Quinta, 19 Setembro 2024

Pesquisadorado Instituto de Pesquisas Sociais da Fundação Joaquim Nabuco

 

 

          Antes de falar do Complexo Industrial-Portuário de Suape, faz-senecessário discorrer um pouco sobre a descoberta do Cabo de Santo Agostinho, quefica situado no perfil do mapa de Pernambuco, e alguns outros dados históricosreferente ao mesmo. Segundo os registros que remetem aos tempos do descobrimentoda América, no dia 26 de janeiro de 1500, Vicente Yanez Pinzón, um doscompanheiros de viagem de Cristóvão Colombo, foi o primeiro europeu a chegar nolocal, três meses antes do próprio Pedro Álvares Cabral. Pinzón chamou a novaterra descoberta de Santa Maria de la Consolatión, em homenagem à santaprotetora das embarcações, hoje denominado Cabo de Santo Agostinho. Trata-se deum local belíssimo, que se encontra a 40 km ao sul da cidade do Recife.

         No dia 28 de outubrode 1580, foi instituído o morgado de Nossa Senhora da Madre de Deus do Cabo deSanto Agostinho, vinculando-se a ele o engenho Madre de Deus que,posteriormente, foi chamado de Engenho Velho. Na época, o povoamento da áreacompunha-se de algumas casas distantes umas das outras.

 

         Cabe ressaltar queSuape era o nome de um ancoradouro existente na ilharga do Cabo, que ficavaseparado do mar por um cordão de recifes de arenito. Em sua extremidade norte,no qual desembocavam três rios importantes - o Massangana, o Tatuoca e o Ipojuca- uma muralha de aproximadamente 800 metros permitia o acesso de pequenasembarcações. Quando somente os índios viviam ali, o atual rio Massangana erachamado de Suape - que, em tupi, significa caminho incerto - devido à própriatrajetória incerta desse rio. Desde o começo da civilização, então, por seu altovalor estratégico, a posição do Cabo de Santo Agostinho e a configuração dasregiões adjacentes deram margem à utilização do estuário de Suape como base deinfra-estrutura portuária, bem como à disputa de holandeses e portugueses peloseu domínio, em grandes batalhas. Desde sempre, portanto, aquele estuárioexerceu funções econômicas e estratégicas. 

         No século XVII,quando os holandeses fortificaram um reduto do Cabo de Santo Agostinho, o condeBagnoli construiu uma fortaleza nas imediações, para proteger o porto de SantoAgostinho. A mesma, chamada depois de Nazaré, foi uma edificação inútil porquenão conseguiu defender o lugar nem a barra. Posteriormente, mudaram o seu nomepara Forte de Nazaré e Forte do Pontal de Nazaré. Era desseporto que os pernambucanos embarcavam os seusprodutos e recebiam provisões e socorros da Europa e das demais capitanias, alémde desembarcarem os escravos africanos. Na localidade, ainda é possível seapreciar as ruínas daquele Forte.

 

         Em 1635, a áreacapitulou: os portugueses perderam o domínio do porto de Santo Agostinho eabandonaram o território da Capitania. Somente em 1646, o porto retomou as suasfunções de apoio à Insurreição Pernambucana. Por ele, passaram uma caravela(repleta de armas, munições e mantimentos) e quatro pesados navios ingleses queabasteceram os restauradores. Entre outros, a disputa também terminou quandoVidal de Negreiros mandou obstruir a barra do porto com pedras. Depois disso, eaté meados do século XIX, por ali só navegaram pequenos barcos ejangadas.                          

 

            Um outro espaço, por sua vez,foi se formando no Cabo de Santo Agostinho, a partir da substituição da MataAtlântica pela cultura da cana-de-açúcar, fazendo predominar, na região, aatividade econômica da agroindústria açucareira. Através dessa atividade,começou a verdadeira colonização daquelas terras, assim como a implantação dasusinas. A vila do Cabo de Santo Agostinho foi criada por força do alvará de 27de julho de 1811, e da Provisão Régia de 15 de fevereiro de 1812.Só a partir de 9 de julho de 1877 a cidade tomou onome de Cabo de Santo Agostinho.

