Logística é uma função essencial do porto, como é a dimensão humana da cidade.
O discurso de deputada federal do PL viralizado, na internet, sobre a greve de um dia dos caminhoneiros no fundo do Porto de Santos (SP) é um desserviço republicano e uma politização inconsequente, uma realidade ameaçadora à produtividade portuária e às soluções urbanas. Até o mundo mineral sabe que a parlamentar quer se candidatar à prefeita de Santos. Pelo que demonstra, falta-lhe conhecimento e articulação adequados para perceber e tratar dos reais problemas do porto e sua região. E mais: a devida humildade em compreender que história e política caminham juntas. Quando se dissociam nasce a serpente do totalitarismo e dos fundamentalismos.
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Política diz respeito à persuasão, mas com infeliz frequência transforma-se em propaganda. Dissimulações transmitem exageros e mentiras, das descaradas às fantasias, por todos os meios possíveis. Como os eleitores não são anjos, as eleições não são isentas de falsidades e crenças erradas. O problema da Alemoa é muito antigo, como afirma a deputada, mas só agora ela decidiu dar a solução aos muitos e reais problemas do Porto de Santos. Alguém dormitava em "berço esplêndido", por exemplo, num período recente, como entre 2016 e 2022? Há anos Portogente denuncia e debate essas questões.
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Ao criticar o governo atual por desistir da desestatização, a parlamentar supostamente deveria saber que toda a operação portuária é privatizada. Convém, portanto, ela explicitar as razões da proposta dela, que na gestão do então ministro de Infraestrutura e atual governador de São Paulo, realizou apenas uma estatização ruidosa, a da Companhia Docas do Espírito Santos (Codesa). Da mesma forma, os casos de tratamento diferenciado e não republicano, com os portos do Paraná.
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Outrossim, por que o mandato de Rosana Valle faz vistas grossas e não se pronuncia sobre o navio fundeado no alto do canal do Porto de Santos, utilizado para armazenar gás? Este caso, denunciado por um professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), tem uma potência de explosão equivalente a 55 bombas de Hiroshima. Essa instalação deve ser localizada em mar aberto. Sem ameaçar a população de Santos e evitar uma tragédia, como se deu três anos atrás no porto de Beirute, com 100 mortos e mais de quatro mil feridos.
Acredita-se que a institucionalidade do mandato federal, totalmente pago pelo povo brasileiro (do salário do parlamentar ao de assessorias e outras despesas), deve exigir a obrigatoriedade com a busca pela verdade dos fatos - como também rezam os manuais de jornalismo.
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Ante tantas questões não respondidas sobre o principal porto do hemisfério sul, a sociedade em rede permite estruturar o não estruturado. Aqui está posta uma amostra do que precisa ser tratado nesse espaço compartilhado por intensos fluxos de mercadorias e pessoas. Como aconselha Georges Friedmann, “é preciso estudá-las com todos os recursos do conhecimento e tentar dominá-las e humanizá-las.”
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