O diretor presidente da Companhia Docas da Paraíba, Wagner Breckenfeld, e o diretor comercial do Porto de Cabedelo, Francisco Paquet, participaram, no dia 03, na cidade de Paranaguá (PR), da última reunião de 2010 do Conselho Deliberativo da ABEPH - Associação Brasileira das Entidades Portuárias e Hidroviárias. A continuidade do trabalho que vem sendo realizado pela Secretaria Especial dos Portos (SEP) da Presidência da República e a permanência do ministro dos Portos, Pedro Brito, no comando da pasta, foram temas de destaque nos debates do encontro. Na oportunidade, todos os associados mantenedores da ABEPH e convidados presentes na reunião do Conselho Deliberativo, assinaram uma carta de apoio à continuidade das ações da SEP e outra em apoio à permanência do ministro Pedro Brito na SEP. Os documentos já foram entregues à presidenta eleita Dilma Roussef. “A gestão do ministro Pedro Brito foi exemplar no que diz respeito, principalmente, ao incentivo do processo de profissionalização das companhias docas, sem contar o meio de campo que realiza entre os portos e o governo para que os terminais obtenham cada vez mais investimentos em infraestrutura. O que aconteceu é que todos reconheceram esse trabalho e, por isso, todos querem que ele continue”, observou o dirigente paraibano, que atuou de forma marcante no debate.Para ele, a futura presidente Dilma Roussef, que inclusive, já elogiou várias vezes o trabalho de Brito na SEP durante o período eleitoral, precisa fazer um balanço do que foi a administração do atual ministro e considerar a sua permanência no cargo, tendo em vista a importância da SEP para os portos brasileiros e as ações já em andamento. “Apesar do momento de indicações de nomes para integrar os ministérios do novo governo que vai tomar posse no dia 1º de janeiro, a presidenta tem que levar em consideração esse trabalho aprovado, inclusive, por todos os administradores portuários do Brasil”, argumenta Wagner Breckenfeld.
O prazo de entrega começa em 1º de março e vai até 29 de abril. A Receita espera receber 24 milhões de declarações, cerca de 500 mil a mais do que este ano. Com a elevação do limite para entrega da declaração, o Fisco espera que menos contribuintes sem imposto a pagar ou a receber enviem suas prestações de contas. De acordo com o supervisor nacional do Imposto de Renda, Joaquim Adir, cerca de 1,5 milhão de pessoas deixarão de enviar declaração em 2011.Ele explicou que o novo limite para declaração dá continuidade ao processo de redução dos documentos que a Receita deve receber. Em 2010, as medidas que elevaram o patrimônio mínimo (bens ou direitos) que exige declaração de R$ 80 mil para R$ 300 mil e desobrigaram sócios de empresas a fazer prestação de contas reduziram, de 2009 para 2010, em dois milhões o número de documentos entregues por pessoas sem imposto a pagar ou a restituir.Adir disse que, apesar do menor volume de declarações de quem não tem imposto a pagar ou a restituir, a Receita espera receber no total mais documentos em 2011 do que em 2010. Segundo ele, isso ocorrerá por conta dos aumentos salariais dos contribuintes e porque novas pessoas entraram no mercado de trabalho dentro da faixa de retenção do imposto. Assim, a base de contribuintes aumenta e, consequentemente, o volume geral de prestações de contas.Segunda faixaAdir admitiu que os contribuintes com carteira assinada e que têm retenção de IR na fonte por estarem acima da faixa mensal de isenção (R$ 1.499,15) precisam ficar atentos. E não devem deixar de fazer a declaração para poder ter restituição do tributo mesmo que sua renda anual tenha ficado abaixo de R$ 22.487,25 (R$ 1.873,94 por mês). Este valor é uma espécie, na prática, de segunda faixa de isenção para os contribuintes, mas que só vale no momento do ajuste anual. “Quem tem retenção de imposto de renda na fonte terá que fazer a declaração para ter direito à restituição ou porque tem imposto a pagar”, disse.O técnico explicou que o novo limite que desobriga os contribuintes de entregarem declaração beneficia pessoas que, por exemplo, recebem salários de duas fontes diferentes, sem retenção na fonte. Um dos exemplos citados foi de professores, que em muitos casos trabalham em lugares diferentes