Quinta, 28 Novembro 2024

Antes, rebocadores de conhecida empresa conduziam os navios da empresa suíça

Antes, rebocadores de conhecida empresa conduziam os navios da empresa suíça. Desde outubro, as posições meio que se inverteram: a napolitana MSC (criada em 1970, agora em Genebra) é quem vai “rebocar” a Wilson Sons (fundada em 1837, em Salvador/BA). Registre-se que outra aquisição recente é a da Santos-Brasil pelo grupo CMA-CGM: é como se antes o navio atracasse ao terminal e agora o terminal é que está se ligando ao navio.

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Brasil é o “marisco”, entre o “mar” chinês e as “rochas” européias. Chancay/Cosco de um lado, MSC e CMA-CGM do outro
Foto: divulgação/Andina-Peru

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Estudiosos de geopolítica lembrarão que a MSC está na Suíça, país sem litoral. Mesmo entre montanhas, os suíços valorizam o domínio da infraestrutura de transporte marítimo. Recado para quem desdenha que cuidemos da soberania brasileira neste setor - os que, como o Brasil, cresceram desde o litoral, mas dando as costas para o mar...

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Ao longo dos anos, outras empresas estabelecidas no Brasil foram adquiridas por conglomerados estrangeiros, verticalizando fortemente o setor. Isso traz importantes efeitos negativos, pois a competição se reduz e importadores, exportadores e prestadores de serviços ligados ao comércio exterior e aos transportes elevam sua dependência dos interesses estrangeiros.

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Sem concorrência, fica mais fácil ditar fretes e mesmo cancelar rotas marítimas que só interessem ao Brasil, direcionando até politicamente as rotas comerciais conforme os interesses dominantes.

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É possível argumentar que frente à verticalização da economia chinesa (como a China Ocean Shipping Line - Cosco - operando o megaterminal peruano de Chancay, conforme o plano da Nova Rota da Seda) interessa à economia ocidental opor estruturas fortes que garantam seu comércio marítimo. Porém, dizia o samba, entre o mar e a rocha, coitado do marisco...

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As grandes potências antigas eram as que tinham bons portos, alimentando comércio pujante que atraía a riqueza gerada por serviços em terra, enquanto trocas culturais criavam ambientes cosmopolitas que por sua vez geravam atividades e negócios. Santos, "porto do café", rivalizava com o Rio de Janeiro nas atenções internacionais. Por isso, foi também lembrado como polo para transbordo das cargas da grande cabotagem (dinheiro atrai dinheiro, novos negócios...).

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Tal efeito vale em sentido negativo. Conglomerados empresariais podem capturar governos ou influenciar decisões, favorecendo seus interesses – ignorando demandas legítimas de empresas menores (por equidade na concorrência), e da população (para que se garanta segurança física, frente a instalações e navios que podem se incendiar, explodir ou liberar gases tóxicos).

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Em casos ocorridos no segmento retroportuário, vislumbram-se interesses nada ortodoxos tentando “abrandar” a fiscalização, ampliar instalações, , “simplificar/agilizar” regras de segurança, engavetar multas etc., - com resultados bem conhecidos. No mar, como nos interesses da economia internacional, quem é levado a reboque? Por quem?

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