Quinta, 28 Novembro 2024

Opinião

João Martins da Silva Junior é presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

O ano de 2015 se encerrou com as mesmas notícias com que já estamos ficando acostumados: a economia retraiu-se, a inflação elevou-se, a indústria encolheu e o desemprego aumentou. Nesse cenário desalentador, só a agropecuária seguiu crescendo, produzindo mais, exportando mais e gerando US$ 80 bilhões de superávit. Se as previsões dos analistas econômicos se confirmarem, 2016 repetirá a mesma história.

Será possível que, numa economia em crise generalizada, um setor isolado continue se expandindo sem ser afetado pelo ambiente ao seu redor?

Isso só seria possível se nosso setor de produção rural fosse uma espécie de enclave econômico, operando no território do País, mas com a produção voltada quase exclusivamente para os mercados externos. Exemplos dessa natureza podem ser encontrados em países produtores de petróleo ou outros minerais, cujas cadeias produtivas têm pouca integração com sua economia interna. O que se passa com a agricultura e a pecuária do Brasil é muito diferente.

Apesar de sermos hoje um dos três maiores fornecedores de alimentos para o mundo, com presença dominante numa lista de mercados que inclui a soja, café, suco de laranja, carnes bovina, suína e de frango, açúcar, algodão, tabaco, além de investidas promissoras em mercados como os de milho, frutas e lácteos, a verdade é que a produção rural brasileira é predominantemente voltada para o mercado interno.

Além disso, nossa estrutura de produção é altamente diversificada, produzindo centenas de produtos exclusivamente para o consumo nacional. A produção rural brasileira não é um enclave exportador, mas surgiu e cresceu para atender ao mercado interno e graças à sua produtividade e a seus custos competitivos exportou excedentes e conquistou os mercados mundiais.

Para que a agricultura e a pecuária do Brasil possam seguir crescendo é absolutamente necessário que o País supere a crise que está vivendo. Caso contrário, o setor também será arrastado para as dificuldades que hoje atingem tão duramente a indústria e o setor de serviços. Se o desemprego e o declínio da renda familiar se mantiverem por mais tempo, o resultado natural será a contração do mercado interno, com pressão sobre os preços, em atividades cujas margens de lucro já são muito estreitas na maioria dos casos.

A maior parte dos produtos da nossa agricultura é destinada exclusivamente ao mercado doméstico e não poderá compensar a retração das vendas externas com a exportação. Quanto aos outros produtos com tradição exportadora, o aumento dos saldos exportáveis poderá pressionar ainda mais os preços externos, que já estão em trajetória declinante faz algum tempo.

Um possível colapso de algumas atividades produtivas atingirá especialmente os produtores mais vulneráveis, desorganizando estruturas produtivas longamente construídas, com inevitáveis reflexos sociais. Como é uma atividade sazonal, dependente do curso das estações, a agropecuária tem pouca capacidade de adaptação aos ciclos econômicos.

Se a crise brasileira nos atemoriza quanto à demanda, a história não é menos assustadora em relação à oferta. A moderna agropecuária do País, que teve início nos anos 70 do século passado, é um empreendimento essencialmente privado. O Estado teve sua parte, em especial na produção do conhecimento científico e tecnológico, por meio da excelência singular de nossas universidades rurais e da experiência pioneira da Embrapa, bem como na montagem de um sistema eficiente de crédito rural.

Foi a iniciativa privada que transformou os campos do sul do Brasil e ocupou os vastos cerrados improdutivos que predominavam em grande parte de nosso território. Foi trabalho de pioneiros, portadores de experiência profissional na produção e capazes de empreender e assumir riscos tremendos. Povoaram grandes vazios, sem os confortos das cidades e sem a menor infraestrutura, numa aventura pessoal que merece justo registro na História moderna do Brasil.

A eficiência do setor privado excedeu, em muito, a competência do Estado brasileiro. Assim, os resultados de grande parte da produção são afetados pela carência quase absoluta de infraestrutura. Não temos rodovias, ferrovias, hidrovias ou portos para escoar a produção a custos minimamente razoáveis. Os custos logísticos recaem sobre o produtor e o consumidor doméstico.

