Sábado, 23 Novembro 2024

É engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

O Tratado Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), que reúne EUA, Canadá, Japão, Austrália, Brunei, Chile, Cingapura, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru e Vietnã, entrou em vigor no dia 5 de outubro, mas já é possível saber que será danoso ao comércio exterior brasileiro, já que, com a  eliminação de taxas de importação e de pelo menos 50% das barreiras não tarifárias, as exportações nacionais serão bastante afetadas. Afinal, os produtos vendidos entre os países-membros do tratado ficarão comparativamente mais baratos. Hoje, o Brasil exporta US$ 54 bilhões para os 12 países do TPP, 35% dos quais em produtos manufaturados.

Esses produtos que majoritariamente seguem para EUA, Peru, México e Chile passam a enfrentar a concorrência do Japão e da própria nação norte-americana.  No setor agrícola, os prejuízos também já são visíveis tanto para o Brasil como para a Argentina, que terão de enfrentar em desvantagem a concorrência de produtos da Austrália e Nova Zelândia.

Se o Tratado Transatlântico (TTIP) entre EUA e União Europeia (UE) vier a ser formalizado, a situação para o Mercosul – e para o Brasil, que detém 70% do Produto Internacional Bruto (PIB) da região – ficará ainda mais difícil. TPP e TTIP vão passar a ditar o processo de formulação de normas de comércio e investimentos, esvaziando por completo a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Basta ver que só o comércio EUA-UE já é responsável por 70% das trocas mundiais.

E o Brasil? Até o final de 2014, o Brasil preferiu ignorar essas movimentações, ao contrário de Chile, Colômbia, Peru e México, que, por meio da Aliança do Pacífico, incluíram-se nas negociações para o TPP e com a UE. É de se lembrar que Colômbia, Coréia do Sul, Taiwan e Filipinas já estão na fila para aderir ao TPP.

Sem alternativas, o atual governo teve de deixar para trás antigas cantilenas terceiromundistas para procurar uma reaproximação com os EUA, a partir de um acordo para harmonizar normas técnicas. E quer desajeitadamente levar o Mercosul a um acordo com a UE, mas com poucas chances de êxito, já que, além da política protecionista defendida pela Argentina, os dois lados têm dificuldades para avançar as negociações, cada qual acusando o outro de querer levar vantagens.

Dentro da nova orientação, o governo conseguiu fechar um acordo automotivo com a Colômbia e começou a negociar com o México a ampliação do comércio com tarifa zero. Já não é pouco, mas insuficiente diante do atual quadro. Diante disso, parece claro que, para recuperar o tempo perdido, o País não só deve procurar se inserir na economia global a partir de sua adesão a grandes blocos, com o Mercosul ou não, mas também fazer a lição de casa para reduzir o chamado custo Brasil que influi diretamente na competitividade dos produtos nacionais. Sem preço não se vende nada, como sabe o mais iniciante dos comerciantes.

 

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