Editorial | Coluna Dia a Dia
Portogente
Tempo é a medida dos negócios (Francis Bacon, 1625)
A assinatura do contrato com a empresa de dragagem DTA Engenharia, pelo presidente da Autoridade Portuária de Santos, Anderson Pomini, marca um divisor de águas na história do porto. Depois de décadas de promessas e longas gestões frustradas, inicia-se a execução das obras de derrocagem e aprofundamento do canal de acesso, com meta de alcançar 17 metros de profundidade. Uma conquista de engenharia que insere Santos definitivamente na rota dos grandes navios da nova geração (big ships), condição essencial para garantir produtividade e competitividade no comércio marítimo global. Uma nova e moderna relação Porto-Cidade que consolida a necessária participação do prefeito municipal de Santos, Rogério Santos (Republicanos).
Imagem manipulada e gerada por IA
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A primeira etapa prevê atingir 16 metros em 18 meses, incluindo a remoção de 33 formações rochosas com tecnologia não explosiva — medida que assegura maior segurança operacional e sustentabilidade ambiental. A empresa executora, DTA Engenharia, tem um longo currículo exitoso na prestação de serviços de dragagem deste canal de acesso ao porto. Este projeto considera fatores como correntes marítimas, granulometria e estabilidade do solo, além da recuperação natural das praias. Em paralelo, Pomini negocia com o BNDES a próxima fase, para alcançar os 17 metros e viabilizar a gestão privada do canal por 30 anos.
Com essa infraestrutura, Santos poderá receber navios de até 366 metros de comprimento e capacidade de 15 mil TEUs, consolidando-se como hub logístico estratégico do hemisfério Sul. Isso exigirá novos investimentos em cais, modernização de equipamentos e integração Porto-Cidade, para que o crescimento seja equilibrado com as demandas urbanas da Baixada Santista. Considerando o conceito de intermodalidade, ele é interessante tanto para o embarcador quanto para as transportadoras, devido à alavancagem econômica de unir modais e ampliar a demanda de áreas comerciais conurbadas.
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O exemplo de São José dos Campos, que formou um cluster logístico referencial e conectado ao Porto de São Sebastião, mostra o caminho. Santos tem ainda mais potencial: além de atender à hinterlândia mais pujante do país e abrigar um parque universitário de excelência, capaz de gerar soluções inovadoras e de alto nível técnico para a comunidade portuária, dispõe da maior e mais eficiente burocracia portuária nacional, fator essencial para agilizar o fluxo do comércio marítimo.
Ampliar a profundidade do canal é, portanto, uma decisão estratégica e irreversível. Mas, pela complexidade técnica e ambiental, é oportuno e convém que o processo seja amplamente debatido por engenheiros, especialistas e sociedade civil. As tecnologias adotadas — sem uso de explosivos — reduzem impactos à fauna e flora marinha, além de permitir maior precisão no controle do material removido. Monitoramentos contínuos devem ser divulgados com transparência, reforçando confiança e atraindo novos investimentos. Portogente estrutura um debate regional na Baixada Santista, focando potenciais e oportunidades na atividade do Porto de Santos, centrado no conceito há muito sonhado do Porto Indústria. Trata-se, modernamente, de aglomerados regionais conectando o comércio global com as novas tecnologias.
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Portanto, é crucial que o aprofundamento à navegação esteja inserido em um plano regional integrado, considerando os seis municípios conurbados ao porto. Isso significa planejar infraestrutura de transporte, incentivar inovação tecnológica, criar novas oportunidades industriais e acelerar obras estruturantes, como a ligação seca entre as margens do porto, Santos-Guarujá, que beneficiaria diariamente mais de 80 mil pessoas e reduziria emissões de CO₂.
O Porto de Santos do futuro exige visão estratégica, integração com a cidade e liderança técnica local. O aprofundamento para 17 metros é mais que uma obra: é o alicerce de um novo paradigma de desenvolvimento para a Baixada Santista e para o Brasil.