Aurélien Jacomy é especialista em Supply Chain Management e trabalhou na empresa francesa de consultoria Diagma
Empresas americanas conseguiram reduzir de 10% para 8% do PIB americano os custos em logística durante a recente crise econômica, enquanto o Brasil viu os mesmos aumentarem no período, alcançando 11,7% em 2014. Nesse cenário a falta de infraestrutura, a complexidade da legislação e do sistema fiscal são razões evocadas para justificar os altos custo de distribuição, mas pouco se fala sobre a cultura de desconfiança no Brasil.
Checar com cuidado a conta no restaurante, verificar no aplicativo Waze o caminho escolhido pelo taxista ou exigir o reconhecimento de uma assinatura no cartório são gestos comuns no Brasil que demonstram a falta de confiança entre as pessoas. Enquanto os atos de corrupção estampam as capas dos jornais, o brasileiro parece observar gestos de fraude em seu dia a dia.
Os processos logísticos no Brasil se constroem sobre essa convicção. Uma sequência de controles se repetem ao longo da cadeia de abastecimento: do fornecedor para o cliente, de uma área para uma outra, ou mesmo dentro de uma mesma área. Mas se o controle detalhado e sistemático das recepções e das expedições são processos comuns e repetitivos nos centros de distribuição brasileiros, não garantem uma taxa de serviço e qualidade dos estoques exemplar.
Ao invés de rever processos, as empresas tentam desresponsabilizar seus funcionários, deixando para eles tarefas manuais que não requerem tomada de decisão. Enquanto o Retorno Sobre Investimento justifica projetos de automação fora do Brasil, o principal argumento aqui é a redução da dependência da operação à qualificação da mão de obra. O turnover alto que conhecem as empresas explica em parte essa decisão, mas a desconfiança nos funcionários é geralmente o principal argumento.
Apesar das dificuldades e complexidades específicas do País, as empresas brasileiras dispõem de três alavancas para melhorar sua cadeia de abastecimento e aumentar competitividade: desenvolver uma relação de confiança com os fornecedores, automatizar as trocas de informação e envolver os funcionários nos processos, incluindo processos de controle por amostragem
Conclui-se que a complexidade da logística é realmente uma realidade no Brasil, mas as empresas dispõem de várias estratégias para redução de custos e está com elas a capacidade de aumentar sua competitividade. No contexto econômico atual, a Supply Chain é um eixo de evolução estratégica para as empresas brasileiras, reduzindo seus custos e aumentando os serviços oferecidos, de forma a conquistar novos clientes.