* Consultor sindical e analista político
Não posso deixar de comentar a conjuntura política das duas últimas semanas, concomitante à greve dos petroleiros.
Embora a maioria dos analistas venha falando em militarização do governo, com cerco a Bolsonaro, acredito que as iniciativas dele visam dar mais funcionalidade a seu governo, inclusive na relação com o Congresso e às futuras eleições.
Na geringonça governamental houve um aperto de parafusos na engrenagem para diminuir os solavancos, o que não quer dizer nem mais militarização, nem mais repressão (o que não tem ocorrido na greve dos petroleiros).
A única jornalista política que explicitou esta análise foi Maria Cristina Fernandes, do Valor, ao associar a dança funcional dos militares ao entronizamento de Rogério Marinho para conduzir as políticas sociais do governo.
Bolsonaro pretende, com o voo de galinha em curso, operar até outubro para obter nas eleições municipais resultados vantajosos a ele, independentemente de tal ou qual partido político de que estimule, apoie ou faça campanha de tal ou qual candidato.
Quanto à sua relação com os dirigentes do movimento sindical persiste a linha “Johnnie Walker com Activia”, ou seja, de profundo desprezo (Bolsonaro nem respondeu à carta enviada a ele pela FNP).
Este desprezo é também a resposta às últimas iniciativas das direções sindicais que se revelaram muito fracas, ainda que unitárias, seja no dia 4 (manifestação na Fiesp), seja no dia 14 (manifestações nos postos do INSS).
O fantasma do GAET (Grupo Assumido de Entraves Trabalhistas) se desvaneceu com o abandono desta tarefa por Rogério Marinho e com o anúncio, em voz baixa, do término dos trabalhos dos quatro grupos da equipe responsável pelas formulações, que nem foi escutado.
Enquanto isso a greve dos petroleiros, conduzida pela FUP e pela FNP, se mantém, sustentada por pelo menos um terço dos empregados da empresa e de suas subsidiárias, sem que a produção ainda tenha sido afetada (devido à continuidade do trabalho exaustivo de turmas que não se revezam, de fura greves e de contratados para a emergência) e sem que tenha havido, até hoje, repressão direta.
Para hoje, também, está previsto o julgamento da greve no TST depois das determinações abusivas do ministro Gandra Filho.
O julgamento pode ser importante para os petroleiros e para a empresa e sinalizar algo a mais a ser considerado na conjuntura, além das manobras para “adensar o entorno” do presidente e lhe facilitar as tarefas eleitorais.