 

         Durante muito tempo,e na maior parte do século XX, o distrito industrial de Pernambuco concentrou-seno município do Cabo, na Região Metropolitana do Recife, porque a capital doEstado não dispunha de um espaço adequado para tal finalidade. O crescimento dasregiões urbanas, entretanto, veio provocar uma maior sobrecarga noPorto do Recife, o que contribuiu para se pensar em alternativas portuáriasao sul do litoral. O recôncavo do Cabo de Santo Agostinho, e uma área ao seuredor, foram escolhidos como a melhor e mais próxima opção.

 

         Em 1973/1975, oGoverno de Pernambuco concebeu um Plano Diretor e deu início à luta pelaimplantação de um Complexo Industrial-Portuário no Cabo de Santo Agostinho, umavez que a própria posição geográfica do Estado, no centro da Região Nordeste,facilitaria a implantação do Porto de Suape. Levou-se em consideração, ainda,três elementos fundamentais: 1. a pouco mais de 1 km do cordão de arrecifes,junto à linha da costa, a localidade possuía águas com profundidade de 17metros; 2. havia um quebra-mar natural formado pelo cordão de arrecifes; e, 3.existiam na região extensas áreas reservadas à implantação de um grande parqueindustrial.

 

         Além de tudo isso,Suape localizava-se a, apenas, oito horas das rotas internacionais dos grandestransportadores dos Estados Unidos e da Europa. Desse modo, através da Lei no.7.763/78, no dia 7 de novembro de 1978, criou-se a empresa Suape ComplexoIndustrial Portuário. A área destinada aoComplexo abrangia a faixa litorânea entre o rio Jaboatão e a praia de Porto deGalinhas, compreendendo parte dos municípios de Cabo e de Ipojuca.

 

         Para que o megaempreendimento pudesse se concretizar, foram desapropriados cerca de 13.500hectares de terras. As operações do Porto de Suape tiveram seu início através doPíer de Granéis Líquidos, que foi arrendado à Petrobras, em abril de 1984,quando foi realizado o primeiro embarque deálcool. Nesse mesmo ano, um molhe em pedras foi construído, com o objetivo deproteger a entrada interna do porto. Com a bacia formada depois do molhe, foiimplantada a primeira oferta portuária. Ela constou de duas instalações deacostagem de navios - o chamado Píer de Granéis Líquidos (PGL) e o Cais deMúltiplos Usos (CMU). Três anos depois, em 1987, oParque de Tancagem de Derivados de Petróleo do Porto do Recife foi transferidopara Suape; e, em 1991, o Cais de Múltiplos Usos (CMU), que movimenta cargas deconteiners, entrou em operação.

 

         A regularização dasituação jurídico-institucional do Porto de Suape, junto ao Governo Federal, poroutro lado, efetivou-se mediante o Departamento de Transportes Aquaviários daSecretaria Nacional de Transportes, no ano de 1992. Isso permitiu ao Governo dePernambuco explorar, comercialmente, aqueles serviços portuários.

 

         Em 1999, ocorreu aconstrução da primeira etapa do chamado porto interno - 935 metros de cais eprofundidades de até 15,5 metros. Dois anos depois, iniciou-se a segunda etapade construção, através da dragagem de mais de 1 milhão e 300 mil m3. Em seguida,o canal de navegação foi ampliado em mais 450 metros, o que possibilitou aedificação do Cais 4. Em 2002, para atender às novas demandas, empreendeu-se aduplicação da avenida portuária (uma extensão de 4,4 km), e a construção do 1º.Prédio da Central de Operações Portuárias de Suape. No ano seguinte, o Portorecebeu, da Food and Drug Administration (FDA), do Governo dos EstadosUnidos, um certificado atestando o seu cumprimento da lei contra o bioterrorismo. 

 

         No ano de 2004, foiinstalada a Emplal, uma indústira de embalagens plásticas portermoformagem, e inaugurado, também, o Centro de Treinamento do ComplexoIndustrial Portuário de Suape, um empreendimento voltado para o atendimento dosfuncionários das empresas instaladas no Porto, e das comunidades que vivem emsuas imediações. Em 2005, foi assinado um acordo entre a Petrobrás e a empresa Petróleos da Venezuela S. A. no sentido de seinstalar, em 2007,  umarefinaria de petróleo, capaz de processar 200 mil barris de petróleo por dia, degerar aproximadamente 10 mil empregos durante a sua construção e, ao serconcluída, de abrigar 1,5 mil trabalhadores.


