Sábado, 23 Novembro 2024

Fatores biológicos, psicológicos e sociais inter-relacionados dão origem à identidade pessoal e ao comportamento interpessoal das pessoas e neste contexto, atores homossexuais estão integrados. Falar de homossexualismo, ainda, causa polêmica na sociedade, mas a escolha dos membros do próprio sexo para relações sexuais e parceria íntima é relativamente comum no mundo. Apesar da presença universal de indivíduos homossexuais, na história e na sociedade, o tema provoca disputa e controvérsia. As discussões, geralmente, são influenciadas por ignorância, medo e fuga, tudo isso dentro de um caldeirão temperado por dogmas morais e religiosos.

Se em toda sociedade existe o homossexualismo, na área portuária não é diferente. No Espírito Santo, mais propriamente na Estiva, existe um caso, muito bem assumido. PortoGente falou com Roberto Nascimento, 66 anos de idade, ensino fundamental completo e conhecido como Robertinho.

 

Robertinho diz que não vê o homossexualismo como opção sexual. Ele fala que opção é escolha e não se escolhe ser homossexual. “É uma coisa genética”. Embora tenha entrado na Estiva em 1966, onde a sociedade portuária era menos esclarecida do que é hoje, nunca sofreu preconceitos. “No início eles não sabiam, eu camuflava. Eu ficava na minha. O que fazia era fora, bem longe do trabalho. Depois eles foram descobrindo e encararam como banal”.

 

Foram 37 anos nos porões dos navios no Espírito Santo, mas o corpo franzino não permitia a execução de alguns trabalhos e o apoio dos companheiros foi fundamental. “Tinha trabalho que eu não agüentava como empilhar café que, naquela época, era na mão mesmo. Eles falavam assim: vai cantar que a gente trabalha. No final do dia estava rouco”, fala sorridente ao lembrar. Robertinho conta que o repertório nos porões passava por Ângela Maria e Altemar Dutra, só estilo romântico. Ainda hoje, Robertinho canta para os estivadores e seus familiares nas festas promovidas pelo sindicato.

 

Há cinco anos aposentado, ele fala que tem saudades do trabalho de estiva e para amenizar esta falta, está constantemente na sede do Sindicato dos Estivadores, para o reencontro com os amigos. “Pena não poder mais entrar no cais. Mas eu venho aqui, no Sindicato, e vou vivendo”.

 

Perseguição

Segundo o estivador aposentado, a sociedade, ainda, não se conscientizou que não se escolhe ser homossexual. “Eu desde criança, aos seis ou sete anos, já sentia atração por homens e não por mulheres. Essa sociedade, que eu acho que é podre, não entende e nunca vai entender isso: que a gente não escolhe!”.

 

“Feliz demais”. É assim que se sente Roberto Nascimento. Ele lembra que todos os seus relacionamentos foram muito bons. “Tanto que tive um relacionamento de 24 anos, que é o pai do meu filho adotivo. Foi tão bonita nossa vida, nossa convivência que, quando ele morreu, ficou o filho que eu amo como meu próprio. É até bom falar. Dizem que homossexual não pode adotar criança, mas pode sim. É a mesma coisa que um filho biológico ou até melhor”.

 

E a convivência com homossexuais nos portos do Espírito Santo é tratada pelos trabalhadores com naturalidade. Para Lásaro Domingos, a condição sexual do indivíduo não altera em nada. Ele disse que o que importa é que seja uma pessoa digna e responsável. Já, o também estivador, Alexandro Campos Assis fala que a homossexualidade não influencia no desempenho profissional do indivíduo. Assis revela que é amigo de Robertinho e o considera uma pessoa de grande personalidade, principalmente por ter enfrentado a sociedade portuária nos anos 1960 onde “estivador era cavernoso”.

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