e recebem no conjunto menos que o limite anual. A medida beneficia também quem recebe, por exemplo, renda decorrente de aluguel de imóveis, entre outros casos.Declaração em 2011Veja abaixo as novas regras para a obrigatoriedade da declaração do Imposto de Renda Pessoa Física no próximo ano:Quem deve declarar1 Quem recebeu rendimentos tributáveis acima de R$ 22.487,25.2 Quem recebeu rendimentos isentos, não tributáveis ou tributados exclusivamente na fonte, acima de R$ 40 mil.3 Quem obteve em qualquer mês do ano ganho de capital na venda de bens ou direitos sujeitos à incidência do imposto, ou que realizou operações em bolsa de valores, de mercadorias e futuros4 Quem teve atividade rural e obteve receita bruta superior a R$ 112.436,25) e ou pretenda compensar prejuízos de anos anteriores e de 2010.5 Quem tiver em 31 de dezembro de 2010 a posse ou propriedade de bens e direitos, inclusive terra na, com valor superior a R$ 300 mil.6 Quem passou à condição de residente no Brasil em qualquer mês e nesta condição se encontrava em 31 de dezembro.7 Quem optou pela isenção do Imposto de Renda incidente sobre o ganho de capital obtido na venda de imóveis, cujo dinheiro seja aplicado na aquisição de imóveis residenciais localizados no Brasil no prazo de 180 dias. Declaração em papel não existirá no próximo anoPela primeira vez na história, a declaração de IR não poderá mais ser entregue em formulário de papel. Só serão aceitas declarações eletrônicas, enviadas pelo site da Receita na internet ou entregues em disquetes, nas unidades do Fisco e agências da Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil.A Receita Federal vai começar a receber em 1º de março do próximo ano a declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) de 2011 (ano-base 2010). O prazo de entrega terminará em 29 de abril. O supervisor Nacional do Imposto de Renda, Joaquim Adir, informou que o programa só estará disponível para o envio à Receita no dia 1º de março. Mas a Receita vai manter no seu site na Internet (www.receita fazenda.gov.br) um modelo da nova declaração para que os contribuintes possam conhecê-lo. O modelo foi totalmente reformulado, com um novo “layout”. “O modelo está mais clean (limpo), com uma linguagem mais moderna e amigável”, disse AdirAdir informou também que homossexuais poderão incluir seus parceiros (desde que haja união estável) como dependentes na declaração do IR 2011. “Vale a mesma regra para os casais heterossexuais”, disse. O coordenador também informou que os limites de dedução por dependente nessa declaração será de R$ 1 808,28 e de educação será de R$ 2.830,84.TabelaPara a Receita Federal, a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) ficará congelada em 2011. Ao ser questionado sobre a possibilidade de correção da tabela em 2011, o supervisor nacional do Imposto de Renda (IR) da Receita, Joaquim Adir, respondeu: “Para nós, é essa tabela que está aí”.Depois de manter uma política de correção anual de 4,5% dos limites da Receita por quatro anos seguidos, o benefício previsto em lei termina este ano. Até agora, o Ministério da Fazenda não sinalizou se renovará a política de correção da tabela. Para o Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco), mesmo com a correção nos últimos quatro anos, a tabela do IRPF ainda está defasada. Cálculos do Sindifisco indicam que o porcentual de defasagem da tabela do IR foi de 64,1% entre 1995 e 2010. A defasagem corresponde às perdas inflacionárias do período.
No dia de seu aniversário de 63 anos, a presidente eleita, Dilma Rousseff, visitou uma escola de educação infantil vizinha ao prédio onde mora, na zona sul de Porto Alegre.
