* Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Conselho de Administração do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)
O grande mérito da rodovia federal BR-282 é a integração territorial de leste a oeste de Santa Catarina. É a principal rodovia transversal sulbrasileira, ligando Florianópolis ao município de Paraíso, na fronteira com a República Argentina. O grande público desconhece que entre Florianópolis e São José, a BR recebe o nome de "Via Expressa". Confunde-se com a BR-101 no trecho entre São José e Palhoça, ponto no qual separa-se para seguir em direção ao oeste, atravessa a região da Grande Florianópolis vencendo a Serra Geral, corta o planalto sul, meio-oeste, oeste e extremo-oeste até atingir a fronteira Brasil-Argentina.
A última informação estatística disponível revela que, entre as rodovias federais que cortam Santa Catarina, a BR-282 foi a que teve mais acidentes fatais em 2018, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal: uma pessoa morreu a cada 82 horas na BR-282. O número é superior ao registrado na BR-101. Essa periculosidade decorre de fatores estruturais (pista simples, subidas, descidas e muitas curvas) e fatores humanos (má formação técnica e cívica dos condutores despreparados e imprudentes).
Na condição de espinha dorsal do sistema rodoviário catarinense, a BR-282 é essencial para o escoamento da vasta produção agroindustrial do Oeste de Santa Catarina aos portos e aos grandes centros brasileiros de consumo. Por ela transitam milhões de dólares em produtos exportáveis que asseguram as divisas das quais o país precisa para sustentar seu desenvolvimento. Na verdade, é o único caminho para escoar as riquezas exportáveis do grande oeste.
Hodiernamente, a BR-282 ostenta infraestrutura incapaz de comportar o número de veículos que trafega diariamente pelo trecho. Concebida como um ícone para integração política, econômica e cultural, mas não previa crescimento tão intenso no transporte de produtos para exportação, o que representa milhões de dólares circulando pelas estradas. Somente a produção agroindustrial soma milhares de toneladas de produtos na linha de carnes, grãos e lácteos transportados todo mês. Sete em cada dez toneladas de carne suína e de aves exportadas pelo Brasil saem do Oeste catarinense.
Não há cálculo direto sobre os prejuízos que essa situação representa, mas estudos do Instituto de Pesquisas Rodoviárias e do DNIT informam que o mau estado de conservação da rede viária resulta no acréscimo do consumo de combustíveis em até 58%, no aumento no custo operacional dos veículos em até 40%, na elevação do índice de acidente em até 50% e no acréscimo no tempo de viagem até 100%. Estudos apontam que para cada US$ 1 dólar não investido em conservação e manutenção de uma rodovia serão necessários US$ 2,50 para restauração.
Não há dúvidas de que a rodovia está com sua capacidade esgotada. Chegamos a um estágio em que a reparação não resolve mais. A solução seria a duplicação da rodovia federal, entretanto, em face do grave desequilíbrio fiscal e da crônica insuficiência de recursos, esse objetivo torna-se irreal. A construção de terceiras pistas apresenta-se mais viável. Obras nessa direção iniciaram lentamente no Grande Oeste, com poucos recursos e algumas interrupções. Nessa fase, requer-se vontade política de todos os membros da bancada parlamentar catarinense no Congresso, do Governo do Estado e demais agentes políticos para assegurar os recursos necessários e a conclusão das obras em 2020.
A 282 representa uma questão emergencial, mas é necessário pensar de forma sistêmica, no corredor rodoviário que inclui as BRs 163, 282 e 470, do extremo-oeste com alternativa para acesso aos portos de Itajaí, São Francisco e Itapoá. As BRs 282 e 470 sozinhas concentram cerca de 80% do volume de carnes destinadas aos portos.
Investir na melhoria, ampliação e eficiência da malha rodoviária barriga-verde – com atenção especial para a BR-282 – deve ser prioridade da sociedade catarinense.