Por mais que os produtores aumentem sua produtividade, com pesados investimentos dentro das fazendas, seus lucros estão cada vez menores e os preços aos consumidores são maiores do que poderiam ser. O Estado brasileiro encontra-se, há muito, em situação quase falimentar e não tem sequer uma fração dos recursos necessários aos investimentos que precisam ser feitos.

Esta é uma realidade que não podemos disfarçar com a retórica fútil das ideologias políticas. Só o setor privado pode construir e operar a infraestrutura que precisamos. Mas a incompetência dos órgãos estatais, capturados pela baixa política, e a aversão ideológica ao capitalismo e ao setor privado ou retêm mais encargos do que ele pode suportar ou impedem que os processos de concessão cheguem a termo.

Enquanto os preços externos estavam anormalmente elevados, todas as deficiências puderam ser ignoradas. Agora que a realidade bate à nossa porta, quem vai pagar o preço da imprevidência? Mais uma vez, não será o Estado abstrato, mas os produtores e consumidores, gente de carne e osso.

Até agora, a produção rural tem sobrevivido à crise geral do Estado e da economia brasileira. Infelizmente, nosso sentimento é que esta crise vai afetar a agricultura e a pecuária, se durar mais tempo. A paisagem política, porém, não nos deixa margem para muita esperança. O poder político, entre nós, parece aspirar apenas à sua própria sobrevivência, sem mais nenhum propósito de resolver os problemas verdadeiros do País e das pessoas. É o que nos dá razão de sobra para temer pelo futuro.

 

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Por Milton Lourenço, presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)

Depois de ter sido considerado o país mais protecionista do mundo em 2013, com 65 petições e a adoção de 43 medidas antidumping, o Brasil, em 2015, voltou a apresentar recuo no número de investigações abertas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) em relação a 2014. Foram 38 pedidos que resultaram na aplicação de 35 medidas antidumping contra 44 pedidos e 39 aplicações em 2014.

Segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brasil, nos dois últimos anos, ficou em segundo lugar entre os países que mais adotaram medidas de restrição comercial. No período de 1995 a 2014, esteve entre as quatro nações que mais recorreram ao antidumping. Em 2015, os produtos metalúrgicos, químicos, de plástico e de borracha concentraram o maior número de pedidos feitos pelo Brasil à OMC.

Aparentemente, as medidas antidumping têm como objetivo neutralizar efeitos danosos à indústria causados por importações de produtos que chegam com valores muito inferiores ao similar nacional. Para proteger a indústria local, o governo coloca alíquotas específicas à importação dessas mercadorias. Com isso, impede também o aumento da corrente de comércio, pois dificulta que a indústria nacional importe os bens de capital necessários à produção de outros produtos.

A verdade é que todo governo comete um equívoco quando utiliza instrumentos protecionistas, pois, se beneficia as empresas momentaneamente, acaba prejudicando os consumidores. Ao mesmo tempo, exime-se de sua responsabilidade e ainda posa como defensor da indústria nacional e do emprego do trabalhador. Ocorre, porém, que a chegada desses produtos a preços subvalorizados se dá porque o produto nacional há muito perdeu o seu poder de competição no mercado externo.

Para corrigir o problema, o governo deveria propor reformas para diminuir o custo de produção, reduzindo a alta carga tributária e os custos da energia elétrica, além de melhorar a estrutura logística e atacar outros fatores fazem com que o produto nacional tenha um preço final maior que o do importado. Em outras palavras: as medidas antidumping apenas permitem que a indústria nacional respire por mais algum tempo, mas não promovem o desenvolvimento nacional.

