Lote econômico é a quantidade ideal de material a ser adquirida em cada operação de reposição de estoque, onde o custo total de aquisição, bem como os respectivos custos de estocagem são mínimos para o período considerado. Este conceito aplica-se tanto na relação de abastecimento pela manufatura para a área de estoque, recebendo a denominação de lote econômico de produção, quanto à relação de reposição de estoque por compras no mercado, passando a ser designado como lote econômico de compras.
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Conceito
Segundo CORRÊA, o LEC (lote econômico de compra) também denominado EOQ (economical order quantity) gira em torno de um ponto ideal, onde a compra será mais econômica para a empresa. De acordo com o autor, esse ponto, é o que possui menor custo total quando ocorre uma equivalência entre o custo do pedido e o custo de posse. O lote econômico visa determinar o número ideal de pedidos a serem feitos e a quantidade ideal de cada lote. Segundo VIANA, o lote econômico pode ser calculado pela fórmula: LEC = raiz[(2 x D x P) / M] Onde: · D = quantidade do período em unidades · P = custo de pedir, por pedido = custo unitário do pedido de compra · M= custo de manter estoque no período, por unidade. M = CMA (custo de manter armazenado) * PU (preço unitário do material).
Segundo GITMAN, a fórmula do lote econômico de compra provém do encontro entre a fórmula do custo do pedido e do custo de manter em estoque, que ele chama de custo de carregamento. A seguir as fórmulas de cada custo, bem como o encontro das fórmulas que origina a fórmula utilizada do lote econômico de compra: a) Custo de Pedir = P x (D/Q), onde P é o custo de pedir por pedido, D é o consumo em unidades do pedido e Q é a quantidade do pedido. b) Custo de Manter = M x (Q/2) é o custo de manter do estoque, Q é a quantidade do pedido e com isso Q/2 é o estoque médio do material. c) Custo Total = Custo do Pedido + Custo de Manter = [P x (D/Q)] + [M x (Q/2)]. Sabendo-se que o lote econômico é o ponto de equalização entre o custo de pedir e o custo de manter que apresentará o menor custo total, têm-se a seguinte fórmula: [P x (D/Q)] = [M x (Q/2)] onde, (P x D) / Q = (M x Q)/2 onde, 2 x (P x D) = Q x (M x Q) onde, [(2 x P x D) / M] = Q x Q onde, Q = LEC = raiz[(2 x D x P) / M] 3.
Apuração e Cálculo
A dificuldade prática de apuração do lote econômico reside basicamente em se obter os dados exigidos para aplicação em sua formulação. Alguns dados são de fácil obtenção como o consumo (D) e o preço do material (PU), porém o custo de pedir (P) e o custo de manter em estoque (M), requerem um meticuloso e cansativo levantamento de dados que muitas vezes não estão disponíveis para os gestores de estoques. Para se aferir o custo de pedir (P) o administrador deverá coletar todas as despesas relacionadas aos órgãos de compras e gestão de estoques, como por exemplo, salários e outras despesas de manutenção e dividi-las pela quantidade de pedidos emitidos ou de artigos encomendados no período. Supondo que uma empresa tenha tido no ano anterior um gasto de R$ 1.000.000 com essas despesas e que no mesmo período tenha emitido 1.500 pedidos tendo cada, uma média de 5 artigos encomendados o que totaliza um total de 7.500 artigos encomendados no período, o custo de pedir poderá ser calculado dividindo-se R$ 1.000.000 / 7.500 = R$ 133,33 (custo de pedir por item pedido) ou R$ 1.000.000 / 1.500 = R$ 666,67 (custo de pedir por cada pedido efetuado). Pela lógica da fórmula o autor desse artigo acredita que, como está sendo aferido, o lote econômico de um determinado item específico o mais adequado seria o resultado P = R$ 133,33. Alguns gestores de estoque podem preferir utilizar o resultado P = R$ 666,67 argumentando que é utilizada uma mesma força de trabalho para cada pedido, independente do número de itens que este pedido contemple, mas quando o autor CORRÊA aborda o assunto em seu livro Gerência Econômica de Estoques e Compras, há uma nota informando que P = CUSTO / NÚM. PEDIDOS seria mais adequado para casos em que cada pedido contemplasse apenas um item e no caso em que os pedidos contemplassem mais de um item seria procedido o cálculo P = CUSTO / NÚM. ARTIGOS ENCOMENDADOS.
