Melina Alves*
Smart Cities, ou Cidades Inteligentes, embora seja um termo que temos ouvido com frequência, não é exatamente uma novidade. Hoje, esse modelo urbano é visto como um caminho para o desenvolvimento das cidades através de soluções criativas que tornam a utilização dos recursos disponíveis mais eficiente, reduzindo ao máximo a pegada do homem no meio ambiente. Se levarmos em consideração as necessidades sociais, culturais, de segurança e o avanço tecnológico através das civilizações ao longo dos séculos, podemos facilmente classificar outros experimentos urbanos como inteligentes.
Machu Picchu, por exemplo. Ainda que haja controvérsias quanto sua função, se era religiosa ou administrativa (ou ambas), são inegáveis certos aspectos de sua concepção urbanística no que tange a inteligência de sua estrutura. A ‘Cidade Perdida dos Incas’ foi concebida de uma forma que se adaptasse às condições que a cercava sem a pretensão de moldar o meio ambiente às suas necessidades urbanas. Para citar um exemplo, os incas usaram as pedras do próprio local, cortando-as para se encaixarem milimetricamente umas nas outras, dispensando o uso da argamassa, e as colocando em uma inclinação que desse às paredes e muros a possibilidade de balançarem sem desmoronar durante abalos sísmicos, tão frequentes na região. O sistema de distribuição de água é igualmente engenhoso: estreitos canais passam por todas as construções e “praças” da cidade, estabelecendo um curso hídrico coletivo que se origina da chuva.
Como Machu Picchu, há outras cidades inteligentes que estão por aí há muito tempo. Se hoje são Smart Cities com conceitos que a princípio parecem ser uma novidade, trata-se das mesmas ideias adaptadas aos novos tempos. Uma espécie de mudança de mindset urbano. Mas o que é, afinal, uma cidade inteligente? Em resumo, são complexos urbanos essencialmente colaborativos, nos quais a tecnologia é utilizada em prol dessa colaboração, integrando sistemas para aumentar a eficiência dos serviços prestados à comunidade, que facilitam a gestão participativa e a própria comunicação social.
A edição do IESE Cities in Motion Index de 2019 analisou 174 cidades de 80 países para compor o ranking das cidades mais inteligentes do mundo. E não houve surpresas: entre as 10 primeiras, são sete europeias, duas asiáticas e uma norte americana. Das cidades brasileiras que entraram na análise, o Rio de Janeiro foi a melhor colocada, com a humilde 128ª posição. Nota-se que há algo em comum entre as cidades melhores ranqueadas: todas possuem um sistema escolar sólido e uma população com ótimo nível educacional. Afinal, com a educação, as possibilidades de melhor se usar a inteligência são muito maiores.
Mas o que mede essa inteligência? É comum ouvirmos termos como ‘pilares’ das Smart Cities ou suas camadas básicas, mas é importante frisar, novamente, que não importa se vamos considerar como unidade de aferição: o importante é sempre considerarmos a educação como alicerce seguro e perene para o estabelecimento de qualquer avanço urbano no que diz respeito aos aspectos físicos, humanos e ambientais de qualquer cidade. É obrigação de todos, sociedade, iniciativa privada e setor público, lutar pela melhora de nossa educação. E isso certamente irá exigir um esforço muito maior que a construção de uma cidade que se conecta por aplicativos e tem um sistema de transporte ecológico. Porque educar leva tempo e dá muito mais trabalho.
* CEO e fundadora da DUXcoworkers, Melina Alves é especialista em usabilidade e arquitetura da informação e está entre as 40 mulheres líderes de UX mais lembradas do país. A executiva é pós-graduada em Tecnologia da Informação pela Faculdade Impacta de Tecnologia e em Administração Empreendedora pela FGV.