Rogério Aparecido Machado*
Nesta semana, São Paulo e outras cidades do país experimentaram algumas horas de escuridão entre o meio e o final da tarde. Próximo das 15h, a tarde virou noite algo como se tivéssemos apertado o interruptor e desligado o Sol.
Podemos dizer, sem sombra de dúvida, que o ocorrido foi um aterrador aviso sobre o quanto pode piorar a qualidade de vida dos seres vivos no mundo. Quando o céu ficou negro, pensou-se que poderia ser chuva pesada, mas eram nuvens que carregavam fuligem do norte do país.
A combinação atípica pode ser explicada como um fenômeno, derivado da junção da chegada de uma frente fria, nuvens baixas carregadas e a presença da névoa seca, somando-se, a isso a quantidade de material queimado e sua dissipação é difícil, principalmente quando encontra umidade e frio, ocorridas nas regiões Centro-Oeste e Norte, entre Paraguai e Mato Grosso, abrangendo trechos da Bolívia, Mato Grosso do Sul e Rondônia.
O preço é a devastação das áreas queimadas que já não estão conseguindo repor o que foi queimado de forma natural, na velocidade em que está o processo de destruição; ou seja, estamos chegando ao ponto em que a possibilidade de voltar ao que era pode ser muito difícil de ser alcançado. Estamos correndo o risco de todo o ciclo de chuvas e umidade do continente ser alterado em pouquíssimos anos e em decorrência disto, infelizmente, a modificação pode se tornar mundial com as imprevisíveis consequências que uma mudança desta magnitude pode acarretar no clima e para as pessoas.
Outra preocupação também é a saúde. O número mundial de óbitos em decorrência da poluição do ar já chega a cifra de 7 milhões, segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde. Este material particulado, quando inalado, pode acarretar problemas respiratórios desde um simples resfriado até uma complicação grave nos brônquios, principalmente para pessoas debilitadas.
Estamos presenciando a contínua destruição do hoje e iniciando o precoce fim do amanhã. Isto se nada de sério e organizado for feito para impedir a destruição da floresta, que é referência mundial em biodiversidade, a consequência é um risco maior para a humanidade.
* É doutor em Saúde Pública e Meio Ambiente pela Universidade de São Paulo e professor de Química da Universidade Presbiteriana Mackenzie.