É fato que a China hoje exerce um papel fundamental e estratégico no mundo que aos poucos se tornou um dos maiores parceiros comerciais do Brasil - considerado um dos países que mais faz negócios com os chineses. Com o crescimento do país asiático e a entrada de seus investidores no mercado nacional, ganha mais quem tiver conhecimento em mandarim. Este profissional estará apto a disputar uma vaga no mercado de trabalho, tendo em vista o crescente número de transações entre empresários das duas nações. Pensando assim, cada vez mais profissionais brasileiros têm se qualificado através da língua oficial do gigante asiático.Entre as companhias que já se deram conta de que falar o mesmo idioma dos executivos chineses é estratégia de negociação, estão algumas grandes, como a Dell Computadores, a Gerdau, a Oceano Express, a Pucrs e pequenas e médias do mercado de importação e exportação. Estes são somente exemplos de empresas que fizeram parceria com escolas de idiomas para propiciar o ensino do mandarim a seus colaboradores e alunos. Depois do aprendizado básico, que leva em torno de três anos, os funcionários estão preparados para atender aos chineses na mesma língua.Por outro lado, multinacionais e empresas chinesas estão procurando as escolas de idiomas, em busca de falantes de mandarim. No Centro de Idioma e Cultura NinHao, em São Paulo, é frequente o contato de companhias que não conseguiram encontrar profissionais qualificados através dos chamados “caça-talentos”. A demanda é alta, geralmente para preencher vagas nas áreas industrial e de importação e exportação. “Alguns alunos conseguiram emprego e se mudaram para a China”, afirma Ming Tsung Wu, diretor da escola.Na Capital, a CI Porto Alegre, empresa de intercâmbio e turismo, oferece estágio na China, nas áreas de hotelaria, jornalismo, web designer, marketing, arquitetura, TI, entre outras. O programa acontece durante o ano todo em cidades como Pequim, Xangai e outras situadas em território chinês. Uma das alternativas é destinada para os que buscam unir a experiência profissional ao estudo da segunda língua mais falada pela população da China. Além do estágio, o programa oferece curso de mandarim, orientação cultural, e participação de eventos de negócios. Entre os exemplos de negócios que surgem com o objetivo de estreitar relações entre brasileiros e chineses, a China em Foco - Consultoria e Ensino é um dos espaços em Porto Alegre que há seis anos vem atendendo a profissionais que negociam com os chineses. Atualmente, 12 pequenas e médias empresas que lidam com importação e exportação de todos os setores são assessoradas pela empresária Lily yh Huey Liu. Ela diz que a tendência é de demanda emergente. “Mesmo que não se trabalhe diretamente com a China, o mínimo que as empresas têm que fazer é conhecer seu concorrente, porque a China está tomando conta do mercado”, avalia. Lily diz que existem dois desafios ao meio empresarial brasileiro destinado a negociar com o país asiático: o idioma e a falta de conhecimento da cultura chinesa. “São dois requisitos para se obter resultados diferenciados”, garante.
SÃO PAULO - Heni Ozi Cukier, principal executivo da Core Asset Management, defende o papel do mercado na elevação do status social de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza, é especializado na gestão de ativos socioambientais. Em entrevista, ele falou sobre o conceito de sustentabilidade no mundo corporativo, sobre a ascensão das classes C, D e E no País e sobre as novas perspectivas econômicas mundiais.À frente da empresa especializada na gestão de ativos socioambientais, Cukier já trabalhou no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e na Organização dos Estados Americanos (OEA). Atualmente, além de empresário, ele dá aulas do curso de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).Cukier foi entrevistado no programa "Panorama do Brasil", da TVB, pelo jornalista Roberto Müller e pela diretora de Redação do DCI, Márcia Raposo. A seguir, os principais trechos da entrevista.Roberto Müller: O que você faz, e como está vendo os avanços das preocupações ambientais e sociais no Brasil e no mundo?Heni Ozi Cukier: As questões socioambientais, hoje, são o maior problema do mundo. A questão da sustentabilidade e das mudanças climáticas é o maior desafio que existe na política externa mundial, por exemplo. Elas vão pautar tudo o que vai acontecer nos próximos anos. Na verdade, estamos passando por uma grande transformação e essas questões são essenciais. Eu voltei para o Brasil e decidi montar um negócio nesse segmento porque eu acredito que isso é o futuro, um futuro que já está acontecendo aqui. Minha empresa é gestora de ativos socioambientais, e hoje no mundo não existem mais somente os ativos financeiros, há também os