Por Rafaella Martinez Vicentini e William Rodriguez Schepis - Ecofaxina
Os estudos estão sendo realizados em parceria com a Universidade Santa Cecília (UNISANTA), Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN).
Mapa com os pontos onde foram coletadas amostras de água. |
As amostras de água foram entregues para os biólogos mestres Fernando Sanzi Cortez e Fabio Pusceddu, do Laboratório de Ecotoxicologia da Unisanta. Eles conduzirão as análises que incluem parâmetros físico-químicos da água como pH, amônia, oxigênio dissolvido, salinidade e sulfetos, além de testes de toxicidade (toxicidade crônica com embriões de ouriço). Frações das amostras foram enviadas também para o professor Dr. Denis Abessa, da UNESP, onde serão conduzidos testes de toxicidade crônica com copépodos (Nitokra sp).
Amostras ostras dissecadas e prontas para análise de biomarcadores. |
Monitoramento e resultados
Amostra coletada no ponto 5, próximo ao incêndio, causou letalidade total em testes com embriões de ouriço, indicando alto nível de toxicidade da "água" que escorria dos tanques para o estuário. |
O monitoramento ambiental continuará com coletas periódicas de água e sedimento, possibilitando uma avaliação mais precisa dos impactos ambientais no sistema estuarino. Também serão realizadas saídas com pescadores para verificação da disponibilidade e da qualidade do pescado. Os dados serão unificados e constarão em um relatório que será disponibilizado online e enviado ao Ministério Público Federal e demais órgãos competentes.
Cresce números de espécies conhecidas
Em coletas de amostras de peixes do estuário, feita pelo Laboratório de Pesquisas Biológicas do Acervo Zoológico da Universidade Santa Cecília (Unisanta) durante o incêndio, o biólogo e pesquisador Matheus Rotundo detectou que "cresceu" o número de espécies no estuário de Santos.
Desastre ecológico: contaminação causou a morte de milhões de peixes e invertebrados. |
De acordo com Rotundo, estudos realizados em 2012 encontraram 78 espécies na região. A coleta realizada durante o incêndio da Ultracargo registrou 64 novas espécies o que fez subir para 142 o número de espécies conhecidas identificadas no estuário de Santos. “Na verdade o número cresceu ainda mais, pois não foi possível identificarmos algumas espécies, tendo em vista que muitos exemplares coletados perderam características morfológicas que os diferenciam e servem de base para identificação”, destacou o biólogo. "Com a mortandade, espécies difíceis de capturarmos em amostragens, seja por escassez de indivíduos, isolamento, hábito ou comportamento, acabaram aparecendo", completou Rotundo.
A lista das espécies encontradas foi enviada por Rotundo para o Ministério Público Federal. |
Pelo menos seis espécies registradas no levantamento estão ameaçadas de extinção, conforme as portarias nº 444 e 445/2014, do Ministério do Meio Ambiente: Epinephelus itajara (mero), Rhinobatos horkelii (raia viola) e Megalops atlanticus (Pirapema), categorizadas como criticamente em perigo, Pogonias cromis (miraguaia) e Genidens barbus (bagre branco), em perigo, e Epinephelus marginatus (garoupa) e Hippocampus reidi (cavalo marinho), classificadas como vulneráveis.
A mortandade de certa forma ajudou na identificação de espécies que vivem no estuario de Santos. |
Danos a longo prazo
Rotundo considera que as consequências ambientais do incêndio foram sérias e que os danos levarão anos para serem contornados. “Os aspectos reprodutivos dos peixes foram seriamente afetados e muitas das espécies se reproduzem apenas uma vez por ano. Além disso, como o próprio nome diz, um Estuário é um intermediário entre as águas do mar e dos rios. O incêndio afetou os peixes dos dois ambientes”, afirmou o biólogo.