Willian Soares*
A transformação digital no setor de saúde envolve diferentes tendências, que surgem com o objetivo de ampliar os benefícios aos pacientes e prestadores de serviços no segmento. Teleassistência, uso de aplicativos de engajamento do paciente, aplicação da inteligência artificial nos processos de assistência e análises avançadas de dados com tecnologias de big data têm sido alvo de investimentos recentes como forma de racionalizar custos e melhorar os serviços.
Todas as aplicações já implantadas geram uma grande quantidade de dados valiosos. Garantir a disponibilidade e a segurança deles é uma premissa básica e atual, mas para que a tecnologia possa de fato evoluir nesse setor, é necessário dar um passo além, integrando todo o fluxo de informações relacionadas à saúde.
Hoje, a fragmentação de dados como prontuários e receitas é um dos principais problemas enfrentados por diferentes agentes de saúde e resolvê-lo envolve a aplicação de tecnologias capazes de "conversar" com os sistemas atuais para centralizá-las em um único repositório de dados e torná-los disponíveis para melhorar a assistência e otimizar os recursos.
Nesse sentido, um projeto desenvolvido em nossa vizinha Colômbia salta aos olhos em questão de interoperabilidade. Recentemente, a capital do país, Bogotá, implantou um projeto para integrar informações de pacientes em 22 hospitais públicos da região. A solução empregada é baseada em FHIR (Fast Healthcare Interoperability Resources), o último padrão de interoperabilidade desenvolvido e promovido pela organização internacional HL7 (Health Level Seven), empresa responsável por alguns dos protocolos de comunicação mais utilizados na área da saúde.
A partir desta iniciativa, os profissionais da assistência obtém respostas rápidas e precisas que os apoiam nos processos de tomadas de decisão clínicas, além de outras ferramentas que auxiliam em projetos de pesquisa clínica e trabalhos científicos.
A integração dos processos de gerenciamento de consultas e prescrição eletrônica também traz benefícios importantes: permite aos cidadãos acompanhar seus compromissos através de um portal e melhorar o controle da demanda de agendamentos. Além disso, gerencia todo o processo das receitas médicas, acelerando o acesso dos pacientes aos medicamentos e reduzindo o deslocamento dos pacientes com doenças crônicas.
O acesso em tempo real as informações de relatórios médicos, laudos, testes, medicamentos, antecedentes ou alergias apoia muito a tomada de decisões e os cuidados em relação à saúde, além de fornecer uma visão completa da história do paciente. Com isso, é possível melhorar a assistência prestada, aumentar a produtividade e diminuir os procedimentos administrativos e burocráticos envolvidos em toda a cadeia.
Esses são os benefícios obtidos em uma das maiores cidades da América Latina e, com base nisso, não é difícil imaginar o que outras grandes metrópoles podem ganhar com o emprego de tecnologias avançadas que facilitem o uso dos dados de maneira integrada.
É claro que o cenário brasileiro traz muitos desafios. Hoje, questões simples como atendimento, profissionais qualificados e acesso a sistemas eficientes carecem de atenção, mas é fundamental olhar para o futuro e entender que é um cenário possível, ainda que em longo prazo.
Com o envelhecimento da população e a concentração cada vez maior de pessoas nos grandes centros urbanos, investir em saúde tem de ser algo ainda mais prioritário para os próximos anos. O avanço das tecnologias disruptivas e das health techs com certeza contribuirá para a melhora desse cenário.
As demandas cada vez mais se intensificam para que as instituições trabalhem com modelos de assistência integrada que incluem além do tratamento, a prevenção e o bem-estar e para isso, mais do que nunca o uso dos dados, a história completa dos pacientes se tornam ativos cada vez mais valiosos. Há um caminho possível para isso: integração das informações, em todos os agentes e sistemas de toda a cadeia.
Concluindo, é mandatório planejar e investir cada vez mais em tecnologias, integração e análise de dados para melhorar a assistência ao paciente e fazer as instituições de saúde cada vez mais eficientes.
* Gerente de Saúde da Minsait no Brasil