ativos sociais e ambientais. Uma empresa de refrigerante, por exemplo, ela não consegue produzir o refrigerante sem a água, que é um ativo ambiental. Então, ela se deu conta de que precisa cuidar daquilo. Da mesma maneira que ela cuida de seus ativos financeiros com alguém especializado, ela precisa de alguém especializado para cuidar de seus ativos ambientais. Ou sociais. Eis o que a Core Social Asset Management, que é uma gestora de ativos socioambientais, faz: consultoria, gestão e comunicação. Nós cuidamos, administramos esses ativos, direcionamos essa verba, criamos projetos, enfim, políticas e estratégias de responsabilidade social e sustentabilidade para empresas.Márcia Raposo: Como você aplica os conceitos de segurança e de defesa, que aprendeu na ONU, dentro de uma corporação capitalista?Heni Ozi Cukier: A gente chama os problemas de segurança nacional ou de defesa de high politics, ou alta política, que é sempre a política mais difícil, a mais complicada, porque envolve interesses muito importantes para as nações. Quando você vai lidar com outros problemas que não são tão complicados, você tem uma facilidade, porque está acostumado a lidar com coisas bem mais complexas. Mas se engana quem acha que o problema da sustentabilidade não é tão complexo como os problemas de defesa, porque, hoje, resolvermos o problema, por exemplo, das mudanças climáticas, não é uma questão ambiental apenas: vai envolver a economia, a segurança nacional dos países envolvidos. Um mundo sem água é um mundo mais propício a conflitos. Ou seja, eu acho que o aprendizado que tive com as ciências políticas, e que ainda continuo tendo, está totalmente relacionado com essas questões.Roberto Müller: Até recentemente, as pessoas achavam que a questão da sustentabilidade era uma coisa restrita a proteger o meio ambiente, sobretudo nos Estados Unidos. Isso passou a ser uma preocupação muito grande de ativistas, acionistas e membros de grandes fundos de investimento.Heni Ozi Cukier: Às vezes a gente perde o foco ou a noção do que é a sustentabilidade como um todo. A sustentabilidade é um tripé, ela tem três partes: ambiental, social e econômica. Então, existe uma ênfase muito maior no lado ambiental, mas a gente não pode perder de vista os outros dois pontos, que são o social e o econômico - principalmente o econômico, quando se fala em empresa. Não dá para dizer que a empresa vai sacrificar o seu ganho ou o seu lucro para só se preocupar com o ambiental. A busca pela sustentabilidade é a busca pelo equilíbrio. Hoje, é preciso buscar um equilíbrio e trazer isso como estratégia para dentro da empresa, ou seja, dentro do core business da empresa você tem que trazer conceitos de equilíbrio econômico, ambiental e social. Não é uma busca desenfreada só para um lado, nem só para o outro. Quando se coloca o exemplo dos acionistas, é uma maneira de os indivíduos participarem e ajudarem a sociedade a encontrar um mundo mais equilibrado, através da sua participação dentro das governanças, do board e dos conselhos de votação nas empresas. Isso é uma força que vai influenciar para onde a empresa vai caminhar. A empresa que é sustentável, no sentido pleno, ela vai durar mais e vai lucrar mais. Então sustentabilidade não é um obstáculo, um problema ou uma chatice com que a empresa vai ter de se preocupar, mas uma oportunidade de ganhar dinheiro.Márcia Raposo: Dilma ganhou as eleições com uma diferença de 10% a 12 %. Ela tem o discurso social e preocupado com o ingresso na sociedade de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza, mas é justamente a área mais básica do Brasil -a dos produtores de alimentos- que a rejeita. Na sua visão, como isso pode se resolver?Heni Ozi Cukier: Eu acho que, antes de qualquer outra coisa, ela foi eleita. Por mais que tenha havido uma oposição, e pessoas que não votaram nela, é uma democracia e ela vai governar. Claro que se houver algum deslize ali, essas pessoas que votaram contra ela vão ser uma voz mais exaltada ou vão tentar demonstrar sua oposição às políticas dela. É interessante essa faixa que você colocou porque essas pessoas são as que estão preocupadas com o desenvolvimento. A discussão nessas regiões do Brasil se dá entre preservar ou