Com isso, o Brasil continua pouco aberto em termos comerciais com uma taxa de 11% contra a média mundial de 41%, de acordo com a OMC. Segundo a entidade, as taxas de importação cobradas nas alfândegas brasileiras são em média o dobro das aplicadas nas aduanas dos demais países do Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul). Isso não impediu que, em 2014, o Brasil tivesse sido o 21º maior importador, com 1,3% do comércio mundial, depois de ter sido o 22º em 2012.

Embora tenha uma economia pouco aberta, o Brasil continua como o país preferido para investimentos estrangeiros na América Latina e Caribe. Portanto, se em vez de ter um governo que se preocupa apenas com sua própria sobrevivência, o Brasil tivesse uma administração pública com um projeto de Estado para fazer as reformas necessárias, a situação seria outra. E bem melhor.

 

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Por Maurício Sampaio, coach de carreira, palestrante, escritor e fundador do InstitutoMS de Coaching de Carreira

Para muitos estudantes, 2016 será "o ano". Provavelmente o mais importante de suas - ainda curtas – vidas. Tudo em razão de ser o ano de vestibular. É o momento de uma complexa decisão, que envolve a escolha da futura profissão e da universidade.

As dúvidas vêm aos montes: qual rumo profissional seguir? Qual profissão escolher? A dos meus sonhos ou a que meus pais querem? Será que vou ganhar dinheiro?

E esses dilemas são compreensíveis, especialmente nos dias de hoje. Isso porque tradicionais profissões agora dividem espaço com novas opções, novos caminhos.

A chegada em massa da tecnologia não só transformou processos como criou eficazes canais de oportunidades. Surge, a cada dia, uma série de cursos, em diferentes modalidades. São mais de 200 tipos, entre bacharelado, licenciatura, tecnólogo, sequencial e à distância. Isso resulta em milhares de opções de profissionais.

Outros "complicadores" também aparecem na hora da grande decisão e causam desconforto, como escolher entre prazer e satisfação pessoal ou resultado financeiro.

Aliás, muitos jovens que atendo estão escolhendo e buscando sucesso profissional, com base no resultado financeiro. Um grave erro! O dinheiro não passa de uma atividade meio, ou seja, ele virá desde que você se esforce em concretizar seus objetivos finais, cumprindo metas, sendo perseverante no seu sonho.

A influência dos pais também é um grande obstáculo, pois alguns projetam em seus filhos suas realizações profissionais. Em alguns casos, isso se torna natural e sadio, mas, em outros, pode ser uma verdadeira catástrofe.

Tão ou mais importante que escolher uma profissão, um curso superior, é saber preparar um plano de vida, uma espécie de "plano de voo", analisando suas possibilidades internas e externas. Para isso, gaste mais tempo olhando para o seu interior e descubra seus talentos, suas habilidades, sua vocação. Analise cada mudança em sua volta. Só então você será capaz de escolher o rumo certo de uma feliz e apaixonante profissão.

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Por José Luiz Tejon Megido, conselheiro fiscal do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), dirige o Núcleo de Agronegócio da ESPM

O ex-ministro Alysson Paolinelli foi considerado um dos mais importantes ministros da agricultura na história brasileira e agora completando 80 anos de idade continua atuante. O ex-ministro Paolinelli preside a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (ABRAMILHO). E qual a importância do milho?

Como dizia outro saudoso líder do agronegócio brasileiro o Dr. Ney Bittencourt de Araújo, “o milho está para o agronegócio assim como o aço para a indústria”. O milho entra em quase tudo, se transforma em proteína animal, como ração para suínos, frangos, bovinos, vira leite na silagem para vacas, entra na química industrial vira açúcar, vira etanol, e além de tudo isso, é óleo para alimentação humana, flocos, pães, massas, e não podemos esquecer da pipoca e do milho doce.

Pois bem, o Brasil poderia produzir só de milho, cerca de 380 milhões de toneladas Isso significa quase 50% a mais do que toda a safra brasileira atual com todos os grãos e um dia faremos.

