Sábado, 23 Novembro 2024

Emanuel Cancella é coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP)

Os “Cunha” – Aécio e Eduardo – estariam prontos para o Golpe. Esse foi o buchicho da semana. A armação ganharia ares de legalidade, respaldada numa arbitrária reprovação das contas de campanha da presidenta Dilma Rousseff. Esse seria o caminho dos golpistas para desencadear o processo de impeachment.

A presidenta Dilma foi eleita pela maioria do povo brasileiro. Derrotou o candidato conservador Aécio Neves Cunha, apesar das mentiras da Revista Veja e do Jornal Nacional (TV Globo) que, na véspera do segundo turno, para favorecer o candidato tucano, divulgou que Lula e Dilma “sabiam da corrupção na Petrobrás”.

Em 1954, a pressão e a onda de mentiras e armações que levaram Getúlio ao suicídio aconteceram depois da estatização do petróleo e da criação da Petrobrás. Em 1º de abril 1964, o golpe empresarial-militar se desencadeou menos de um mês depois do Comício da Central, quando Jango anunciou a encampação das refinarias privadas e a estatização de todas as atividades envolvendo petróleo, inclusive a distribuição.

Os inimigos da Petrobrás não descansam nunca. Depois de eleito, Collor tentou privatizar a estatal, mas foi impedido pela luta dos trabalhadores. Mas os neoliberais conseguiram avanços. O presidente tucano Fernando Henrique Cardoso driblou a Constituição e iniciou uma “privatização branca”. Com a Lei 9478/97 instituiu o regime de concessão, abrindo a exploração do petróleo a empresas estrangeiras. FHC desmontou o Sistema Petrobras, privatizou o setor petroquímico, um dos mais rentáveis, mas não conseguiu destruir a holding, tolhido pela resistência popular.

Em 2006, no governo Lula, é anunciada a descoberta do pré-sal, um mar imensurável de petróleo que coloca o Brasil entre os principais produtores do mundo. Os governos petistas conseguem aprovar a Lei de Partilha para o pré-sal, que está aquém dos desejos dos trabalhadores, porém é bem mais avançada que o regime de concessão de FHC. Com o regime de partilha, a Petrobrás entra como operadora única de todos os campos do pré-sal e com a garantia de 30% de cada campo.

Os tucanos, quatro vezes derrotados nas urnas, não se conformam. São eles os principais representantes dos interesses dos Estados Unidos e das petrolíferas estrangeiras. A wikileaks deixa vazar uma informação importante: em 2009 o então candidato José Serra se compromete com a Chevron, petrolífera americana, a derrubar a Lei de Partilha, entregando de mão beijada o pré-sal. Serra perde as eleições, mas não desiste dos seus intentos.

No momento, está em vias de ser votado no Senado o PLS 131/2015, do senador José Serra, que retira a Petrobrás da função de operadora única do pré-sal e nega à empresa brasileira a garantia mínima de 30% dos blocos licitados: ou seja, o senador tucano continua se esforçando para prejudicar o Brasil e os brasileiros e para favorecer às petrolíferas estrangeiras.

No entanto, boa parte da população, já está calejada. Sabe que o caminho da emancipação popular não é pela direita. Cansou de pagar a conta por todas as crises. A saída é taxar as grandes fortunas, recuperar o dinheiro desviado pela corrupção – não só na Petrobrás mas também a sonegação da Globo na transmissão da Copa de 2002, do Trensalão, da Operação Zelote, do Swissleaks, do Banco Itaú, que deve à Receita Federal R$ 18, 7 bilhões.

Existe uma insatisfação popular, é fato. Mas não será tão fácil apagar da memória o período de maior sacrifício para o povo brasileiro, que foi o dos governos FHC, quando o desemprego batia recordes. Os tucanos só conseguem se desgastar com a maioria da população quando fazem críticas contundentes às políticas sociais como o Bolsa Família, Fies, Pronatec, cotas, mudança na política de ajuste do salário mínimo que elevou nosso salário mínimo acima dos cem dólares, o que antes do PT era impensável. O desemprego, apesar do estar aumentando no Brasil, ainda é bem menor do que muitos países na Europa. O mundo está em crise e o Brasil não é uma ilha.

Fica o exemplo do povo da Grécia, que apoiou a decisão corajosa do governo que elegeu e disse, no plebiscito, um “não” aos cortes no orçamento social do país. A turma do Aécio, os tucanos, querem tomar o poder na marra, mas não é para melhora a vida dos mais pobres e nem para tratar com respeito os empresários nacionais. Foi FHC, do PSDB, que chamou os aposentados de vagabundos e levou a indústria naval para fora do país, demitindo milhares de metalúrgicos e destruindo os empresários e estaleiros nacionais, que agora foram retomados.

São as empresas estatais, sobretudo a Petrobrás, que sempre financiaram o desenvolvimento do país. A exemplo do PAC. A direita já percebeu que no voto não dá para virar o jogo a seu favor. Já perdeu quatro eleições seguidas para a Presidência da República. O golpe é o recurso de quem não tem legitimidade.

É nesse cenário, de intensa disputa política, econômica e ideológica, que recrudescem os buchichos de impeachment. Só consigo imaginar que o Aécio Neves Cunha – quem sabe inspirado pelo seu homônimo, o Cunha da Câmara de Deputados – tenha cheirado demais a brisa da Avenida Atlântica, em Copacabana, onde costuma passear, e na sua petulância resolveu alimentar esses delírios, insuflados sobretudo por seus aliados na mídia.

 

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