A implantação no Brasil das chamadas Short Lines, pequenas ferrovias que operam em ramais secundários, pode ser uma solução para aumentar a presença das ferrovias na matriz modal do País. Está é a conclusão de lideranças setoriais e representantes do governo que participaram do workshop “Short Lines: o sucesso da experiência norte-americana seria possível no Brasil?” realizado na tarde desta terça (3). O encontro fez parte da programação do primeiro dia da NT Expo - 18ª Negócios nos Trilhos, principal evento do setor metroferroviário da América do Sul, que acontece até quinta (5), no Expo Center Norte, em São Paulo.
“É o assunto do futuro nas ferrovias brasileiras. O governo precisa estar atento a este aspecto das Short Lines na renovação das concessões, para termos investimentos”, afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Vicente Abate. Ele coordenou o workshop, que contou com a presença de José Luiz de Oliveira, coordenador-geral de Patrimônio Ferroviário do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit); Jean Pejo, representante no Brasil da Asociación Latinoamericana de Ferrocarriles (Alaf); Carlos Nascimento, diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT); e Ed McKechnie, CCO e também Chairman da American Short Line and Regional Railroads Watco Companies.
Pejo, da Alaf, considera a implantação de Short Lines o caminho mais curto para o crescimento da participação das ferrovias na matriz modal brasileira. “Temos muitos trechos inutilizados no país, pois o atual modelo privilegia os grandes corredores. Estatísticas mostram que a ocupação efetiva das vias ferroviárias é de apenas 30% da rede sob concessão”, explica. Para ele, o exemplo positivo dos EUA serve como parâmetro para confirmar o caráter benéfico do modelo. Lá há 550 Short Lines que ocupam cerca de 50 mil milhas de malha, envolvem 17 mil empregados e movimentam a carga de 10 mil clientes.
“Se já não bastassem estes números, temos, ainda, um caso de sucesso de Short Line no país que é a Ferrovia Tereza Cristina, em Santa Catarina. O modelo desenvolve a indústria local, cria novos negócios na região, promove a revitalização do entorno beneficiado, propicia transporte de passageiros, não envolve problemas com desapropriações e fomenta a tecnologia, inovação e formação de mão de obra”, completou.
Ferrovias fechadas
José Luiz de Oliveira, coordenador-geral de Patrimônio Ferroviário do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), utilizou o seguinte argumento para defender o modelo de Short Lines: evitar a desativação de mais ferrovias no Brasil. Ele cita o processo da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), que teve trechos desativados em virtude da resolução 4131 da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). “Cedemos muitas áreas para prefeituras que, ao invés de reativar a linha para passageiros, por exemplo, preferiram transformas em áreas urbanas”, recordou.
Oliveira considera que o processo para a implantação de Short Lines no País deve envolver governo e iniciativa privada: “É um caminho que devemos trilhar juntos. É um modelo que atende concessionárias, dispostas a abrir mão de trechos não-econômicos (que não são rentáveis), governo, que não quer receber estes trechos volta, e mercado, que precisa transportar a carga. Precisamos de um modelo e uma alternativa é a PPP (Parceria Público-Privada)”.
Carlos Nascimento, da ANTT, também é favorável, mas disse que o processo vai requerer muito esforço. Ele sugeriu dois modelos possíveis: Acordo com com a concessionária do trecho para explorar um trecho não rentável; ou autorização para o transporte ferroviário desvinculado da infraestrutura ferroviária (OFI). “Estamos dispostos a apoiar as Short Lines. Fizemos um estudo com o apoio da Universidade de Santa Catarina que mostrou termos no País 6 mil quilômetros de malha com menos de um trem por dia circulando. É um índice muito baixo”, observou.
Destaques do segundo dia de NT Expo – 18ª Negócios nos Trilhos
Continua nesta quarta (4) a programação da NT Expo – 18ª Negócios nos Trilhos. O Fórum de Líderes vai debater, a partir das 10 horas, temas como os “Principais desafios para o desenvolvimento ferroviário no Brasil e na América Latina e sua maior participação na matriz de transportes” e “Infraestrutura e integração ferroviária para cargas e passageiros e estudos de casos internacionais”.
No Espaço Inovação + Mobilidade um dos destaques é o debate “Transporte de Carga”, que vai abordar, a partir das 14 horas, “Eficiência operacional das ferrovias – Como aumentar a capacidade de transporte?” e “Segurança operacional das ferrovias – Como a inovação tecnológica pode contribuir para a diminuição de acidentes ferroviários?”. Nesta quarta acontece, ainda, o lançamento do Livro “Locomotivas elétricas Cia. Paulista e Memória do Trem”, a partir das 17h15.