
O Dia Internacional do Biodiesel, 10 de agosto, marca a primeira vez em que um motor à combustão funcionou utilizando óleo de amendoim, em 1893, pelas mãos do engenheiro mecânico alemão Rudolf Diesel – que também é o criador do primeiro protótipo de motor a diesel. No Brasil, o uso do revolucionário combustível produzido a partir de óleos de origem vegetal ou animal ganhou força há 20 anos, a partir da criação do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), que instituiu em lei o acréscimo obrigatório de uma porcentagem de biodiesel ao óleo diesel fóssil.
Marco na transição energética no Brasil, os resultados do PNPB são notáveis. Em termos ambientais, o programa evitou a emissão de 240 milhões de toneladas de CO2, contribuindo significativamente para a mitigação das mudanças climáticas. Economicamente, a produção de 77 bilhões de litros de biodiesel em 20 anos resultou em uma economia de aproximadamente 38 bilhões de dólares em importações de diesel, conforme dados do Ministério de Minas e Energia.
Atualmente, a soja representa cerca de 74% do total de óleo vegetal empregado na fabricação de biodiesel no Brasil e, segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a crescente demanda por fontes renováveis na matriz energética tem estimulado a exploração de uma ampla variedade de espécies vegetais como alternativas para a produção de biodiesel. A instituição estima que cerca de 350 plantas possuem potencial para esse fim. Há também as alternativas de gordura animal, com o sebo bovino como a segunda maior fonte de produção de biodiesel, contribuindo com aproximadamente 15% da produção do país conforme estudo da Fundação Eco+ sobre biocombustíveis.
Outro avanço que veio para consolidar e expandir o setor foi a sanção da Lei do Combustível do Futuro em outubro de 2024, que estabelece um conjunto de diretrizes para a descarbonização e a transição energética, incluindo novas regras para o avanço percentual da mistura de biodiesel. Recentemente, a proporção obrigatória de biodiesel no diesel aumentou de 14% para 15% (B15), com a perspectiva de alcançar 20% até março de 2030. Essas iniciativas reforçam o posicionamento dos biocombustíveis como um eixo estratégico para o desenvolvimento sustentável do Brasil, promovendo a redução da dependência de combustíveis fósseis e a diminuição da necessidade de importações, cenário particularmente relevante diante da volatilidade do mercado global.
A evolução do setor ganha força com empresas que já utilizam frotas com uso exclusivo do biodiesel puro (B100). A BASF, por exemplo, inclui em sua estratégia logística o uso de caminhões B100 para o transporte de metilato de sódio – um catalisador essencial na produção de biodiesel – de sua fábrica em Guaratinguetá até as unidades produtoras de seus clientes em todo o Brasil. Essa iniciativa reflete um ciclo virtuoso de sustentabilidade, no qual o produto final é utilizado no transporte de sua própria matéria-prima. Outras empresas da cadeia produtiva do biodiesel também têm adotado com sucesso o B100, o que tem impulsionado a oferta de caminhões fabricados para operar exclusivamente com biocombustível ou em modelos flex, permitindo a alternância entre diesel e biodiesel puro.
Além dos expressivos ganhos ambientais e econômicos, o programa de biodiesel gera impactos socioeconômicos fundamentais. As diretrizes incluem o fomento à aquisição de matérias-primas do Programa Selo Biocombustível Social, estabelecendo que as indústrias de biodiesel deverão adquirir até 20% dos insumos de pequenos produtores até 2026. Esta medida visa promover a inclusão social na cadeia produtiva, com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar projetando um incremento de R$ 600 milhões na renda das famílias participantes e a expectativa de inclusão de 5 mil novas famílias da agricultura familiar.
Os resultados positivos alcançados pelo biodiesel e outros biocombustíveis no Brasil são motivo de celebração. Eles representam um avanço substancial em direção a uma transição energética robusta e promissora para o país, consolidando o Brasil como um ator relevante na construção de um futuro mais sustentável e equitativo.
Ronei Zan
Gerente de Contas Chave para Metilato na BASF