A conexão das competências desenvolvidas no ensino técnico com as exigências do setor produtivo merece atenção prioritária para garantir empregabilidade e renda aos egressos desses cursos. É o que defende o sociólogo Simon Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade. Ele participou nesta sexta-feira (12) do segundo dia de discussões sobre a articulação do ensino médio com o profissional. A reunião é promovida pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) e pelo Itaú BBA, em Florianópolis. Os participantes do encontro passarão a integrar grupo de trabalho voltado à discussão do tema.
O sociólogo apresentou propostas de reformulação do ensino médio que estão sendo debatidas no País e destacou o papel do Sistema S nesse processo. “Como a cultura da educação técnica é muito diferente da educação geral, acho que o setor S detém a responsabilidade de entrar mais fortemente na formação média com cursos técnicos e não ficar exclusivamente na aprendizagem profissional, que são os cursos curtos que não dão titulação de nível técnico”, opina. “Fortalecer o ensino técnico com o setor produtivo. Essa é uma regra geral de toda a discussão internacional. O ensino técnico funciona quando está ligado ao trabalho, à experiência concreta e prática. Se você não fizer isso acaba encontrando um ensino técnico de má qualidade”, afirma.
Schwartzman destacou ainda a urgente revitalização do ensino médio para conferir mobilidade e equidade social, além de elevar a produtividade e ampliar o acesso ao mercado de trabalho. “O reforço de competências gerais da formação técnica garante empregabilidade e renda. É o caminho seguido pelos países europeus”, relatou. Tudo isso passa pela melhoria das políticas gerais do sistema educacional, aprimoramento das escolas e investimento na educação infantil. “No ensino médio precisamos de um sistema diversificado e flexível, com redução das matérias obrigatórias e mais espaço para o ensino técnico como atividade adicional, e não complementar”, sugeriu. O sociólogo defende ainda a substituição do Exame Nacional do Ensino Médio, que ele considera discriminatório, por avaliações separadas e segmentadas por área de aprofundamento.
O presidente da FIESC, Glauco José Côrte, afirmou que a reunião técnica promovida em Florianópolis é relevante para estabelecer um modelo de oferta de ensino articulado. “Hoje demos um importante passo para alinhar o Brasil às experiências dos países mais desenvolvidos, que valorizam o ensino profissional e que são experiências de sucesso. Devemos olhar o que há lá fora e trazermos o que há de bom e viável”, observou Côrte, que destacou as ações promovidas por meio do Movimento Santa Catarina pela Educação. “Temos feito uma ampla mobilização neste sentido desde que escolhemos a educação como a nossa bandeira e a experiência tem sido fantástica. Só teremos avanços significativos quando houver essa mobilização do setor público com o setor privado”, complementou.
Experiências catarinenses – Maurício Pauletti, diretor técnico do SENAI/SC, apresentou projeto de piloto que será implantado em Criciúma no próximo ano com a oferta do ensino médio integrado com o curso técnico em informática. Com carga horária de 3,2 mil horas, a formação tem foco no desenvolvimento de competências essenciais para o mundo do trabalho. “Queremos reproduzir a excelência do nosso ensino técnico, no qual 85% dos egressos dessas formações conseguem se inserir no mercado de trabalho até um ano após a conclusão do curso”, afirma. A matriz curricular diferenciada inclui 21 disciplinas e atividades desenvolvidas com o propósito de atrair os jovens (clubes de estudo e oficinas recreativas). O uso de tecnologias educacionais também é um ponto forte do projeto.