* Jornalista, é assessor de imprensa do Grupo Fiorde, constituído pelas empresas Fiorde Logística Internacional, FTA Transportes e Armazéns Gerais e Barter Comércio Internacional (trading company).
A previsão da Maersk, uma das maiores empresas de logística do Brasil, de que, ainda em 2021, haverá um aumento de 5% no volume das operações em cargas conteinerizadas chegou num momento em que o pessimismo começava a tomar conta do setor, diante da expectativa de que a participação do Brasil possa vir a cair abaixo de 1% na corrente de comércio mundial. Como se sabe, no último relatório da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2019, o Brasil respondeu por apenas 1,2% das exportações, ocupando a 27ª posição global, e 1% das importa ções, o que o deixou na 28ª posição.
De acordo com a armadora, desde julho de 2020, as exportações e as importações têm apresentado forte desempenho, apesar das dificuldades provocadas pelos efeitos da pandemia de coronavírus (covid-19). Segundo o estudo, no primeiro trimestre de 2021, o volume de importações e exportações cresceu 9% em comparação com o mesmo período de 2020. Com certeza, esse resultado foi obtido em função do crescimento registrado em alguns segmentos, como o agropecuário, o de sucatas ferrosas e o de minério de ferro.
Conforme o relatório da Maersk, as importações chegaram a 11% no primeiro trimestre de 2021, com destaque para maquinários e aparelhos eletrônicos, têxtil e couro e bens de consumo. Já as exportações, em comparação com o mesmo trimestre de 2020, aumentaram 6%, em consequência de uma safra alta e do crescimento do mercado brasileiro, especialmente nos segmentos de algodão, açúcar, café, carne suína e carne bovina.
Esses números, porém, ainda devem ser vistos com prudência, pois, no ano passado, a pandemia de coronavírus causou um impacto no Brasil acima da média mundial, tendo a corrente de comércio recuado 8,2%, segundo levantamento da OMC, enquanto o encolhimento no planeta foi de 7,6%. De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a retração na corrente de comércio brasileira, em 2020, resultou da queda de 7% na exportação e de 10% na importação.
Para 2021, a OMC prevê uma queda entre 13% e 32% no volume do comércio global, garantindo que será mais acentuada do que aquela registrada durante a crise financeira de 2008 e 2009. No ano passado, entre os membros do G20, grupo formado pelos ministros de Finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia, a corrente de comércio diminuiu 8% em relação a 2019.
Aliás, só a China registrou crescimento na corrente de comércio em 2020, com evolução de 4% nas exportações e de 1% nas importações. Com isso, chegou a uma corrente de comércio de US$ 4,6 trilhões, aumentando a sua participação no comércio global de 12% para 13%, o que lhe garantiu a liderança no ranking, à frente de Estados Unidos, Alemanha e Japão.
Para melhorar a posição do País no ranking mundial, está claro que ao governo brasileiro não resta outra saída que não seja avançar nas reformas estruturais, principalmente na questão tributária, e eliminar os gargalos que elevam o custo Brasil, conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas, trabalhistas e econômicas que atrapalham o crescimento, influenciam negativamente o ambiente de negócios, encarecem os preços dos produtos nacionais e os custos de logística, comprometem investimentos e contribuem para uma excessiva carga tributária.
Para tanto, são necessárias medidas que promovam desburocratização, redução de tarifas, melhoria do financiamento e o fechamento de acordos comerciais para a redução de barreiras aos produtos brasileiros no exterior. Segundo cálculos da CNI, o custo Brasil retira cerca de R$ 1,5 trilhão por ano das empresas instaladas no País, representando 20,5% do produto interno bruto (PIB).
Obviamente, se aqueles países que ocupam os primeiros lugares no ranking da OMC se recuperarem, o comércio exterior brasileiro deverá crescer. Mas não há dúvida de que essa recuperação deverá ser mais lenta e que muitos países poderão adotar medidas mais protecionistas, o que deverá dificultar a assinatura de novos acordos, inclusive aquele previsto entre o Mercosul e a União Europeia. Portanto, o risco de a participação do Brasil na corrente de comércio mundial cair para baixo de 1% ainda é alto.