Terça, 03 Dezembro 2024

Economistas, advogados, administradores e outros especialistas alertaram para inúmeros pontos que mereceriam atenção.

Dia destes, um trabalho colaborativo na rede social Linkedin versava sobre os aspectos que deveriam merecer atenção ao se contratar serviços de logística. Economistas, advogados, administradores e outros especialistas alertaram para inúmeros pontos que mereceriam atenção, e o fizeram muito bem, com toda a competência e seus enormes saberes, acumulados em anos de aprendizado e atividade.

O que teria um jornalista a acrescentar a tanto conhecimento reunido? Bem, mesmo sem ser sommelier ou gourmet, nem sequer um gourmand raffiné, era possível notar que o prato estava pronto, só faltava - para usar uma expressão da moda - harmonizar tudo com um bom vinho...

Considerações alimentares à parte, era possível notar nas ponderações dos especialistas uma grande atenção aos detalhes técnicos, jurídicos e comerciais, dentro das especialidades deles, mas a falta de uma certa visão de conjunto. O Plano A estava todo ali, perfeito. Mas, na prática a teoria é outra. Faltava o plano B. Para não dizer, em nossos tempos tão voláteis, também o plano C.

Estava tudo ali para se contratar corretamente uma empresa, exceto a verificação e avaliação de sua capacidade de adaptação a situações adversas. Em logística, isso pode ser decidivo.

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Capa do antigo jornal santista 'Expresso Popular', em 11/12 de abril de 2015

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Imaginemos que a necessidade do cliente seja "simples": transportar cargas da capital paulista para o porto de Santos. Duas opções se impõem: por rodovia ou ferrovia.

A primeira opção propõe mais rapidez no transporte e custo possivelmente maior, com a vantagem de ser porta-a-porta sem transbordos, direto da empresa cliente ao cais do porto. A outra, mais econômica (importante principalmente para cargas de menor valor agregado), pode implicar em transbordos e tende a ser mais demorada, pois é preciso encher todos os vagões e colocá-los em certa ordem para formar o comboio que atravessará a Serra do Mar. Ok, não é preciso entrar em detalhes já bem conhecidos.

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A questão é que, em princípio, a empresa de logística pode colocar na mesa de negociação as duas opções de transporte, com sua experiência reconhecida em ambas, quando usar um modal ou o outro etc. Mas... e se no meio do contrato ocorre um incêndio que interrompe todo o tráfego rodoviário e ferroviário para o porto? E esse incêndio de proporções grandiosas se prolonga por dias e dias, sem previsão de término, obrigando os armadores a repensar suas escalas no porto santista?

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O comprador do produto a ser exportado lamenta muitissimo, mas talvez não possa esperar, terá de romper o contrato e buscar fornecedores alternativos. Para reduzir o prejuízo, o armador ou afretador pode cancelar a escala em Santos. O seguro talvez cubra o prejuízo, conforme tiver sido contratado, mas não deixa de ser um paliativo, para reduzir as perdas mais palpáveis, mesmo prevendo lucros cessantes...

Então, o perfeito Plano A falhou. O que fazer? Criar um Plano B. Só que isso demora um pouco, e essa demora vai limitando as opções. Até porque, todos os demais embarcadores estarão buscando soluções e os mais ágeis ocuparão os melhores espaços.

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Por exemplo, a carga pode ser desviada para outro porto da rota do navio - desde que a negociação pelo espaço a bordo seja feita rapidamente, pois os navios possuem planos de carga, com ordem de entrada e saída dos produtos em cada porto, estivagem adequada conforme peso e tipo de carga (para melhor aproveitamento do navio e por questões de segurança e contaminação, entre outras), e isso tem de estar pronto antes do navio atracar. Há toda a burocracia relacionada à transferência para outro porto: contratar transporte, pátio de armazenamento, liberação alfandegária e sanitária etc. etc. – os leitores sabem como é isso. E.. claro, é preciso que a carga chegue em tempo de alcançar esse navio!

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Então, não basta ser produzido um Plano B, é preciso que ele já esteja em condições de rápida aplicação no momento em que o Plano A fica inviável. É esta habilidade que se procuraria também ao fazer aquela contratação de empresas de logística: a capacidade de resposta rápida a situações inusitadas. Prever o imprevisível e ter resposta pronta nesses casos.

Sim, isso é possível, e tem a ver diretamente com a experiência da empresa contratada para traçar e executar os planos de logística. Com suas habilidades para saber o mais rapidamente possível que uma ponte ruiu, uma greve começou, qualquer acidente que possa afetar a viagem ou o embarque das mercadorias.

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Espera-se até mesmo a habilidade de usar o chamado sexto sentido - aquela junção de fatores percebidos de forma quase inconsciente que nos avisa de riscos potenciais. Como quando ninguém espera um avião cair, pois “os certificados estão todos em dia”, mas já circulam informações sobre falhas importantes de manutenção ocorridas nos últimos meses, como despressurização por problemas na porta externa, falhas no trem de pouso, cauda arranhada em pouso recente....

Já se disse muitas vezes que um desastre não ocorre por causa única, é sempre a soma de muitas causas inicialmente desprezadas por estarem isoladas. Excesso de confiança no Plano A é uma delas.

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Não digam que o exemplo do incêndio é exagerado. Foi em abril de 2015, num terminal situado no distrito industrial santista da Alemoa, demorou 192 horas para ser apagado (fora o rescaldo posterior), foi combatido com técnicas, equipamentos e substâncias antichama que não estavam previamente disponíveis no local, sendo classificado na época como o segundo maior do mundo.

Como foi dito na época, nem a autoridade ambiental tinha um Plano B: o detector de poluição atmosférica estava em bairro longe do porto e voltado para o outro lado, não registrando nada porque o vento levava a fumaça em outra direção...

A propósito: o que aconteceria se tal incêndio se repetisse hoje? Alguma lição foi de fato aprendida?

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