📌 Editorial - Coluna Dia a Dia
O jogo de palavras do título não é por acaso, seu sentido é mais profundo e a ideia precisa ser mais exercitada no Brasil. Verdade que temos hoje cursos de Comércio Exterior, de Logística e outras atividades ligadas às operações portuárias e ao transporte marítimo de cargas. Mas, para sermos campeões, precisamos ampliar estruturas, obter mais apoio social e patrocínio empresarial (não esquecendo a natureza lucrativa desse apoio).
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Buscando responder à pergunta do economista Roberto Pavek, “por que o setor portuário brasileiro despertava tão pouco interesse da academia?”, lembremos como a simbiose empresa-academia foi desenvolvida nos EUA.
Lá como cá, existem as instituições de qualidade para ensinar – a operar empilhadeira, por exemplo –, e empresas que apóiam a atividade, tendo como contrapartida alcançar melhor perfil funcional. A diferença é que lá foi estimulada a parceria direta em pesquisa e desenvolvimento, a “universidade empreendedora”, cujo maior expoente foi o Massachusetts Institute of Technology (MIT), criado em 1861. A gênese das ‘start-ups’ está ali...
Entretanto, equacionar a propriedade intelectual dos trabalhos desenvolvidos no âmbito acadêmico foi, para os estadunidenses, primordial para o sucesso, a partir de 1980, quando foi editado o Bayh-Dole Act, como explica João Maria de Oliveira em seu estudo publicado pelo IPEA: “(...) as universidades incorporaram em sua missão a geração de desenvolvimento econômico e social. Tal papel se realiza por meio da transferência de tecnologias desenvolvidas por elas às empresas”.
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Para usar uma palavra da moda: formou-se lá todo um arcabouço de empreendedorismo multifacetado, apoiando ativamente o desenvolvimento da economia. Algo semelhante ao desafio que foi aceito pela cidade sueca de Malmö, ao apoiar a criação em 1983 da World Maritime University (WMU).
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Em Santos, algumas instituições e empresas tentam seguir essa linha, destacando-se o Centro de Excelência Portuária de Santos (Cenep), criado em 2007 e operacional desde 27/10/2008: ainda muito novo na comparação com os congêneres, ainda muito focado no ensino, mas com a proposta de formar parcerias com empresas para desenvolvimer o setor.
Coloquemos nesse fogo também “nossa sardinha”: Portogente tem igualmente esse objetivo (desde 2003), seja pelos cursos da Escola Virtual (EVP), seja pelas pesquisas, seja por manter canais de debates como este.
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São caminhos sempre de mão dupla, em que empresas ajudam universidades por meio de parcerias de pesquisa e desenvolvimento que ajudam empresas, ambos ganham. Não é algo para mera dedução anual no IRPJ ou obtenção de benefícios fiscais, mas fruto da mentalidade consolidada de desenvolver melhores caminhos para a atividade portuária e marítima. Bem próximo do mecenato que apoiou grandes artistas e museus mundo afora.
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Na terra da (simbólica) Escola de Sagres, foi feita uma comparação entre leis e incentivos ao mecenato em dois continentes, que colocamos em diálogo com a brasileira ‘Carta IEDI n. 976’, ressaltando que “a ausência de fortes elos entre a academia e o setor empresarial é uma das deficiências de nosso sistema de inovação brasileiro”.
Veja mais: Carta IEDI n. 976 - Interação entre universidade e empresa no Brasil e no Mundo (14/2/2020)
Debruçando-se sobre um relatório de 2019 da OCDE, “University-Industry Collaboration: Evidence and Policy Option”, o documento do IEDI mostra otimismo quanto ao crescimento das parcerias no Brasil (investimento empresarial maior que nos EUA), mas ressalta disparidades (baixo percentual de patentes obtidas), apontando ainda diferenças importantes na abordagem do tema em cada país (e seus efeitos).
Veja mais: Academia – Academia de Platão – Universidade - Wikipédia
Há mais palavras a escrever do que as possíveis neste espaço, mas estas servem de base para os debates. Enfim, a Academia de que tratamos é a universidade do sentido tradicional que lhe deram as civilizações, desde a fundada por Platão em 387 a.C. (digna sucessora da criada em 3.500 a.C. pelos sumérios). Não é aquela academia (desportiva) que os brasileiros hoje reconhecem em locais com múltiplos aparelhos para exercícios físicos.
Ainda assim: vamos “malhar” neste assunto? Exercitar neurônios para encontrar formas de ampliar e fortalecer vínculos produtivos universidade-empresa em Santos, num exemplo para o Brasil?

Imagem criada com inteligência artificial por DALL·E, com assistência de ChatGPT (OpenAI).