Para se aferir o custo de manter em estoque (M) o administrador deverá coletar as despesas relativas à manutenção dos estoques nos almoxarifados como iluminação, mão- de-obra, manuseio, ou seja, todos os gastos relativos à armazenagem deverão, segundo CORRÊA, serem considerados e somados. Para GITMAN esse custo de manter em estoque também pode ser chamado custo de carregamento e inclui os custos de armazenagem, de seguro, de deterioração, obsolescência, assim como os custos de oportunidade ou financiamento dos fundos aplicados em estoque. Segundo CORRÊA, essas despesas normalmente variam entre 17% a 24% do valor do estoque. Supondo-se assim uma despesa total com armazenagem no ano anterior no valor de R$ 2.000.000 para um estoque médio no mesmo período de R$ 10.000.000 tem-se um CMA (custo de manter armazenado) de 0,20 que multiplicado pelo preço unitário do material (ex: R$ 100 / und) gera o custo de manter em estoque (M) = 0,20 * R$ 100 = R$ 20,00. Após o levantamento de todos esses dados, o administrador deverá aplicá-los à fórmula. Supondo um consumo de 20.000 unidades / ano desse material, o LEC será calculado conforme abaixo: LEC = raiz [(2 x D x P)/M] = raiz[(2 x 20.000*133,33)/20)]= raiz(266.660) LEC = 516,39 aprox. 516 und / lote Esse resultado traduz a realidade da empresa. Como, nesse caso, o custo de pedir (P) é superior ao custo de manter (M) e o preço unitário do material é alto, o cálculo “puxa” o LEC para um grande número de pedidos anuais de pequenas quantidades de material, ou seja, mantém um alto giro de estoque. O total de pedidos anuais seria calculado dividindo-se o consumo anual de 20.000 pelo LEC que é 516, resultando em aproximadamente 39 pedidos / ano. Isso corresponde a praticamente 3 pedidos por mês e como o mês tem 30 dias isso corresponde a um tempo entre pedidos de 10 dias.
Comprovação Econômica
Para se obter a comprovação econômica do LEC, o administrador deve verificar qual seria o valor do custo total se fossem pedidas quantidades diferentes (maiores ou menores) da que foi obtida pelo lote econômico. Na simulação a seguir, foi feita a verificação do custo total no caso de um pedido com quantidade 50% maior e com quantidade 50% menor em relação ao LEC, considerando os mesmos dados do exemplo já calculado nesse artigo. a) Quantidade a Comprar -Qtde 50% menor: 258,19888974 -LEC: 516,39777949 -Qtde 50% maior: 774,59666923 b) Número Pedidos / Ano (Consumo Anual / Letra a) -Qtde 50% menor: 77,45966693 -LEC:38,72983346 -Qtde 50% maior: 25,81988898 c) Custo de Pedir por Item Pedido 133,33333333 d) Custo do Pedido (P) (Letra b x Letra c) -Qtde 50% menor: R$ 10.327,96 -LEC: R$ 5.163,98 -Qtde 50% maior: R$ 3.442,65 e) Estoque Médio (Letra a / 2) -Qtde 50% menor: 129,09944487 -LEC: 258,19888974 -Qtde 50% maior: 387,29833461 f) Custo de Manter (M x Letra e) -Qtde 50% menor: R$ 2.581,99 -LEC: R$ 5.163,98 -Qtde 50% maior: R$ 7.745,97 g) Custo Total (Letra d + Letra f) -Qtde 50% menor: R$ 12.909,95 -LEC: R$ 10.327,96 -Qtde 50% maior: R$ 11.188,62 h) Variação Custo Total (com relação ao LEC) -Qtde 50% menor: 25% -Qtde 50% maior: 8%
Considerando os resultados acima, verifica-se que o lote econômico realmente apresentou o menor custo total e também que um pedido 50% menor provocou um custo total 25% maior, o que desmistifica a opinião de que sempre o melhor para a empresa é que o estoque tenha o máximo giro possível. Segundo GITMAN, o LEC determina o giro ótimo do estoque, dados seus custos específicos.
