus descendentes 70% da população mundial em meados do século; e tecnologia de informação, com ênfase na governança das grandes corporações do setor, de modo a preservar a liberdade e a privacidade dos usuários.
Para enfrentar tais desafios, Sachs enfatizou a importância da integração do conhecimento, apoiada no tripé ciências básicas, engenharias e ciências políticas. “Necessitamos de todas estas três aproximações disciplinares, trabalhando de maneira integrada”, disse.
A palestra reuniu, em São Paulo, dirigentes de agências de fomento à pesquisa de meia centena de países dos cinco continentes. A reunião do GRC foi organizada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pelo Consejo Nacional de Investigaciones Científicas e Técnicas (Conicet), da Argentina, e pela German Research Foundation (DFG), da Alemanha.
Sachs
Autor do best-seller The End of Poverty (O Fim da Pobreza), entre outras obras de impacto, Sachs é uma das maiores autoridades mundiais na área do desenvolvimento sustentável, tendo atuado, sucessivamente, como consultor especial de três secretários-gerais da Organização das Nações Unidas (ONU): Kofi Annan, Ban Ki-Moon e António Guterres. Além de governantes de diversos países da América Latina, África, Ásia e Leste Europeu.
Atualmente com 64 anos, dirigiu o Earth Institute da Columbia University, onde detém o título de University Professor, a mais alta qualificação que as instituições de ensino superior dos Estados Unidos concedem aos integrantes de seus corpos docentes.