Por Solange Santana
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De uma década para outra, a indústria ferroviária cresceu cerca de 40% na produção de vagões. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), entre 1990 e 2009, foram feitos 28 mil vagões, numa média anual de 2800. Já para 2016 a estimativa parte para uma média anual de quatro mil vagões e a previsão é que, entre 2010 a 2019, sejam produzidos 40 mil. Contudo, mesmo com linhas de crédito do Governo Federal, há preocupação que os números em 2017 quebrem esse ritmo acelerado, tanto na produção de vagões, como locomotivas e trens de passageiros. A situação econômica atual não favorece o fechamento de contratos com entregas previstas para o ano que vem, conforme o presidente da Abifer, Vicente Abate, em entrevista para o Portogente.
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Portogente - A indústria brasileira fechou 2015, em relação a 2014, com acréscimo de 60% de locomotivas fabricadas. Considerando a crise econômica mundial, qual a perspectiva para 2016?
Vicente Abate - Estamos no contrapé dentro da indústria de transformação, na qual nos inserimos, que não tem o mesmos resultados que o ramo ferroviário nos últimos dois anos. Os contratos foram fechados numa fase em que a economia vinha se desenvolvendo. No ano que vem, quando fizermos as entregas, talvez o PIB não esteja positivo como na época em que os pedidos foram feitos. Temos um longo prazo entre contrato e entrega: seis meses para vagões, um ano para locomotivas e um ano e meio para trens de passageiros. Em dois anos, vendemos 4.700 vagões. Para 2016 não prevemos uma queda, mas uma acomodação de volume, que esperamos ser próximo ao de 2014 ou 2015.
Portogente - Durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o governo anunciou a abertura de linhas de crédito no valor de R$ 83 bilhões. O senhor acha que essa medida dará fôlego ajudará o setor ferroviário para manter suas atividades e manter o nível de emprego?
Vicente Abate - Indiretamente, a indústria será beneficiada. O BNDES acenou, dias atrás, que irá aumentar o percentual de financiamento em Taxa de Juros a Longo Prazo (TJLP), uma taxa corrigida pelo Conselho Monetário Nacional a cada dois meses e, no momento, encontra-se em 7,5% ao ano. O Governo Federal também sinalizou no PIL 2 (Plano de Investimento em Logística) que foi lançado em 2015, que a TJLP sairia numa parcela menor nos financiamentos do BNDES. No setor de ferrovias, temos 50% em TJLP e 20% seriam passíveis de serem TJLP se houvessem debentures compradas pelos investidores.
De maneira geral, sem citar o setor ferroviário, que tem no BNDES uma condição ligeiramente favorável do que os demais, o governo está sentindo que para fazer essas concessões ele tem que dar uma condição melhor para os investidores.
Sobre especificamente linhas de crédito do governo estamos trabalhando com investimentos em ferrovias dados pelo PIL lançado no ano passado, que prevê investimentos totais em ferrovias, ao longo do tempo de concessão, de R$ 86 bilhões. No PIL 2 temos dois importantes blocos de investimento previstos. Um bloco é de investimentos nas ferrovias existentes, em que as concessionárias atuais têm uma previsão de R$ 16 milhões para correção de gargalos, melhoria de frota etc..
Um segundo bloco, de R$ 30 bilhões, são os projetos novos, que tem quatro projetos elencados: dois de extensão da ferrovia Norte-Sul, outro na ferrovia de Lucas do Rio Verde (MT) a Miritituba (PA) e um trecho entre Rio de Janeiro e Vitória.
Portogente – Como o papel da indústria ferroviária na superação da crise econômica?
Vicente Abate - Na medida em que as malhas viárias atuais são corrigidas e novas ferrovias são construídas expandindo o sistema, a indústria em geral é beneficiada.
Se houverem investimento em infraestrutura de transporte, principalmente ferroviário, o ciclo de PIB negativo que estamos vivendo será revertido e , teremos menor custo Brasil.