Quinta, 18 Setembro 2025

Editorial | Coluna Dia a Dia

Portogente

Talvez certos enfeites típicos, com dizeres ingleses como “Merry Christmas” não adornem as casas brasileiras neste Natal (exceto, é claro, os “Made in China”...), mas parece que haverá mais bacalhau à mesa e chocolates para festejar a data (basta que um país de cada lado ratifique para o tratado vigorar). Pelo menos, é expectativa plausível, com o acordo firmado dia 16/9 entre Mercosul e Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA).

Que, aliás, abre mais a porta para a implantação, enfim, do acordo comercial com a Comunidade Europeia, em tramitação há décadas e já na fase final – pode sair até dezembro e já começar efetivamente em janeiro. O que abre novas possibilidades para o transporte marítimo de cargas nas rotas do Atlântico, bem como para os portos nacionais e todo o encadeamento logístico que precisará ser acionado.

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Este fortalecimento de laços econômicos entre a América do Sul e a Europa vem em linha com o que Portogente preconizava nos últimos meses, ante a errática política estadunidense – que, além de atrapalhar o comércio mundial com seus tarifaços irresponsáveis e prejudicar de modo talvez perene sua própria posição nessas relações internacionais (Putin e Xi agradecem), deixou evidente a urgente necessidade de diversificação das parcerias comerciais do Brasil.

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Enquanto a “lei do retorno” age rápido no país da MAGA – dólar em queda contínua (e moeda chinesa em alta seguida), desemprego nos EUA, redução acentuada da exposição mundial aos “treasuries” americanos, procedimentos de desdolarização em escala mundial face à volatilidade crescente nos seus fundamentos monetários, entre outros sinais com tendência de ampliação dos problemas econômicos internos daquele país –, as nações também correm a se reorganizar. Preparam-se para um tempo em que não haja mais dependência tóxica dos humores do governante de plantão em Washington.

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Mais: a cada ameaça de sanção não-econômica (como acesso à tecnologias de ponta ou de intercâmbio de dados bancários), por mais severa que seja, o alerta se acende e são encontradas alternativas em outros lugares que tornam inócuas as ameaças feitas.

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Em apenas oito meses, o planeta se viu bem menos dependente do que acontece dentro dos Estados Unidos. E a equação foi invertida: os cidadãos sob a bandeira “Stars and Stripes” (também conhecida como “Old Glory”, humm) é que estão se descobrindo dentro da armadilha dos impostos crescentes, do desemprego, da inflação e do desabastecimento de alimentos (como a carne brasileira, agora inacessível aos seus bolsos).

A destruição das pontes dos EUA com o mundo impede a volta pelo mesmo caminho: é preciso encontrar novas formas de conexão. Até porque a opção inicial (viajar numa espaçonave X para se estabelecer em Marte) ainda é inviável. Os estadunidenses conseguirão diagnosticar e resolver em tempo esse problema? Enquanto o “resto do mundo” está se comunicando mais e se refazendo dos sustos diários, os Estados Unidos estão se isolando.

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Neste momento, vale recordar o “ditado” do antigo apresentador Abelardo Barbosa, o ‘Chacrinha’ da TV brasileira: “Quem não se comunica, se trumpica” (ops! Era ‘se trumbica’ ou ‘trupica’, gíria com o sentido de ‘tropeça’).

Lembremos que nossos avós sempre aconselhavam a não colocar todos os ovos no mesmo cesto (“se cair, perde tudo!”). O Brasil teimava em não fazer isso, seguindo tradições que já vinham da monocultura do açúcar, do café... e, da mesma forma, fazia o mesmo ao não incentivar a busca permanente de novos clientes. “Não vendia, era comprado”, dizia-se anos atrás.

Como o brasileiro é rápido e esperto para se safar de encrencas (está até conseguindo agilizar negociações com a Europa que se arrastavam por anos, como a completada nesta semana), não será surpresa se tivermos em breve navios procedentes do Velho Continente transportando o tradicional bacalhau para o período natalino.

E como “neste mundo nada se cria, tudo se copia”, talvez até um imitador do Chacrinha queira novamente jogar o produto para a plateia, enquanto pergunta: “Vocês querem bacalhau?”

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Tratado foi firmado dia 16/9 no Rio de Janeiro por representantes dos dois blocos econômicos
Foto: Letícia Clemente/Ministério das Relações Exteriores-Brasil

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