Quarta, 30 Julho 2025
Editorial | Coluna Dia a Dia

Em meio à guerra EUA/China pela hegemonia no mundo, Brasil sente um “dèja vu” invertido, lembrando como Getúlio Vargas firmou sua posição no assunto. Os integralistas apoiavam o nazismo, que mostrava as garras, invadia país após país sem resistência. Os EUA preferiram a tática da sedução, oferecendo apoio (Companhia Siderúrgica Nacional surgiu assim), diversão (Carmen Miranda, Zé Carioca) e o novo ‘american way of life’.

Agora, o Donald é outro, os ‘quacs’ histéricos que nos divertiam foram substituídos por tarifaços incoerentes, desrespeito, ameaças e ordens de submissão, equiparáveis às atitudes nazistas. Antes arrogância incômoda, agora se revela em todas as suas cores, especialmente o alaranjado. Quem hoje usa a tática da sedução é a China: às atitudes do “imperador” ianque, contrapõe abertura de seu mercado consumidor, vultosos investimentos, respeito e solidariedade ao Brasil.

O tarifaço absurdo e inegociável de 1º/8/2025, as portas da diplomacia (?) fechadas ao Brasil, a vassalagem imposta via recados em rede social, equivale ao afundamento de navios brasileiros em nosso litoral pelos nazistas, sem declaração de guerra, forçando o Brasil a entrar na Segunda Guerra Mundial.

Veja mais: Rota da Seda II etc.: Brasileiros têm medo? – Portogente, 17/7/2025

Em artigos anteriores, mostramos que, embora tornando-se necessário e sem volta, o caminho alternativo também é perigoso. Até que ponto o que é bom para a China é bom para o Brasil? Mesma pergunta que fazíamos em relação aos EUA, finalmente temos a resposta.

A questão é que o porto santista, seu entorno e seus utilizadores precisam ser mais enfáticos nas reivindicações e cobrar atitudes dos representantes. No ritmo em que estamos, Santos deveria ter medo.

Veja mais: O equívoco no corredor logístico que ligará portos do Brasil ao Pacífico – Veja, 3/5/2025

E por quê? Vários motivos. Começando pelo maior: o Brasil assinou com a China os protocolos iniciais para a instalação de ferrovias, terminais portuários e toda a logística tendo como prioridade explícita recriar aqui a histórica Rota da Seda, versão II. Acabará até desviando as rotas de comércio marítimo que marginalizavam a América do Sul, para que prioritariamente passem pelo Brasil.

Teremos benefícios indiretos, porém será mais proveitoso para todos, em diálogo ganha-ganha, se esses investimentos também provocarem efetivamente o desenvolvimento brasileiro.

A questão: a ferrovia transoceânica era pensada como ligando portos chilenos a Santos. Virou projeto rodoviário. A China criou a rota Xangai-Chankay e inicia uma ferrovia bioceânica ligando o Peru com Ilhéus/BA. E com o porto de Santana (Macapá/AP).

Se insistir muito, Santos talvez ‘até’ ganhe um ramal ferroviário desde a Bahia. Saindo de foco, fica abandonada a políticos nacionais e suas especulações. Emenda Pix?

Veja mais: Nova rota marítima Brasil-China vai reduzir tempo e valor do frete – Estadão, 17/4/2025

Porto ‘offshore’ para supernavios? Megaporto em Praia Grande? Acessos terrestres? Novos terminais privados? Administração/autoridade portuária? Aeroporto regional? Debates intermináveis, promessas engavetadas...

Agora mesmo, a promessa quase centenária do túnel Santos-Guarujá pode novamente afundar no esquecimento, falta só definir um pretexto. Era para ser trabalho conjunto dos governos estadual e federal, agora em polos cada vez mais distanciados. Algum estadista de plantão, para colocar os interesses nacionais acima dos seus? Pensar como a Baixada Santista será afetada em termos viários, urbanísticos, sociais...?

Assistiremos passivamente a História acontecer, até que nos diga o que perdemos por não tomarmos as rédeas dessa carruagem no tempo certo. Que é AGORA.

Veja mais: Governo Lula é mal exposto em Santos pelo Ministro dos Portos – Portogente, 21/7/2025

Muito se fala sobre comando do porto: local, regional, estadual ou federal? Se exercido tecnicamente, com foco real em resultados para região e País, nem importa quem seja. Mas, se for para ser cabide de empregos e tabuleiro para jogadas contrárias aos interesses nacionais e regionais...

Santos cresceu como porto privado (Gaffrèe & Guinle/CDS) e até com centralização em Brasília (Portobrás/Codesp). Lembremos que iniciativa privada e comunidade regional não se interessaram pela oferta pública de ações da nova Codesp. Episódio notável foi um jornalista comprar 1 ação para ter assento nas assembleias societárias, repassando depois esse título à Prefeitura santista. Bem, o organograma atual desta Prefeitura classifica como “ativa” a Secretaria de Assuntos Portuários e Emprego (Seporte).

Estadualização? Talvez. O que preocupa: quem hoje a defende pode pensar diferente nas próximas eleições, se buscar posição política no âmbito federal. Entretanto, o histórico da governança paulista nos lembra que o porto de São Sebastião (estadual) também não teve até hoje seus atributos melhor aproveitados...

Veja mais: Eterno leilão – Portogente, 13/2/2025

Santos deveria ter medo do que vem por aí.

Projetos ferroviários da empresa federal Infra. Encontre Santos no mapa.
Projetos ferroviários da empresa federal Infra. Encontre Santos no mapa.
Imagem: reprodução/site Infra S.A., 22/7/2025

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*O Dia a Dia é a opinião do Portogente

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