          Presentemente, Suape representa o pólo industrial mais completo doNordeste do Brasil, recebendo, distribuindo e exportando matérias primas,insumos básicos e produtos finais, além de ser incluído entre os 11 portosprioritários do País, e a principal alternativa para o transporte de cargas de epara toda a costa atlântica da América do Sul, com baixos custos de fretes. Alémde contar com a presença de mais de setenta empresas (instaladas ou em fase deimplantação), possui, ainda, um porto externo, umporto interno, alguns terminais de granéis líquidos, um cais de múltiplos usos,e um terminal de contêineres. Com 16,5 metros de profundidade, o Porto atendea navios de grande porte, movimentando, anualmente, mais de 5 milhões detoneladas de carga, a exemplo de granéis líquidos (derivados de petróleo,álcool, produtos químicos, óleos vegetais, e outros) e cargas conteinerizadas.O Porto possui eficazes sistemas viários, de suprimento de energia elétrica, deabastecimento d´água e de telecomunicações, e realiza, inclusive, as operaçõesde transhipment - que consistem na transferência de cargas, de navios degrande porte, para as instalações portuárias, e o seu posterior reembarque emnavios menores.

 

         O ComplexoIndustrial-Portuário de Suape possui mais de 6.000 hectares sob proteçãoambiental e, entre as empresas já instaladas ou em fase de instalação, estão aAluminic Industrial S/A, a Bonesa Borracha S/A,  a Cimec -Cia. Industrial e Mercantil de Cimentos, a Concreto Redimix  do NE S/A, aCopagás Distribuidora de Gás Ltda., a Esso Brasileira de PetróleoS/A, a Granex – Granitos de Exp. do NE Ltda., a Indústria de CaixasPlásticas do NE Ltda., a Pedra Cerâmica Santo Antônio S/A, a Petrobrás Distribuidora S/A, a Refresco Guararapes Ltda. (Coca-Cola), a Shelldo Brasil S/A, a Termo Fértil S/A, a Transportadora Cometa, e a WorkMariner Ltda.

 

         Por fim, caberegistrar que o Porto de Suape, um dos mais importantes do mundo, opera naviosem todos os dias do ano, independentemente dos horários das marés, e dispõe deum sistema de monitoração de atracação de navios a laser, que proporciona umcontrole mais seguro, tanto para aspessoas quanto para os seus carregamentos.

 

 

 

 

Fontesconsultadas:

 

ANDRADE,Gilberto Osório de; LINS, Rachel Caldas. Pirapama: um estudo geográficoe histórico. Recife: Editora Massanganam 1984. 

 

 

BRAGA, João. Guia turístico, histórico e cultural. Recife: AssembléiaLegislativa do Estado de Pernambuco, 2000.

CAVALCANTI, Carlos Bezerra. O Recife e seus bairros. Recife: CâmaraMunicipal do Recife, 1998.

FORMAÇÃO histórica e geográfica do cabo. Cabo: Departamento de Estudos Sociais,Secretaria de Educação, Prefeitura Municipal do Cabo, 1988.

FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.

JORGE, José .Suape, a retomada do desenvolvimento. Brasília: Senado Federal, 2000.

KATER, Maria das Graças L.; BARROS, Maria de Lourdes Osório de. O processo detransferência dos agricultores situados na área de Suape, pertencentes àCooperativa de Tiriri. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, 6, 1985,Garanhuns, PE. Anais.  Recife: Fundaj, Ed. Massangana, 1985.

LINS, Rachel Caldas. O cabo e as revoluções pernambucanas. Ciência e TrópicoRecife, v. 9, n. 1, p. 67-95, jan./jun. 1981.

MOTTA,Roberto. O povoado de Suape: economia, sociedade e atitudes. Recife, RevistaPernambucana de Desenvolvimento, v. 6, n. 2, p. 209-247, jul./dez. 1979.

 

O Complexo deSuape. Rio de Janeiro, PlanejamentoP&Ddesenvolvimento, na. 5, n. 56, jan.1978.

 

SUAPE:Complexo Industrial Portuário. Disponível em:

<http://www.suape.pe.gov.br/index.asp>.Acesso em: 12 jan. 2006.

 

SUAPE,ecologia e cultura. Recife: Instituto de Desenvolvimento dePernambuco/Secretaria de Planejamento/Governo do Estado de Pernambuco, 1978.

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