Editorial | Coluna Dia a Dia
Portogente
Este segundo semestre de 2025 começa com novos debates no mercado brasileiro de cruzeiros marítimos, que podem impactar na própria estrutura portuária para o recebimento desses transatlânticos. Sustentabilidade é uma palavra-chave, mas não a única.
Questões geopolíticas e as transformações iniciadas neste ano na economia mundial – com a formação de novas parcerias internacionais e a definição de novas políticas para o setor – também impactam no setor, espraiando-se por toda a cadeia de atividades de apoio e pela comunidade que atua nessa área, não só na venda dos pacotes turísticos, como na recepção local aos turistas e na própria logística de apoio às escalas desses navios.
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A operadora turística CVC, para além das próprias dificuldades contábeis que impactaram seus ativos em bolsa de valores neste início de década (e até viraram caso de estudos universitários), sinalizou em 13/8/2025 as questões enfrentadas pela atividade dos cruzeiros marítimos, com a instabilidade econômica e política mundial deste ano e a falta de oferta de navios para os pacotes turísticos.
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A empresa observa o crescimento desse gargalo com a chegada da temporada de veraneio no Hemisfério Sul, quando a demanda pelo segmento marítimo se fortalece.
Seu presidente-executivo, Fabio Godinho, destacou que não há o que fazer porque “temos 30% menos de inventário”, explicando que a armadora MSC “está com dois navios a menos e a Costa está com um a menos”. Bem, dois desses três navios suprimidos estão com destino definido: Belém, na COP-30, para funcionar como hotéis flutuantes.
Em sua análise, o mercado de vendas de minicruzeiros no Rio de Janeiro “praticamente acabou este ano”, justificando estudos quanto à possibilidade da CVC contratar navios próprios para reduzir essa dependência.
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A fala da CVC pode ser analisada junto à divulgação da MSC Cruzeiros, que em julho anuciava “últimas cabines disponíveis para os cruzeiros que partem da Europa com destino ao Brasil na temporada 2025/2026. Os cruzeiros a bordo do ‘MSC Preziosa’ e o ‘MSC Armonia’ partirão de Hamburgo, na Alemanha, e Veneza, na Itália, respectivamente, com destino ao Rio de Janeiro, Salvador ou Santos, no Brasil.” A MSC prosseguia, detalhando o pacote aéreo-marítimo disponível para os turistas.
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A Associação Nacional de Terminais de Cruzeiros (Aterc Brasil) cita que “a temporada 2025/2026 será impactada pela redução do número de navios de cruzeiro no Porto de Santos, o principal hub do País. Seis embarcações farão 122 escalas regulares no complexo marítimo, na região de Outeirinhos. Em comparação com temporadas anteriores, esses transatlânticos são mais antigos e têm menor capacidade de hospedagem”.
Ela defende melhorias logísticas e das instalações portuárias para recuperar a atratividade santista no setor.
A falta de navios para cruzeiros pelo litoral e a lotação dos cruzeiros transatlânticos Europa/Brasil são “as dores do crescimento” rápido do setor, que é colocado em números pela Cruise Lines International Assocation (Clia Brasil) em seu relatório ‘State of the Cruise Industry 2025’: “O setor global de cruzeiros deverá receber 37,7 milhões de cruzeiristas neste ano (...) e 41,9 milhões de passageiros até 2028”. Em 2024, foram 34,6 milhões. Otimista, a enttidade aponta a entrada em operação de 11 novos navios neste ano e encomenda de 56 embarcações até 2036.
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O ponto-chave: “A indústria também avança no uso de energias alternativas e tecnologias de baixo impacto. Até 2028, 50% da nova capacidade da frota contará com motores prontos para operar com GNL, metanol ou biocombustíveis, enquanto 72% dos navios estarão aptos a se conectar à energia elétrica em terra, reduzindo emissões nas escalas portuárias”.
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Os dados mais recentes serão divulgados no 7º Fórum Clia Brasil 2025, a se realizar em Brasília no dia 3 de setembro. Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil, mostra estar preocupado com a redução no número de navios nesta temporada, reforçando a necessidade de mais ações afirmativas na criação e venda de pacotes turísticos, mas também com a sustentabilidade e a inclusão de novas alternativas de combustíveis, como o metanol e o gás natural liquefeito (e não apenas o biodiesel): “Se a gente quer continuar a operar, a ter navios de cruzeiros aqui no Brasil e na América do Sul, os portos devem estar preparados”.
Fornecimento de eletricidade para os navios mais modernos também é importante: “Precisamos de investimento para que os navios possam se conectar. O investimento é alto, mas é necessário pensar nessa questão para, daqui a três, quatro anos, termos os primeiros portos já oferecendo esse serviço”, disse Marco, em entrevista a Karina Cedeño, publicada na revista ‘Panrotas’ em 21/5/2025.
Bem, o debate deste assunto pode continuar aqui:
Veja mais: Porto & Cidade: integração estratégica para o novo tempo de Santos - Portogente, 18/8/2025

Cheguei! Cadê a tomada?
Imagem: Inteligencia Artificial Copilot