Críticas ao Modelo LEC
O modelo não é sensível com relação à variação da quantidade no lote. Mesmo que o tamanho do lote adquirido seja diferente do obtido economicamente, o custo total sofre variações insignificantes, como se constata ao observar a simulação acima. Ao se optar pela decisão de adquirir o lote econômico de 516 peças e não a quantidade de 775 peças deixa-se de adquirir 50% a mais na quantidade assumindo um maior risco de ruptura no estoque em função de uma variação de apenas 8% no custo total. · O método não fornece resultados precisos, pois os consumos e os prazos de entrega constantemente sofrem alterações de comportamento. No exemplo em estudo o lote econômico foi calculado levando em consideração um consumo de 20.000 unidades / ano, mas é bem possível que o consumo real tenha distorção para mais ou para menos. Em relação ao prazo de entrega, nesse exemplo a aplicação do lote econômico exigirá uma colocação de 39 pedidos / ano, ou seja, um pedido a cada 10 dias. Porém, se o tempo de ressuprimento médio da empresa for maior que esse prazo, haverá conflito entre o tempo de ressuprimento médio da empresa e o intervalo entre pedidos que é exigido pelo lote econômico. Supondo-se que nesse exemplo a empresa leve 20 dias para processar o pedido e entregá-lo ao fornecedor, este leve 30 dias para entregar o material, e que a empresa após recebimento físico leve 5 dias para processar a entrega e deixar o material disponível para distribuição, o tempo de ressuprimento médio dessa empresa será de 55 dias, ou seja, incompatível com o intervalo entre pedidos de 10 dias que é exigido pelo LEC. Nesse caso, a empresa tem duas opções: reduzir o tempo de ressuprimento médio para ajustá-lo ao LEC ou não aplicar o Lote Econômico de Compra. ·
A aferição do custo de manter (M) leva em consideração o preço unitário do material, ou seja, quanto maior for o preço na fórmula, maior será o custo de mantê-lo em estoque. Porém, na prática, nem sempre o preço do material é o elemento único ou definitivo para se determinar o seu custo de manutenção. Pode ocorrer de um material muito barato, dado às suas peculiaridades, exigir um maior custo de manutenção do que um item mais caro. Como exemplo, uma empresa pode ter um item extremamente barato, mas que necessite de um armazenamento especial muitas vezes envolvendo freezer ou outros equipamentos, além de uma mão-de-obra qualificada e mais cara para o seu manuseio. Pode ser que haja outro item que, apesar de caro, possa ser armazenado sem maiores cuidados e com mão-de-obra mais barata. Nesse exemplo, se for tomado como critério principal o preço do material, o custo de manter desses itens não estará considerando o custo real de manutenção, dadas as características específicas de cada item. · Apesar de CORRÊA relatar que um erro ou omissão nas informações utilizadas no cálculo do LEC produz um erro pequeno no resultado final, em função da constante utilizada na fórmula do lote econômico, que é a raiz [(2 x P)/M] amortizar esses possíveis erros ou distorções é evidente que o LEC exige para o seu cálculo, o conhecimento pelo gestor de estoques, de um volume muito grande de informações que muitas vezes não estão disponíveis ou são de difícil obtenção. Assim, o grande volume de dados requeridos também aumenta a probabilidade de erros de cálculo e demanda um levantamento muito demorado. As informações utilizadas na fórmula do LEC, normalmente são obtidas utilizando-se dados do ano anterior. Porém, na dinâmica empresarial, é certo que as despesas do período em vigor serão diferentes das despesas do período anterior utilizadas na fórmula do lote econômico de compra.
Fonte: Artigo "Lote econômico de compra - uma análise detalhada", do administrador Marcelo Gonçalves