desenvolver: ou a gente expande as nossas fronteiras agrícolas ou as preserva. O discurso ambientalista diz que a gente tem que preservar, o desenvolvimentista, que temos de crescer, expandir. O desenvolvimento sustentável vai buscar um equilíbrio, mas ele não trata só de preservar ou só de desenvolver: ele é o ponto de encontro entre os dois.Roberto Müller: E essa atividade, de cuidar do meio ambiente e do lado social, pode dar lucro?Heni Ozi Cukier: Pode e deve. Se ela der lucro, mais pessoas vão estar envolvidas nesse tipo de atividade, mais empresas vão estar preocupadas em fazer isso. Hoje, há três razões que levam empresas a fazer o bem: ou por uma questão ética (seus executivos têm uma postura muito firme), ou por pressão de regulamentação (o governo cria algum tipo de lei), ou por oportunidades. Este terceiro pilar é importante: se as empresas começarem a vislumbrar oportunidades de ganhar dinheiro com responsabilidade social, nós simplesmente vamos ter todas as empresas partindo para isso. Um exemplo são os mercados na base da pirâmide, que é a faixa da população -uma população composta de quatro bilhões de pessoas no mundo- mais pobre. Se você expande o mercado para lá, está ajudando as pessoas da pobreza, e lucrando. Ou seja, é possível juntar os dois mundos: ganhar dinheiro e fazer o bem.Roberto Müller: Como é que se pode ganhar dinheiro explorando a produção de bens e serviços voltados para a população que vive abaixo da linha de pobreza?Heni Ozi Cukier: Tem uma vertente nova de pensamento no mundo que está unindo a ideia de trazer os conhecimentos do setor privado e agregá-los para resolver os problemas sociais. Hoje, um dos maiores problemas que se tem no mundo é a pobreza. Para erradicá-la, a gente precisa levar desenvolvimento para as pessoas pobres. Existem quatro bilhões de pessoas que formam a base da pirâmide: são as pessoas mais pobres. Para levar riqueza a essas pessoas, é preciso expandir o mercado, incluir essas pessoas na economia. Para isso, você tem que oferecer serviços e produtos para elas. Quando faz isso, você as insere na economia formal. Elas arrumam emprego, têm acesso a ferramentas, serviços e produtos que as ajudam a se tornar microempreendedores. Você tira delas aquela barreira que impede que elas saiam da linha de pobreza. Por exemplo, você tem alguém da camada mais pobre que tem seu negócio, mas não tem como se comunicar, não tem como oferecer seus serviços. Quando esta pessoa tem acesso a um telefone celular, ela pode se tornar um microempreendedor e sair daquela condição.Roberto Müller: Como se faz isso?Heni Ozi Cukier: Você entra nesse mercado e cria produtos específicos para a necessidade dessa comunidade. Não pode ser um celular superfantasioso e cheio de recursos porque vai custar muito caro. O primeiro mito que se tem que quebrar é que essa faixa da população não tem dinheiro: sim, eles têm dinheiro. O segundo mito é que eles não dão valor à marca e aos produtos de boa qualidade: muito ao contrário, eles dão muito valor a esse tipo de coisa. Então, você cria produtos específicos para a necessidade daquela comunidade, com preços condizentes, e eles trabalham nisso. Tem um case na Índia, uma fábrica de iogurtes que foi criada. Quem trabalha nessa fábrica? As pessoas que vivem ali. Quem vende o iogurte? São as mulheres da comunidade, que saem com seus carrinhos. Toda essa operação dá lucro, todo mundo ganha dinheiro, e hoje já temos mais de 50 fabriquinhas dessas funcionando pela Índia. Este é um modelo de negócio criado por um estudioso na área de administração de empresas, nos Estados Unidos, um indiano que diz que a solução da pobreza no mundo se faz através da expansão dos mercados para as pessoas mais pobres. Mas esta não é a única maneira. Hoje você vê empresas enormes, como a GE ou a PepsiCo, que encontraram um ponto de convergência entre os seus interesses e os da sociedade. Elas começaram a perceber que dá para fazer o bem e ganhar dinheiro. E existem outras empresas que só estão ganhando dinheiro porque estão fazendo o bem. Empresas que já nascem com características de produtos ou serviços sociais e responsáveis, como na área de produtos orgânicos.Márcia Raposo: O Brasil tem uma coisa curiosa a que