Em entrevista ao PortoGente, Carlos Henrique Rocha, especialista em engenharia econômica e coordenador do Centro Interdisciplinar de Estudos em Transportes (Ceftru) da Universidade de Brasília (UnB), avalia a estrutura portuária brasileira e conclui que ela ainda não é adequada para a cabotagem.
PortoGente - Como a cabotagem pode melhorar a logística do País?
Carlos Henrique - Penso que os especialistas em logística podem estimular a cabotagem e devem procurar fazê-lo. A cabotagem apresenta vantagens sobre o modo rodoviário, por exemplo. Os navios são menos poluidores, apesar da água de lastro. Com a cabotagem pode-se diminuir o tráfego de caminhões nas estradas, reduzindo acidentes, congestionamentos, etc. Sem falar do dinheiro gasto com seguro de cargas e outros custos decorrentes dos assaltos. Seguramente a população também paga por tais custos adicionais com seguro de cargas, escoltas.
PortoGente - Alguns especialistas da área de logística criticam que o Brasil não tem cabotagem ainda, mas apenas transbordo. O senhor concorda com isso?
Carlos Henrique - Concordo. Os portos nacionais estão longe de serem plataformas logísticas onde se dão operações de embarque e desembarque de mercadorias, estocagem, processamento, embalagem. Para que a cabotagem funcione é preciso que haja estruturas portuárias do tipo que acabei de mencionar. Depois, a cabotagem não cresce devido ao estágio de desenvolvimento de muitos estados do Brasil. O Sul envia mercadoria para o Nordeste e Norte do País, mas não há carga regular de retorno. Daí, o desinteresse da armação em fazer cabotagem no Brasil.
PortoGente - Alguns especialistas argumentam que pelo fato do Brasil ter um perfil voltado para o comércio exterior, a cabotagem perde a atenção necessária. Como mudar essa realidade?
Carlos Henrique - O Brasil está se tornando novamente grande exportador de produtos primários. O foco da cabotagem é a carga geral em contêineres, por exemplo. Não há competição entre longo curso e cabotagem, portanto.
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