Como alvo prioritário da espionagem americana, o Brasil não para de ser mencionado nos documentos secretos vazados por Edward Snowden, ex-funcionário da CIA. Mas agora, a própria presidente Dilma Rousseff é mencionada como alvo direto de espionagem da NSA (Agência Nacional de Segurança).
De acordo com documentos obtidos pelo Fantástico, da Rede Globo, tanto a presidente como seus assessores foram monitorados pelos EUA através de telefone e internet. O objetivo da espionagem é descobrir e revelar acordos secretos para acabar com a corrupção no Brasil, certo? Bem, não: os EUA querem ajudar a si próprios.
Segundo Glenn Greenwald, jornalista que vem expondo PRISM, Fairview e outros programas de espionagem, Snowden disse que “a maior parte da espionagem que eles fazem não tem nada a ver com segurança nacional. É para obter vantagens injustas sobre outras nações em suas indústrias e comércio em acordos econômicos”.
Quais vantagens? Em julho, documentos vazados mostravam que os EUA espionam vários países da América Latina, e não só por motivos militares. Há interesses econômicos: uma lista da NSA diz procurar segredos comerciais em “petróleo” na Venezuela e “energia” no México.
Com a espionagem, também é possível ganhar vantagem em negociações. A revista Época vazou uma carta escrita em 2009 por Thomas Shannon, então subsecretário de estado, agradecendo por “mais de 100 relatórios” feitos pela NSA. Eles ajudaram os EUA a se posicionar melhor na Cúpula das Américas, considerada estratégica pelo governo Obama. Shannon agora é embaixador dos EUA no Brasil.
Segundo outro documento, obtido pelo Fantástico, há uma divisão inteira da NSA dedicada à política internacional e atividades comerciais. E outro documento lista os desafios que os EUA terão que enfrentar no mundo até 2019, incluindo o fortalecimento de países como Turquia e Brasil. Aparecemos como uma incógnita para o futuro deles: nosso país é amigo? Inimigo? Um problema?
Espionando Dilma
O documento, chamado “Filtragem inteligente de dados: estudo dos casos México e Brasil”, datado de junho de 2012, revela como a NSA consegue ficar de olho em políticos da América Latina, incluindo Dilma e seus assessores.
Graças a programas como o Fairview, os EUA conseguem acesso aos cabos submarinos que ligam as redes de telecomunicações pelo mundo. E, como vimos antes, a NSA tem uma parceria com uma grande empresa de telefonia dos EUA, que mantém relações com outras no Brasil. Dessa forma, o Fairview consegue coletar e-mails e registros telefônicos de milhões de brasileiros.
O acesso aos dados não é problema. E como diz o documento, a NSA consegue encontrar, sempre que quiser, uma agulha no palheiro. Por isso, após escolher o alvo, basta monitorar seus números de telefone, e-mails e endereço IP. Dessa forma, eles espionam um “pulo” (hop) de comunicação, ou seja, as conversas entre o alvo e seus assessores.