Sábado, 19 Julho 2025

Enquanto um presidente estadunidense usa seu TACO para investir sem argumentos contra outras economias...

Enquanto um presidente estadunidense usa seu TACO para investir sem argumentos contra outras economias, causando interessante rachadura entre seus protegidos e ajudando a reeleger seus supostos inimigos, há muito mais questões prioritárias entre o céu e a terra que poderia supor nossa vã filosofia. E que têm potencial para mudar o mundo que conhecemos. Mas, comecemos pelo óbvio ululante.

Veja mais: Rota da Seda II etc.: Trump está com medo – Portogente, 10/7/2025

É visível a crescente debilidade financeira dos EUA, atestada por agências de classificação de risco. A própria promessa estampada nos bonés MAGA (‘made in China’...), ‘Faça a América Grande Novamente’, reconhece a grandeza perdida.

De fato, em 1971 o dólar deixou de ser lastreado em ouro, passando a depender da confiança mundial em sua estabilidade (ou seja, é uma moeda fiduciária). Nos últimos anos, com inflação descontrolada (que Trump acelerou com a aprovação, dia 3/7, do megapacote de gastos supérfluos e corte de investimentos essenciais), esse país vem descendo a ladeira. A globalização econômica que os EUA agora querem cancelar terceirizou cadeias produtivas, tirando desse país o controle pleno da própria economia.

Veja mais: SWIFT - Wikipédia

A perda de confiança na estabilidade do dólar americano – que lhe permitia imprimir moeda para cobrir rombos financeiros e fazer o mundo pagar por eles – somou-se ao questionamento do controle ianque de instrumentos como o sistema SWIFT de pagamentos interbancários. Ao ser desvirtuado com usos secretos (2010) e como sanção contra a Rússia (2022), o SWIFT revelou sua fragilidade, pois a China foi convencida a usar o sistema russo SPFS. E os BRICSs flertam com a ideia de um SWIFT próprio.

O dólar substituiu a libra esterlina como moeda de reserva (acordo Bretton-Woods, 1944). O euro é atrelado ao dólar, por isso não incomoda muito o Tesouro estadunidense, já que os países precisam manter reservas em dólar, obtidas via comércio com os EUA, para ajustar paridade.

Veja mais: Por que os países atrelam sua moeda ao dólar – 16/2/2021

Já o crescimento do uso de moedas locais, como entre Brasil e China, desdenhando o dólar, causa uma sangria no poder dessa moeda, pois evita pagamento do “pedágio” representado pela conversão monetária via USD. Mais ‘grave’: esses países deixam de ser reféns das políticas estadunidenses, pois não precisam captar dólares para seus negócios. Em vez de BRL-USD-CNY, apenas BRL-CNY.

Veja mais: Bancos centrais de Brasil e China firmam acordo para troca de moedas – 12/5/2025

Nem é preciso criar moeda comum, basta continuarem usando as próprias moedas em trocas bilaterais. Isso é o que assusta Trump: ele perde fluxo de capitais que sustenta seu monstruoso déficit financeiro. A inflação crescente mina a confiança fundamental no dólar como moeda de reserva, levando à progressiva queda, como ocorreu há 81 anos com a poderosa libra esterlina.

Lula, Trump e Xi Jinping (e outros) sabem que Tio Sam tem pés de barro, e que criar moeda própria é complicado, demorado e até desnecessário (por enquanto). Para ganhar essa batalha silenciosa, só precisam no momento aperfeiçoar as trocas bilaterais (viu a notícia acima?). O resto é conversa.

Com os EUA se retirando dos negócios mundiais graças a Trump, enormes espaços são aproveitados por muitos países. Eles descobriram não ser preciso ceder à chantagem do dólar, a alternativa é criarem padrões próprios de paridade para negócios fora da zona do USD. Além de se fortalecerem, fazem a chantagem se virar contra o autor, assim isolado.

Veja mais: Produção global de milho cresce para a safra 2025/26, mas estoques caem e preços recuam nas bolsas - 20/5/2025

Neste contexto, outras questões têm reflexos bem maiores que simples ameaça de tarifaço. Lembremos que para muitas empresas 2025 já terminou (anteciparam as transações até 30/6), talvez nem haja o que taxar. Até reiniciarem o comércio em 2026, há um tempo precioso para estabelecer ou ampliar parcerias.

Por exemplo, a questão do milho está pipocando: nosso País precisa atentar ao impacto do “Custo Brasil” num mercado em que tem perdido competitividade frente à Argentina e ao Canadá (que encontrou no porto de Vancouver a saída para concorrer plenamente na venda de milho à China).

Veja mais: Canadá está movimentando mais grãos - 19/8/2019

Os chineses, por sua vez, estão elevando fortemente a produção, podendo em breve atingir a autossuficiência e até manipular preços internacionais através da estocagem do produto. Recado: a soja é o próximo item da lista.

Enquanto governador e presidente disputam horário na agenda dos empresários, apenas de olho nos eleitores, empresas atentas descobrem novos caminhos. A Embraer, citada como grande vítima do tarifaço, fechou acordo bilionário com a Dinamarca (talvez com valiosa “ajuda” de Trump e sua ameaça de anexar a Groenlândia...).

Veja mais: Embraer vende 45 jatos para companhia aérea da Dinamarca por R$ 21,8 bi - 14/7/2025

As exportações brasileiras, baseadas nas chamadas ‘commodities’, têm uma flexibilidade que não deve ser desprezada, pois facilita mudar as rotas dos navios carregados, se o destino original ficar inviável. O problema nacional está mais em fazer certos empresários e agentes comerciais abandonarem a postura de sentar e esperar clientes, em vez de buscarem ativamente por eles e por formas de atendê-los com preço e qualidade.

Veja mais: Brasil entra nas Novas Rotas da Seda (BRI) à brasileira - 25/7/2024

Os brasileiros podem até reeditar o truque de Getúlio Vargas, que flertou com nazistas e ianques para obter grandes vantagens econômicas para o Brasil nos anos 1940. Agora, os alvos do flerte seriam seus dois maiores mercados, EUA e China. Só que a era da inocência do Zé Carioca e da Carmen Miranda acabou. Se é que existiu.

Veja mais: A Iniciativa da Nova Rota da Seda – A Estratégia Marítima Chinesa à luz de Alfred Thayer Mahan – PDF (2022)

É preciso decidir rapidamente se queremos investimentos bilionários da China, aderindo à moderna Rota da Seda que alavanca interesses chineses, ou continuar na órbita ianque, cada vez mais errática. Enquanto uns se mostram arrogantes e desrespeitosos para com o Brasil, outros têm forte interesse em apoiar as posições brasileiras na diplomacia internacional.

Mas... até que ponto conseguiremos conciliar investimentos ferroviários sul-americanos da China com legítimos interesses no desenvolvimento brasileiro? Por quem os sinos (chinos) dobram?

Veja mais: Brasil, China e Índia podem ser punidos por negócios com Rússia, alerta secretário-geral da OTAN – 15/7/2025

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Resposta às ameaças de Trump veio... a jato!
Foto: divulgação - André Machado/Embraer

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