Domingo, 24 Novembro 2024

João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical

Acumulam-se as evidências da severa e prolongada recessão na economia brasileira com seus efeitos nefastos na renda dos trabalhadores e no emprego, embora não homogênea em seus desdobramentos.

Este é o fundamento das dificuldades a serem enfrentadas pelo movimento sindical, agravadas pelo clima de desconstrução política provocada pelos defensores do impeachment presidencial e pelos episódios da Lava Jato.

A mídia, excitada ao extremo, noticia com insistência a deterioração do quadro econômico, mas seu partido editorial não é o da superação da crise e sim o da defesa do impeachment como condição necessária e suficiente para isso; quer o “reboot”.

A opinião pública (ou, melhor dizendo, a opinião publicada) vai ao delírio e não percebe o fundo do quadro; grita “Barrabás”!

Assim como os protagonistas políticos precisam de excitação para conduzirem suas campanhas, o movimento sindical – que representa parcela majoritária e apreensiva da opinião pública – precisa de bom senso e reflexão.

Suponha-se, por exemplo, que a presidente seja destituída e que o setor politicamente dominante seja modificado, mesmo que não radicalmente. Pelos vários programas já apresentados (e nenhum deles depende do voto popular) deverá se seguir uma fase de duro arrocho econômico e social com medidas que agridem os direitos dos trabalhadores, suas conquistas e provocam o desmanche da distribuição de renda com a abolição da política de ganhos reais do salário mínimo e diminuem a participação do Estado nas áreas de saúde, educação e previdência.

Esta alternativa não combate a recessão; apoia-se nela e na desconstrução política para modificar a correlação de forças no Estado e diminuir o seu papel social, nacional e soberano, abaixar salários e fortalecer os rentistas.

Neste hipotético quadro futuro, o movimento sindical será desafiado a lutar em condições mais desvantajosas do que as que experimenta hoje.

Portanto, na conjuntura atual, convulsionada, é essencial que o movimento se agrupe desde já em torno da plataforma produtivista do Compromisso pelo Desenvolvimento que oferece uma base unitária e exequível de superação da crise econômica e poderá ser amanhã uma plataforma de resistência a qualquer programa de arrocho, desmanche social e desindustrialização.

 

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