Mas como o Brasil vai fazer isso? Simplesmente por soluções criativas geniais como explica o ex-ministro Alysson Paolinelli, através da integração lavoura, pecuária e floresta. Numa entrevista para uma revista, pesquisadores e técnicos criaram a inteligência para fazer na mesma área, ao mesmo tempo, soja, milho, árvores e gado. Cm isso, multiplicamos o potencial de produção no Brasil e, como o milho permite atingir 15 mil quilos por há, ou mais, sem dúvida, vai ser o rei dos grãos no Brasil.

Criatividade: um show que o agronegócio tem dado ao país e que precisa ser adotado nos planos dos governos. E o ex-ministro reclama que fizemos estudos geniais com a Embrapa e a Fundação Dom Cabral, mas ninguém do governo ainda quis ver.

Vamos ver como isso vai terminar e dá-lhe milho.

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Por Clemente Ganz Lúcio, técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)

A qualidade do solo e do clima e a dimensão territorial propiciaram o desenvolvimento da agropecuária no Brasil. Crescentes investimentos trouxeram amplo desenvolvimento ao setor, em termos de ciência e tecnologia, o que permitiu responder a uma demanda, interna e externa, por mais alimentos e insumos industriais. O País é um dos maiores produtores agrícolas do mundo, com responsabilidade na segurança alimentar da população mundial.

A agricultura familiar, que produz em escala bem menor que a extensiva, ocupa 70% dos quatro milhões de trabalhadores do setor agrícola e experimenta mudanças profundas. Enfrenta também muitos desafios. Como atividade econômica que responde por grande parte da oferta de alimentos nas cidades, é desafiada a superar a produção para o autoconsumo, pois precisa garantir uma oferta regular para atender a uma demanda crescente, a preços que remunerem adequadamente o produtor, capitalizando-o para investir na produção, e, ao mesmo tempo, disponibilizando alimento barato e de qualidade ao trabalhador urbano.

O direcionamento para uma produção agroecológica de qualidade precisa ser realizado respondendo ao desafio da oferta, de maneira a assegurar o abastecimento. O incremento da produtividade é elemento chave, o que implica desenvolver conhecimentos tecnológicos, biológicos, químicos, genéticos, entre outros, orientados para uma produção agroecológica com escala, que preserve a qualidade do solo e do ambiente e produza alimentos saudáveis.

De um lado, o incremento da produtividade agrícola brasileira e, de outro, a ampliação e o espraiamento no território dos núcleos urbanos estenderam para o campo uma série de serviços urbanos (energia, transporte, internet, escola, saúde, entre outros) e promoveram mudanças substanciais na vida e organização rural. A presença da indústria, colada à atividade agrícola, reorganiza as relações sociais de produção. Cerca de um terço da população rural, que vive em unidades da agricultura familiar, está ocupada em atividades não agrícolas (especialmente jovens e mulheres), na indústria ou em serviços urbanos. Também aumenta a população que vive em núcleos urbanos e produz nas unidades familiares.

As unidades rurais, principalmente da agricultura familiar, diversificam as possibilidades produtivas e passam a desenvolver novas atividades, como lazer e turismo rural, que crescem no País (alojamento, hospedagem, convívio com atividades produtivas, acesso a lugares turísticos etc.), atividades de preservação ambiental. Áreas mais próximas dos centros urbanos passam a ser local de moradia. O espaço rural também se transforma em sede de empresas. Há um movimento inverso daquele observado nos anos 1960/1970: moradores urbanos se deslocam para residir e produzir no meio rural brasileiro.

Essas mudanças, entre tantas outras, ocorrem simultaneamente ao processo de redução da população rural, que caiu de 25% (1991) para 16% (2010) da população total. Os quatro milhões de trabalhadores rurais representam menos de 8% da população trabalhadora do País. Há ainda um grande contingente de trabalhadores, produtores rurais sem terra, lutando pela reforma agrária. E aqueles que já conseguiram o acesso à terra demandam políticas agrícolas (crédito, seguro, assistência, comercialização, armazenagem, transporte, supressão de intermediários etc.) para que suas unidades produtivas sejam viáveis economicamente.

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