O processo tem motivação econômica: maiores, os bancos têm o chamado ganho de escala, que é a redução proporcional do custo de sua operação. Conseguem, ainda, economizar em operações mais simples, como compra de material de escritório, e na montagem dos complexos sistemas de tecnologia da informação. “Esse processo não é exclusividade dos bancos brasileiros e nem do sistema financeiro. Para serem mais competitivos, muitos setores passaram por grande concentração, como telefonia, transporte aéreo, indústria farmacêutica”, enumera o presidente da Austin Rating, Erivelton Rodrigues.
“É um ciclo que se autoalimenta. Maiores, os bancos têm mais fôlego para comprar outros ou crescer organicamente.” A concentração bancária costuma ser observada pelos ativos - que são os créditos, direitos, bens e valores a receber que o banco detém. Por essa característica, a participação dos cinco grandes bancos saltou de 45,6% em 2000 para 64,9% em junho de 2010. Em ritmo semelhante, as operações de crédito desse grupo saltaram de 49,2% para 65,5% de todo o sistema financeiro.
O professor de finanças da Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), José Pereira da Silva, afirma que essa concentração é resultado de um movimento amplo, iniciado há quase duas décadas. Em meados dos anos 90, após a criação do Plano Real, o governo decidiu reestruturar e fortalecer o sistema financeiro com ajuda dos recursos públicos para impedir que a economia se contaminasse com eventual debilidade dos bancos.
No fim dos anos 90 e início dos anos 2000, a segunda fase da consolidação aconteceu com os bancos privados, que passaram a comprar casas menores para ganhar força e escala. Mais recentemente, houve outra onda que passou a contar também com aquisições de bancos públicos. “A concentração tem um aspecto positivo, que é de dar mais segurança para os clientes, já que bancos fortes têm menor risco na operação”, diz Silva.
A concentração, no entanto, tem um aspecto negativo para os clientes, que é a diminuição da concorrência. Com menos casas no mercado, a iniciativa de reduzir juros e taxas ou melhorar serviços pode ser menos urgente que em um cenário com muitas instituições e pulverizado. “É mais difícil concorrer quando você tem cinco ou seis bancos grandes. Mas isso não quer dizer não haja nenhuma concorrência”, diz Silva. Nos últimos dois anos, instituições públicas incentivaram a maior concorrência com a oferta de crédito com taxas menores.
Mesmo com a concentração crescente, analistas descartam o fim do processo de consolidação. “Não diria que chegamos a um teto. Até porque durante a crise de 2008 bancos públicos desempenharam um papel importante e ganharam mercado. Os privados vão reagir para tentar recuperar o espaço”, prevê Rodrigues.
Uma das possibilidades que já está em curso é a união das instituições financeiras para tentar reduzir custos. Concorrentes como BB, Bradesco, Santander e Caixa preparam o compartilhamento dos caixas eletrônicos e novas parcerias em áreas como cartões de crédito.
Fonte: Jornal do Commercio