Em meio à guerra EUA/China pela hegemonia no mundo, Brasil sente um “dèja vu” invertido, lembrando como Getúlio Vargas firmou sua posição no assunto. Os integralistas apoiavam o nazismo, que mostrava as garras, invadia país após país sem resistência. Os EUA preferiram a tática da sedução, oferecendo apoio (Companhia Siderúrgica Nacional surgiu assim), diversão (Carmen Miranda, Zé Carioca) e o novo ‘american way of life’.
Agora, o Donald é outro, os ‘quacs’ histéricos que nos divertiam foram substituídos por tarifaços incoerentes, desrespeito, ameaças e ordens de submissão, equiparáveis às atitudes nazistas. Antes arrogância incômoda, agora se revela em todas as suas cores, especialmente o alaranjado. Quem hoje usa a tática da sedução é a China: às atitudes do “imperador” ianque, contrapõe abertura de seu mercado consumidor, vultosos investimentos, respeito e solidariedade ao Brasil.
O tarifaço absurdo e inegociável de 1º/8/2025, as portas da diplomacia (?) fechadas ao Brasil, a vassalagem imposta via recados em rede social, equivale ao afundamento de navios brasileiros em nosso litoral pelos nazistas, sem declaração de guerra, forçando o Brasil a entrar na Segunda Guerra Mundial.
Veja mais: Rota da Seda II etc.: Brasileiros têm medo? – Portogente, 17/7/2025
Em artigos anteriores, mostramos que, embora tornando-se necessário e sem volta, o caminho alternativo também é perigoso. Até que ponto o que é bom para a China é bom para o Brasil? Mesma pergunta que fazíamos em relação aos EUA, finalmente temos a resposta.
A questão é que o porto santista, seu entorno e seus utilizadores precisam ser mais enfáticos nas reivindicações e cobrar atitudes dos representantes. No ritmo em que estamos, Santos deveria ter medo.
Veja mais: O equívoco no corredor logístico que ligará portos do Brasil ao Pacífico – Veja, 3/5/2025
E por quê? Vários motivos. Começando pelo maior: o Brasil assinou com a China os protocolos iniciais para a instalação de ferrovias, terminais portuários e toda a logística tendo como prioridade explícita recriar aqui a histórica Rota da Seda, versão II. Acabará até desviando as rotas de comércio marítimo que marginalizavam a América do Sul, para que prioritariamente passem pelo Brasil.
Teremos benefícios indiretos, porém será mais proveitoso para todos, em diálogo ganha-ganha, se esses investimentos também provocarem efetivamente o desenvolvimento brasileiro.
A questão: a ferrovia transoceânica era pensada como ligando portos chilenos a Santos. Virou projeto rodoviário. A China criou a rota Xangai-Chankay e inicia uma ferrovia bioceânica ligando o Peru com Ilhéus/BA. E com o porto de Santana (Macapá/AP).
Se insistir muito, Santos talvez ‘até’ ganhe um ramal ferroviário desde a Bahia. Saindo de foco, fica abandonada a políticos nacionais e suas especulações. Emenda Pix?
Veja mais: Nova rota marítima Brasil-China vai reduzir tempo e valor do frete – Estadão, 17/4/2025
Porto ‘offshore’ para supernavios? Megaporto em Praia Grande? Acessos terrestres? Novos terminais privados? Administração/autoridade portuária? Aeroporto regional? Debates intermináveis, promessas engavetadas...
Agora mesmo, a promessa quase centenária do túnel Santos-Guarujá pode novamente afundar no esquecimento, falta só definir um pretexto. Era para ser trabalho conjunto dos governos estadual e federal, agora em polos cada vez mais distanciados. Algum estadista de plantão, para colocar os interesses nacionais acima dos seus? Pensar como a Baixada Santista será afetada em termos viários, urbanísticos, sociais...?
Assistiremos passivamente a História acontecer, até que nos diga o que perdemos por não tomarmos as rédeas dessa carruagem no tempo certo. Que é AGORA.
Veja mais: Governo Lula é mal exposto em Santos pelo Ministro dos Portos – Portogente, 21/7/2025
Muito se fala sobre comando do porto: local, regional, estadual ou federal? Se exercido tecnicamente, com foco real em resultados para região e País, nem importa quem seja. Mas, se for para ser cabide de empregos e tabuleiro para jogadas contrárias aos interesses nacionais e regionais...
Santos cresceu como porto privado (Gaffrèe & Guinle/CDS) e até com centralização em Brasília (Portobrás/Codesp). Lembremos que iniciativa privada e comunidade regional não se interessaram pela oferta pública de ações da nova Codesp. Episódio notável foi um jornalista comprar 1 ação para ter assento nas assembleias societárias, repassando depois esse título à Prefeitura santista. Bem, o organograma atual desta Prefeitura classifica como “ativa” a Secretaria de Assuntos Portuários e Emprego (Seporte).
Estadualização? Talvez. O que preocupa: quem hoje a defende pode pensar diferente nas próximas eleições, se buscar posição política no âmbito federal. Entretanto, o histórico da governança paulista nos lembra que o porto de São Sebastião (estadual) também não teve até hoje seus atributos melhor aproveitados...
Veja mais: Eterno leilão – Portogente, 13/2/2025
Santos deveria ter medo do que vem por aí.
Projetos ferroviários da empresa federal Infra. Encontre Santos no mapa.
Imagem: reprodução/site Infra S.A., 22/7/2025