Sexta, 22 Novembro 2024

 

Marcos Cordeiro Pires é professor da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp de Marília; e Neusa Maria Pereira Bojikian é professora da Faculdade Santa Marcelina

Dois eventos econômicos de grande relevância ocorrem neste mês: o encontro anual da APEC, em Pequim, entre 5 e 11 de novembro, e logo a seguir a reunião do G-20, na cidade australiana de Brisbane, nos dias 15 e 16.

A reunião da APEC acontece em meio ao aumento de tensões na região do Extremo Oriente, em parte, por conta das disputas territoriais no Mar da China e no Mar do Japão, mas também pelo fortalecimento do discurso nacionalista japonês, pelo aumento de gastos militares da China e de outros países em seu entorno e, ainda, pela política dos Estados Unidos de competição com a China, criando o seu pivô na Ásia, além de estimular um amplo acordo comercial: a Parceria Trans-Pacífico, que exclui a China. Em que pese esse ambiente saturado, existe uma expectativa positiva por parte do país anfitrião de que a 22ª reunião da APEC possa lançar o Acordo de Livre Comércio da Ásia-Pacífico, abrangendo os países da Bacia do Pacífico na Ásia, na Oceania e nas Américas e que o foro consiga avançar o entendimento na região para além de disputas pontuais.

Já a Cúpula do G-20 – a primeira realizada após o início dos conflitos na Ucrânia e a exclusão da Rússia do G-8 – terá como prioridade robustecer o crescimento da economia mundial em mais 2% ao ano até 2020. Também constarão na pauta discussões sobre medidas nas áreas de energia, infraestrutura, comércio internacional, regulação financeira, emprego e desenvolvimento, combate à corrupção e à evasão fiscal, além da inacabada reforma das cotas do FMI. Esse último tema citado ganha relevância, pois os países do BRICS se cansaram de esperar a democratização do FMI e do Banco Mundial e lançaram, durante a cúpula de Fortaleza, em julho deste ano, o Novo Banco de Desenvolvimento e o Arranjo de Contingenciamento de Reservas, com vistas a aumentar o grau de autonomia desses países, frente às incertezas da economia global.

Em ambas as Cúpulas, assim como em outras reuniões internacionais, o que merece atenção detalhada é: ‘como’ implementar as políticas então desenhadas? Os Estados nacionais podem definir os parâmetros e os acordos, mas quem poderá tirar proveito de um melhor ambiente institucional, assim como de uma área de livre comércio ou da queda de barreiras não tarifárias, são as organizações públicas e privadas, que poderão explorar as novas oportunidades e se defender de eventuais riscos.

Para tanto, no caso de um país em desenvolvimento como o Brasil, não basta o governo fechar uma negociação internacional se não tiver quadros preparados no governo e na iniciativa privada para operacionalizar as ações dela decorrentes.

Cabe questionar, então: quem pode analisar com acuidade os contratos assinados, buscando neles as cláusulas que podem potencializar este ou aquele setor? Como estabelecer negociações construtivas, explorar as potencialidades de uma rodada de negócios e se precaver de eventuais ameaças? Como, na prática, “fechar” uma operação cambial decorrente de um contrato assinado? Quadros especializados nessas temáticas são raros no mercado de trabalho do País.

Nesse sentido, a academia brasileira, ao oferecer cursos como o de Especialização em Negócios e Operações Internacionais, oferecido pela Pró-reitoria de Pós-graduação da Unesp, com apoio do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI), do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (Ippri), ambos da Unesp, e da Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas, ministrada em conjunto por Unesp, Unicamp e PUC-SP, deve incentivar a formação de pessoal especializado, que possa atuar com maior desenvoltura nos assuntos pertinentes aos negócios, às negociações e às operações internacionais. Afinal, formar profissionais qualificados é uma forma de contribuir com o desenvolvimento do Brasil.

 

 

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