os grandes especialistas de economia do mundo estão prestando atenção: a ascensão das classes C, D e E. Essa ascensão, que é atribuída aos dois últimos governos, tem a ver com isso? Veja, por exemplo, a Cyrela, que é uma empresa de um fundo de pensão norte-americano. A Cyrela criou uma segunda marca para fazer casas populares, que estão vendendo mais que "pãozinho quente em padaria", como eles dizem. Eles foram para essa faixa cujas pessoas não tinham casa e às vezes nem comida. Isso está acontecendo no Brasil?Heni Ozi Cukier: Sem dúvida. Inclusive, no livro do indiano que é precursor dessa idéia tem um capítulo inteiro que fala sobre o Brasil. A telefonia móvel no País é um exemplo disso: estamos com quase 190 milhões de celulares. Com isso, você está possibilitando que as pessoas se tornem microempreendedores, que elas se comuniquem, que tenham acesso à informação - a gente vive na era da informação: se essas pessoas não tiverem acesso a isso, elas não vão sair da pobreza. A construção também. Enfim, isso já está acontecendo no Brasil, mas há espaço para muito mais. Há ainda muitas necessidades nessas comunidades, nessas classes, de produtos e serviços que não chegam até elas. O potencial é muito grande.Márcia Raposo: Parece-me que o indutor dessa situação é o Estado, que faz com que as empresas vão atrás. Você acha que agora há um espaço para as empresas irem sozinhas, sem que o governo seja o indutor?Heni Ozi Cukier: Acho que sim. O mercado brasileiro é imenso, o que falta é uma mudança do empresário brasileiro para ele perceber o tamanho da oportunidade que a gente tem aqui. Então, é muito mais uma questão de mudança de visão, de paradigmas, de expandir o horizonte e ver o que está acontecendo no mundo, e adotar isso.Roberto Müller: Há quase um consenso quanto ao fato de que o que puxa o desenvolvimento é o crédito. Como o crédito pode ser abrigado sob esse manto virtuoso?Heni Ozi Cukier: O crédito é muito importante, mas a gente tem que conseguir criar crédito de uma maneira responsável, consciente. Não adianta todo mundo começar a se endividar. No caso da Índia, do banco dos pobres do Muhammad Yunus, ele conseguiu criar um mecanismo pelo qual o superendividamento não acontecia, pois eram pequenos empréstimos feitos sempre à mulher, sendo ela a mais responsável. Dentro da cultura, ele achou o mecanismo de dar crédito e manter isso de uma forma consciente. Nós temos que achar a nossa maneira de dar crédito sem criar superendividamento ou outros problemas para as classes mais pobres.Márcia Raposo: Você acha que há no País um excesso de crédito induzido pelo Estado? O Brasil corre o risco de uma bolha?Heni Ozi Cukier: Acho que sim. Hoje, isso é um problema no Brasil. A gente precisa atentar para o que está acontecendo, não é só desenvolver de qualquer maneira. Precisamos cortar nossos gastos, o governo precisa controlar os dele. A gente está chegando a uma situação saturada. Tivemos anos bons de economia mundial que nos ajudaram a não pensar nisso, mas isso não é sustentável. A gente precisa olhar de uma forma mais equilibrada, reequilibrar as contas, parar de gastar tanto. O governo não pode gastar tanto com uma máquina tão ineficiente e tão inchada, a carga tributária não ajuda os empresários do Brasil a se desenvolverem e melhorarem. Estamos criando uma situação bastante insustentável.Roberto Müller: Voltando à questão do empréstimo para os pobres, é verdade que tudo parte da descoberta de que os pobres são adimplentes, melhores pagadores do que a classe média e os ricos?Heni Ozi Cukier: São, porque para eles aquele bem adquirido não tem só um significado de utilidade. Muitas vezes, é um outro status na vida dele. Para um pobre, ter uma geladeira carrega outro significado: é importante aquilo, por isso ele paga em dia. Este, pelo menos, é o exemplo que vemos nos modelos de microcrédito que há pelo mundo. Eu diria que, sem dúvida, [a adimplência] é uma característica das classes mais baixas, que é um dos outros mitos que as pessoas não entendem. Não fazem negócio porque acham que o pobre não vai pagar, porque não dá valor à marca, não tem dinheiro. Ao contrário, tem dinheiro e valoriza a marca, às vezes muito mais do que as classes mais altas.